Política

Em cinco meses, Temer perdeu quatro auxiliares por denúncias de corrupção

Sandro Mabel e Tadeu Filippelli deixaram o Planalto na terça-feira 23 e se unem aos ex-assessores José Yunes e Rodrigo Rocha Loures

Isolamento aumenta: quatro assessores próximos a Temer caíram em cinco meses
Apoie Siga-nos no

Em apenas cinco meses, os mais recentes escândalos de corrupção causaram a baixa de quatro dos homens mais próximos ao presidente Michel Temer. São auxiliares que atuavam prioritariamente nos bastidores, ao contrário de outras figuras públicas, como Geddel Vieira Lima, derrubado após ser acusado de pressionar ex-ministro da Cultura por interesse pessoal.

Apenas nesta semana, a turma dos gabinetes do 3ª andar do Palácio do Planalto, o mesmo de Temer, sofreu duas baixas em 24 horas. A mais recente é a do empresário e ex-deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), importante articulador do presidente no Congresso Nacional. Ele entregou sua carta de demissão na noite de terça-feira 23.

No mesmo dia, Tadeu Filippelli (PMDB-DF), assessor especial do presidente, foi preso Operação Panatenaico junto com os ex-governadores do Distrito Federal José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT).

O deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) se tornou o “homem da mala” e o advogado José Yunes (PMDB-SP) deixou a assessoria especial da presidência em dezembro de 2016 após as delações do ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho.

Yunes.jpeg José Yunes, amigo de Temer, foi o primeiro a cair. (Bruno Poletti/Folhapress)José Yunes

Amigo íntimo de Temer, José Yunes foi o primeiro a cair. O então assessor especial da Presidência entregou sua carta de demissão em 10 de dezembro de 2016 após as delações do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho.

De acordo com Melo Filho, parte dos 10 milhões de reais repassados durante a campanha de 2014 ao PMDB teriam sido pagos em espécie no escritório de Yunes em um bairro nobre da capital paulista.

À época, o delator afirmou ainda que o pedido dos 10 milhões de reais teria sido feito pelo hoje ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, durante reunião realizada em maio de 2014 no Palácio do Jaburu, residência oficial do então vice-presidente Michel Temer.

Num primeiro momento Yunes negou tudo, mas em fevereiro de 2017 resolveu falar e afirmou ter sido “mula involuntário do Padilha”, segundo o que afirmou à revista Veja, que confirmou sua versão à publicação e também ao jornal Folha de S.Paulo. “Não teria problema nenhum ele [Padilha] reconhecer que ligou para mim para entregar um documento, o que é verdade. Vamos ver o que ele vai falar. Estou louco para saber o que ele vai falar. Ele é uma boa figura. Mas, nesse caso, fiquei meio frustrado. Não sei. É tão simplório. É estranho, não é?”, disse Yunes à revista.

Em seu depoimento, Yunes trouxe um elemento novo ao caso contra Temer e Padilha. Segundo o advogado, o mensageiro da Obebrecht era o doleiro Lucio Bolonha Funaro, que teria mencionado, em rápida conversa, financiamento a 140 deputados para “fazer o Eduardo presidente da Casa”.

Eduardo era Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deputado federal cassado que de fato foi eleito presidente da Câmara, cargo por meio do qual liderou o impeachment contra Dilma Rousseff (PT). Lucio Funaro é apontado pelo Ministério Público Federal como operador de Cunha e, assim como o ex-deputado, está preso no âmbito da Operação Lava Jato.

O pacote, afirmou Yunes, foi retirado mais tarde por uma pessoa que ele não teria identificado. A encomenda teria sido levada ao ex-ministro Geddel Vieira Lima.

Rodrigo Rocha Loures

Agora conhecido como ” o homem da mala”, Loures é muito próximo de Temer. Em janeiro de 2015 foi nomeado chefe da Assessoria Parlamentar da Vice-Presidência da República, então ocupada por Michel Temer. Três meses depois passou à chefia de gabinete da Secretaria de Relações Institucionais, acumulada por Temer junto com a vice-presidência.

Mas antes disso, em julho de 2014, Michel Temer gravou um vídeo para a campanha de Rocha Loures à Câmara dos Deputados, dizendo que ele o “ajudou enormemente” e qualificando-o como “belíssima figura da vida pública brasileira”. “Aliás, ele, aqui [no gabinete da vice-presidência], operava não só auxiliando a mim no Brasil todo, mas basicamente como uma espécie de embaixador do Paraná”.

Em setembro do ano passado, com Temer já no comando do Palácio do Planalto, Loures voltou à cena para trabalhar diretamente com o presidente ao ser nomeado assessor especial do Gabinete Pessoal da Presidência.

