Política
Eduardo Bolsonaro se isola do Centrão enquanto depende do bloco para escapar de cassação
Deputado acumula faltas, enfrenta processo no Conselho de Ética e ataca lideranças da direita enquanto conspira contra o País


O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) vive um paradoxo. Enquanto depende do Centrão para barrar um eventual pedido de cassação no Conselho de Ética da Câmara, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem multiplicado ataques a lideranças do próprio campo conservador. O comportamento amplia o isolamento do congressista, que está nos Estados Unidos desde o início do ano e acumula faltas não justificadas nas sessões da Câmara.
A relação entre Eduardo e o Centrão se deteriorou nas últimas semanas. O deputado criticou publicamente nomes influentes como Ciro Nogueira (PP), Valdemar Costa Neto (PL) e Tereza Cristina (PP), além dos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Romeu Zema (Novo-MG). Em postagens nas redes sociais, chegou a acusar aliados do pai de “confundir seus interesses pessoais com os do Brasil” e classificou governadores de direita como “abutres”.
O tom agressivo irritou partidos do bloco que controla a maior parte do Congresso e que, paradoxalmente, podem decidir o destino dele. Eduardo é alvo de um processo no Conselho de Ética, em que o relator Marcelo Freitas (União-MG) recomendou o arquivamento de uma representação do PT. A decisão, porém, ainda depende de votação no colegiado, composto majoritariamente por deputados do Centrão.
Paralelamente, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), estuda a possibilidade de cassação por excesso de faltas, já que Eduardo permanece no exterior conspirando contra o Brasil após o fim do período máximo de licença. O PL, partido ao qual o deputado é filiado, tenta aprovar uma mudança no regimento interno para ampliar o tempo de afastamento sem remuneração, o que evitaria a perda de mandato.
Mesmo diante desse cenário, Eduardo insiste em se apresentar como herdeiro político do pai e eventual candidato à Presidência da República em 2026. Em entrevistas recentes, afirmou que pretende “levar adiante a voz da direita” na impossibilidade de Jair Bolsonaro concorrer. A postura tem ampliado a tensão com dirigentes do Centrão, que enxergam no deputado um fator de instabilidade dentro do próprio campo conservador.
Nos bastidores, líderes do bloco avaliam que Eduardo pode estar cavando a própria cova. Dependente dos votos do Centrão para se manter no cargo, o deputado vê diminuir a disposição dos antigos aliados de interceder por ele.
Mesmo na direita o nome de Eduardo Bolsonaro não é mais unanimidade de apoio. O deputado tem se reunido com o influenciador Paulo Figueiredo e supostamente se encontrado com autoridades dos EUA para impedir avanços nas negociações pelo fim do tarifaço. Ambos têm tirado fotos do lado de fora de prédios públicos de Washington, onde estariam negociando a manutenção de sanções ao Brasil.
Paulo Figueiredo e Eduardo Bolsonaro. Foto: Reprodução/Redes Sociais
A estratégia é mal vista por antigos aliados do Centrão, que já não veem no tarifaço ou nas pressões contra os ministros do Supremo Tribunal Federal um movimento inteligente. Dessa forma, Eduardo segue se isolando, tendo consigo o apoio de aproximadamente 30 deputados da extrema-direita, que, segundo ele, o acompanhariam em uma improvável debandada do PL de Valdemar Costa Neto.
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