Política
Motta e Alcolumbre vencem e confirmam o Centrão no comando do Congresso. O que muda para Lula?
O deputado e o senador triunfaram com facilidade neste sábado 1º devido a uma ampla aliança, da esquerda à extrema-direita


Em votações que se converteram em mera formalidade, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) e o senador Davi Alcolumbre (União-AP) se tornaram neste sábado 1º, respectivamente, presidentes da Câmara e do Senado. Apoiados pelos ex-chefes de ambas as casas, eles eram os grandes favoritos.
Agora, o até então todo-poderoso Arthur Lira (PP-AL) e o fiel da balança Rodrigo Pacheco (PSD-MG) voltam ao ‘chão de fábrica’ do Congresso Nacional e aguardam um convite do presidente Lula (PT) para integrar o governo.
Motta e Alcolumbre construíram alianças que foram do PT ao PL e garantiram uma ampla vantagem. Na Câmara, a principal dúvida era se Motta superaria o recorde estabelecido por Lira na disputa de 2023, com 464 votos dos 513 possíveis. O novo presidente, porém, não conseguiu: recebeu 444 votos.
Já no Senado, Alcolumbre amealhou 73 dos 81 votos possíveis, 24 a mais do que Pacheco recebeu em sua reeleição.
Na corrida de dois anos atrás, o PL lançou Rogério Marinho (RN) e conquistou 32 votos, mas ficou sem qualquer cargo relevante no comando da Casa. A sigla de Jair Bolsonaro resolveu não insistir no erro e se aliou rapidamente a Alcolumbre.
O que pode mudar para Lula na Câmara?
As vitórias de Motta e Alcolumbre mantêm o chamado Centrão no controle do Congresso. Para Lula, isso significa uma relação previsível com o Senado, mas a manutenção de incertezas na Câmara.
Arthur Lira— que vestiu literalmente a camisa de Bolsonaro em 2022 — pressionou o governo por mais poder e emendas. O Planalto conseguiu aprovar projetos importantes, como o arcabouço fiscal, a reforma tributária e o pacote de corte de gastos, mas o custo para Lula, tanto político quanto fiscal (via emendas), foi alto.
Motta tende a adotar um tom mais moderado, sem abrir mão da influência do Centrão. Paulo Henrique Cassimiro, doutor em Ciência Política e professor da UERJ, descreve o deputado como um presidente da Câmara de perfil “clássico”, à semelhança de Lira e de seu antecessor, Rodrigo Maia: grande capacidade de articulação interna, mas baixa popularidade fora do Congresso.
Para Cassimiro, o fator decisivo na relação da nova cúpula da Câmara com o governo será a possibilidade de o Centrão lançar um candidato — ou mais de um — à Presidência em 2026. Essa equação inclui o União Brasil, que pode apostar em Ronaldo Caiado, o Republicanos, principal avalista de Tarcísio de Freitas, e o PSD, onde desponta Ratinho Junior. Esses três partidos, contudo, já ocupam ministérios.
O cientista político não enxerga interesse do Centrão em tensionar sua relação com Lula antes de 2026, ainda que pretenda lançar um nome da direita contra o petista. “A dois anos da eleição, aproximar-se da extrema-direita teria um custo político alto. Para quê?”.
2026 e o xadrez ministerial
A eleição no Congresso ocorreu em meio a negociações para uma reforma ministerial. Gleisi Hoffmann (PT) deve assumir a Secretaria-Geral da Presidência, em um movimento mais voltado ao PT do que ao Centrão.
Lula enfrenta dilemas: ampliar o espaço de partidos infiéis nas votações, como União Brasil, Republicanos, PP e PSD, ou redistribuir forças? Vale a pena levar Pacheco para o Executivo e fortalecê-lo em Minas Gerais? E Lira, deixá-lo na Câmara ou dar-lhe um ministério?
Além de não garantirem apoio consistente, esses partidos podem ser adversários em 2026. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, já afirmou que o PT perderia se a eleição fosse hoje. Lula ironizou: “A eleição é só daqui a dois anos”. No dia seguinte, Marcos Pereira (Republicanos) cravou que o governo “está sem rumo”.
Com a proximidade de 2026, o preço do apoio partidário sobe — e não só no Centrão. O PSB já dá sinais de insatisfação. Nesse cenário de ebulição política e disputas por emendas, Lula tenta reverter a queda na popularidade em 2025 e chegar revigorado para 2026.
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