Política
Diretor da CIA disse ao governo brasileiro que Bolsonaro deveria parar de atacar o sistema eleitoral
Encontros de William Burns com o alto escalão do Planalto teria ocorrido em junho do ano passado, segundo a Reuters. Presidente não seguiu o conselho
O diretor da CIA ( Agência Central de Inteligência) dos Estados Unidos, William Burns, teria dito a integrantes do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) que o ex-capitão deveria parar de atacar o sistema eleitoral brasileiro antes da eleição de outubro deste ano. A informação é da agência Reuters.
O recado, de acordo com a publicação, teria sido dado ainda em 2021, durante uma reunião a portas fechadas em julho.
Em Brasília, Burns teria se encontrado primeiro com Bolsonaro, com o general Augusto Heleno e com o então chefe da Abin Alexandre Ramagem no Palácio do Planalto.
Em outra oportunidade, na residência do embaixador dos EUA no País, o diretor da CIA esteve com Heleno e com o chefe de gabinete do presidente à época, Luiz Eduardo Ramos.
Segundo a Reuters, no jantar, Heleno e Ramos tentaram descartar o significado das repetidas alegações de Bolsonaro de fraude eleitoral. Uma fonte da agência disse que a resposta de Burns foi que “o processo democrático era sagrado e que Bolsonaro não deveria estar falando dessa maneira”.
“Burns estava deixando claro que as eleições não eram um assunto com o qual eles deveriam mexer”, revelou a fonte. “Não foi uma palestra, foi uma conversa.”
No mês seguinte aos encontros, diz a Reuters, o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, externou a Bolsonaro preocupações semelhantes sobre minar a confiança nas eleições.
Os conselhos de Burns dados ao governo brasileiro, no entanto, não foram seguidos por Bolsonaro, que manteve os ataques às urnas eletrônicas e ao sistema eleitoral brasileiro ao alegar que é suscetível a fraudes.
Recentemente, o presidente voltou a flertar com o golpismo e afirmou que, neste ano, ‘com certeza’ irá implementar ‘a contagem de votos’ no Brasil.
A cruzada de Bolsonaro contra as eleições ganhou novos capítulos após as Forças Armadas enviaram 88 questionamentos ao Tribunal Superior Eleitoral sobre supostas fragilidades que, na visão dos militares, podem expor a vulnerabilidade do processo.
A maioria das perguntas tem como pano de fundo argumentos usados pelo presidente para descredibilizar a Justiça Eleitoral e a votação.
Um dos questionamentos diz respeito à existência de uma sala secreta para apuração de votos. Na pergunta, o general indaga sobre a possibilidade de uma contagem paralela feita pelas Forças Armadas. A sugestão foi dada por Bolsonaro.
Entre os demais ofícios enviados ao TSE também constam dúvidas sobre os testes de integridade das urnas eletrônicas e sobre o nível de confiança no sistema de voto e apuração. Os militares também perguntaram se o pleito poderá ser decidido por um número menor de votos do que os habitualmente registrados em eleições anteriores, caso parte das urnas eletrônicas deixem de funcionar.
Leia também
General cobra do TSE medidas em casos de irregularidades nas eleições
Por Estadão ConteúdoForças Armadas reproduzem discurso de Bolsonaro e questionam TSE sobre eleição
Por CartaCapitalTSE cede a pressão e desconvida missão europeia para acompanhar eleições
Por CartaCapitalTSE aprova plano para ampliar transparência nas eleições
Por Agência BrasilApoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.
Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.