Política

A difícil situação do PT na corrida eleitoral de 2016

O partido sofre com a debandada de candidatos e o isolamento político

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Admitido por seus quadros, o enfraquecimento do Partido dos Trabalhadores nas eleições municipais de 2016 pode ser atestado antes mesmo da abertura das urnas no domingo 2.

Abalado por sucessivas operações da Lava Jato e pelo impeachment de Dilma Rousseff, a legenda sofreu uma debandada de seus quadros na disputa deste ano. Um em cada cinco prefeitos eleitos pelo partido em 2012 pediu desfiliação ou foi expulso.

Em São Paulo, 35 dos 73 prefeitos petistas migraram para outras legendas, entre eles Jorge Lapas, de Osasco, município da região metropolitana de São Paulo com mais de 500 mil habitantes.

O atual chefe do Executivo municipal deixou o partido rumo ao PDT, após mencionar o delicado momento nacional vivido pela legenda e a desunião dos quadros locais.

A sigla lançou a candidatura do deputado federal Valmir Prascidelli, vice de Lapas entre 2013 e 2015. Pela primeira vez em 24 anos, o PT não é um dos favoritos para assumir o município paulista.

Em 2012, a legenda conquistou 628 prefeituras, um aumento de 14% na comparação com 2008. Elegeu quatro prefeitos nas 27 capitais e mais de 5 mil vereadores, em um universo de 42,6 mil candidatos às Câmaras Municipais.

Neste ano, a diminuição no número de concorrentes do partido antecipa a queda nas urnas: são apenas 24,2 mil petistas concorrentes a vagas no Legislativo e no Executivo, uma diminuição de quase 45%.

O esforço de alguns candidatos, entre eles Fernando Haddad, postulante à reeleição em São Paulo, de omitir de suas peças publicitárias a estrela do partido indica o peso negativo da sigla sobre seus integrantes.

No Nordeste, outrora símbolo da força da legenda, candidatos do PT têm poucas chances nos principais centros. O representante mais bem posicionado em uma capital na região é João Paulo, que disputa a dianteira com Geraldo Julio, do PSB, na corrida pela prefeitura do Recife.

Nas capitais do Sudeste, as coligações das quais o partido faz parte têm chances reduzidas de chegar ao segundo turno. No Sul, Raul Pont, empatado em segundo lugar nas pesquisas para a prefeitura de Porto Alegre, desponta como o petista mais bem posicionado nas capitais da região.

Um dos dados que mais chamam a atenção é o isolamento do PT nesta disputa. Entre as principais legendas, o partido tem grande número de candidatos não coligados: 22,7% dos postulantes às prefeituras concorrem de forma isolada. A título de comparação, apenas 6,5% dos aspirantes do PMDB não recebem apoio de outras siglas.

Segundo Romênio Pereira, secretário-geral nacional do PT, o isolamento está relacionado a uma busca do partido por recuperar sua história. “Temos de construir uma base que esteja conosco na alegria e na tristeza”, defende. “Muita gente virou as costas e nos traiu.”

Naturalmente, o impeachment de Dilma tem impacto sobre o isolamento, embora coligações entre o PMDB e o PT sigam como as mais frequentes no cenário nacional. Rompidas no plano federal, as legendas estão juntas em 648 candidaturas de candidatos pemedebistas.

O número é inferior ao das eleições de 2012, quando o PT apoiou 811 candidatos do partido de Michel Temer, número superior ao total de coligações integradas pela legenda progressista no pleito deste ano: 768.

Nas capitais, o divórcio entre PMDB e PT é mais evidente. As legendas estão juntas apenas na disputa à prefeitura de Aracaju, em Sergipe, em apoio a Edvaldo Nogueira, do PCdoB.

Segundo o cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC, municípios menores tendem a ser menos influenciados pelo crivo partidário e mais pelas relações pessoais entre os candidatos. “Quando há um mercado muito restrito, a possibilidade de angariar apoio é mais relevante do que as diferenças ideológicas.”

As relações pessoais em cidades menores revelam coligações heterodoxas. Em Lorena, no interior de São Paulo, o PT integra a chapa de Fabio Marcondes, do PSDB, ao lado do Democratas e do PMDB.

Na Paraíba, a direção nacional do partido chegou a entrar na Justiça para vetar uma coligação com o DEM no município de São Bento. A executiva estadual do partido havia, inclusive, proibido alianças com oito partidos que apoiaram o impeachment, mas a Direção Nacional pediu a revisão da medida. O PT paraibano optou por avaliar as coligações caso a caso.

Na resolução para as eleições de 2016, publicada em maio, o PT vetou o apoio a candidatos favoráveis ao impeachment, mas deixou em aberto as parcerias com partidos como o PMDB e o PSD.

Segundo o secretário-geral, a legenda estabeleceu apenas que não apoiaria siglas favoráveis à candidatura de Aécio Neves em 2014, entre elas o PSDB e o DEM. “Há exemplos de peemedebistas que foram contra o impeachment, como Roberto Requião e Kátia Abreu. Estamos em um processo de construção de uma frente democrática popular, temos de olhar para o futuro e deixar uma porta aberta.”

Pereira garante, porém, que diretórios municipais coligados com candidatos favoráveis ao impeachment ou partidos do campo conservador serão punidos.

O isolamento petista não se resume ao baixo número de coligações com as principais legendas. Em sete capitais, entre elas Curitiba e Fortaleza, o PT apresentou candidatos sem apoio de outros partidos.

Coincidência ou não, o PSOL tem representantes na disputa às prefeituras nas mesmas cidades. A desunião entre os partidos tem dividido o voto da esquerda, especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde as legendas apoiam candidaturas distintas.

Em algumas cidades, o segundo turno pode ser a oportunidade para as siglas se aproximarem. Resta saber se os candidatos do campo progressista conseguirão os votos necessários para contornar a sangria do PT, cujos impactos não se resumem apenas ao partido, mas a toda a esquerda

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