Damares Alves, eleita senadora pelo Distrito Federal, diz ter visto Jesus Cristo na goiabeira, mas, ao que parece, nos outros lugares ela só tem olhos para o demônio. Em um vídeo vazado e que viralizou na segunda-feira 10, a ex-ministra, sem se constranger com a presença de menores no recinto, faz relatos aberrantes de abusos sexuais cometidos na paraense Ilha de Marajó e supostamente levados ao seu conhecimento quando ocupava a pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos. Sem apresentar provas, Damares aspergiu as histórias durante um culto e afirmou, entre outras, que o estupro de recém-nascidos tem crescido nos últimos anos. A pregação tinha o claro objetivo de pescar votos para Bolsonaro em meio à plateia crédula. Perturbar o sono das crianças presentes foi só efeito colateral. Segundo a ministra, o presidente teria ordenado a punição dos malfeitores – “vá atrás de todos eles” – e, por esse ato de bravura, tornou-se alvo de pedófilos e estupradores (todos esquerdistas, presume-se). Um dos versículos do Salmos, que a futura senadora parece não conhecer, afirma: “Senhor, põe uma guarda à minha boca, fica de vigia à porta dos meus lábios”. Agora, o leite está derramado. Como a ministra não detalhou quais medidas foram tomadas pelo governo para inibir os crimes, o Prerrogativas, grupo de advogados atuante, decidiu pedir uma investigação dos relatos. Quer saber se a ex-ministra e o ex-capitão cometeram crime de prevaricação ao se omitir ante fatos gravíssimos ou se Damares recorreu a mentiras com o intuito político de “alimentar o discurso de ódio e tumultuar o processo eleitoral”. A campanha de Bolsonaro tem usado o vídeo para ligar os abusos sexuais aos “tempos” de Lula e do PT no poder.
Coação eleitoral
O Ministério Público do Trabalho contabiliza até o momento 169 denúncias de assédio eleitoral cometido por empregadores que agem para coagir, ameaçar ou prometer benefícios a funcionários em troca do apoio a determinado candidato. O maior número de casos foi registrado no Sul, aquela região na qual os moradores se acham no direito de afirmar que os nordestinos não sabem votar. São 79 denúncias, 29 no Paraná, 26 no Rio Grande do Sul e 24 em Santa Catarina. Os três estados lideram o ranking.
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