Política
Eduardo Bolsonaro diz que imprensa zomba de sua passagem em fast food
Indicado pelo pai à embaixada do Brasil nos EUA, deputado se considera vítima de desdém de jornais por ter trabalhado em posto ‘humilde’


O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) se queixou na internet, na noite de quarta-feira 15, sobre as críticas da imprensa em relação ao seu currículo inexperiente para comandar a embaixada do Brasil nos Estados Unidos. Segundo o parlamentar, os jornais brasileiros demonstram desdém por ele ter trabalhado em uma rede de fast food no país.
Na mesma publicação, Eduardo aparece em um vídeo, gravado em 2017, em frente ao seu antigo local de trabalho, o restaurante de frangos fritos Popeyes Louisiana Kitchen. Na legenda, o deputado reclama: “Estrangeiro, 20 anos e num trabalho humilde, era respeitado nos EUA. Pagava minhas contas lá e aprimorei meu inglês sem dar gastos aos meus pais. No Brasil a imprensa me desdenha e deturpa minha fala. De fato o Brasil não é p/ amadores. Até quando comeremos merda e arrotaremos caviar?”.
Já no vídeo, Eduardo conta sobre sua passagem na atividade. “Em 2005, durante as férias na universidade, eu trabalhei neste fast food aqui nos Estados Unidos, o Popeyes. Trabalhei como caixa e atendente. Final do expediente, a gente limpava tudo, e tudo certo. O vergonhoso aqui é você não ter emprego”, diz. Ao fim das imagens, surge um conteúdo escrito: “Em 2019, com a possibilidade de Eduardo ser embaixador, jornais brasileiros zombam do fato dele ter trabalhado num fast food“.
Estrangeiro,20 anos e num trabalho humilde era respeitado nos EUA.Pagava minhas contas lá e aprimorei meu inglês sem dar gastos aos meus pais. No Brasil a imprensa me desdenha e deturpa minha fala. De fato o Brasil não é p/amadores.Até quando comeremos merda e arrotaremos caviar? pic.twitter.com/Chf164NEVt
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) July 16, 2019
Sem nunca ter chefiado uma embaixada antes, Eduardo foi indicado pelo pai, o presidente Jair Bolsonaro (PSL), ao cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos, na semana passada. O parlamentar acaba de completar 35 anos, idade mínima para ocupar o posto. Dirigir a embaixada americana não é para poucos: o ofício é considerado um dos mais estratégicos na diplomacia brasileira. Desde o governo de José Sarney, todos os nomeados ao cargo saíram do Instituto Rio Branco, o centro de formação de diplomatas do Palácio do Itamaraty, que Eduardo nunca cursou.
Em sua defesa, Eduardo Bolsonaro alega ter como qualificação profissional o fato de falar inglês e espanhol, ter feito intercâmbio nos Estados Unidos, ser graduado em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e trabalhado como escrivão da Polícia Federal. À imprensa, também chegou a dizer que fritou hambúrgueres nos EUA. Além disso, Jair Bolsonaro ressaltou que seu filho é amigo dos filhos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Em entrevista à Rádio França Internacional (RFI), o ex-embaixador do Brasil nos EUA, Rubens Ricupero, disse considerar que a nomeação de Eduardo Bolsonaro, sem carreira diplomática ou estudos de Relações Internacionais, seria um ato “sem nenhum precedente, nem na nossa história, nem na de nenhum país civilizado democrático“. Também criticou o presidente da República, por ter indicado o próprio filho à representação em Washington: “Só um monarca absoluto, como os reis árabes do Golfo, pode fazer uma coisa desse tipo. Em países modernos, eu não conheço nenhum exemplo”.
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