Com a nomeação de Osmar Serraglio para o Ministério da Justiça, Rocha Loures voltou à Câmara dos Deputados em março deste ano. Ele foi eleito suplente em 2014, mas já havia sido deputado federal entre 2007 e 2011. Nas eleições de 2010, foi candidato a vice-governador do Paraná.

No dia 17 de maio, quando foi revelada a gravação que o dono da JBS, Joesley Batista, fez de conversa com Michel Temer, veio à tona também a participação de Loures no esquema e o deputado foi filmado recebendo uma mala com 500 mil reais enviados por Joesley. Na manhã do dia 18 Loures foi afastado da Câmara dos Deputados.

Tadeu Filippelli Tadeu_Filippelli.jpg Tadeu Filippelli foi preso na terça-feira 23 e exonerado do Palácio do Planalto (José Cruz/Agência Brasil)

Filiado ao PMDB, Filippelli foi deputado distrital (1995 a 1998), deputado federal (1999 a 2007) e vice-governador do DF entre 2011 e 2015, eleito na mesma chapa do petista Agnelo Queiroz

Em julho de 2015, Fillipelli foi nomeado chefe de gabinete da Secretaria de Relações Institucionais, então sob o comando de Temer, que acumulava o cargo com a vice-presidência. Em setembro de 2016, já com Temer como presidente, ele foi nomeado assessor especial do gabinete pessoal de Temer e atualmente despacha no terceiro andar do Palácio do Planalto, o mesmo de Temer, sendo responsável pela interlocução entre o Congresso e empresários.

Fillipelli e Temer foram “estrelas” da Operação Caixa de Pandora, deflagrada em 2009. Gravados em vídeo, o ex-secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal Durval Barbosa e o empresário Alcir Collaço, dono do jornal Tribuna do Brasil, conversavam sobre o pagamento de propina a políticos de alto do escalão do PMDB. Entre eles estavam os então deputados Filippelli, Michel Temer, Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves.

Fillipelli foi preso pela Operação Panatenaico para não atrapalhar as investigações sobre o suposto pagamento de propina e superfaturamento na construção do Mané Garrincha. A operação se baseou nas delações premiadas dos executivos da Andrade Gutierrez à Lava Jato.

Segundo os delatores, Filippelli teria sido um dos beneficiados pelo esquema de corrupção que desviou dinheiro da reforma da arena de Brasília.

Construído para a Copa do Mundo de 2014, o estádio foi orçado, inicialmente, em R$ 600 milhões. No fim das contas, a obra acabou custando R$ 1,7 bilhão. Segundo os investigadores, o superfaturamento nas obras pode ter chegado a R$ 900 milhões.

Sandro Mabel.jpg Mabel foi o último a deixar a assessoria de Temer. Pediu demissão alegando que queria sair do governo desde dezembro. (Flickr Commons)Sandro Mabel

Sandro Mabel fecha o quarteto. O ex-deputado pediu demissão na noite desta terça-feira 23, fazendo com que Temer perdesse dois assessores em menos de 24 horas. Ele era um dos assessores que despachavam do terceiro andar do Palácio do Planalto  mesmo pavimento do gabinete presidencial  e ajudavam o governo na interlocução com o Congresso Nacional e com empresários.

Mabel é investigado pelo Ministério Público Federal por suspeita de ter recebido caixa 2 da construtora Odebrecht. Na carta de demissão entregue a Temer ele agradeceu por ter passado dois anos participando das decisões do governo e lembrou que trabalhava como colaborador, sem remuneração, e que tinha pedido para se afastar do cargo algumas vezes para se dedicar à família. 

Há suspeitas de que Mabel era um dos interlocutores do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) junto ao governo, principalmente, durante o processo de cassação do ex-presidente da Câmara. O agora ex-assessor de Temer nega.

O procurador da República Helio Telho informou ao blog de Andreia Sadi, no portal G1, que o Ministério Público de Goiás requisitou na semana passada a instauração de um inquérito policial para apurar supostos pagamentos ilícitos feitos, em 2010, por ex-executivos da construtora Odebrecht ao então deputado federal Sandro Mabel. 

O MPF informa que os ex-executivos da construtora João Antônio Pacífico Ferreira e Ricardo Roth Ferraz de Oliveira relataram pagamentos feitos, a pretexto de doação de campanha, a Mabel que, na ocasião, era candidato a deputado federal.

O valor seria de R$ 100 mil, pagos por meio de recursos não contabilizados, mas registrados no sistema “Drousys”, usado para contabilizar pagamentos em propina da empreiteira. Para o procurador Helio Telho, responsável pelo caso, os fatos indicam suposta prática de corrupção.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.