Membros do Ministério Público de todo o País elegeram nesta terça-feira 27 a lista tríplice com os nomes que poderão substituir Rodrigo Janot como procurador-geral da República. O mandato de Janot termina em setembro, após um período de quatro anos à frente da Procuradoria-Geral da República (PGR).
O vice-procurador Eleitoral, Nicolao Dino, foi o candidato mais votado. Com 621 votos ele encabeça a lista tríplice. A segunda colocada foi Raquel Dodge (587 votos), seguida por Mário Bonsaglia (564 votos).
Dino é um forte crítico do governo de Michel Temer e apontado como o mais alinhado a Janot. Dino conciliou quase todo o tempo da disputa pela Procuradoria-Geral da República com o processo de cassação da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), quando se posicionou pela cassação da chapa. O procurador é irmão do governador do Maranhão, Flávio Dino, e deverá enfrentar resistência de senadores da ala do PMDB ligada ao ex-presidente José Sarney.
Raquel Dodge é apontada como favorita. Embora defenda que a Lava Jato precisa ser célere, não é considerada uma crítica ferrenha de Temer. Raquel conta com forte apoio de três peemedebistas: o ex-presidente José Sarney, o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (AL) e o ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio (PR). Em 2015 ela ficou em terceiro lugar na lista tríplice.
Apesar de ser a preferida de aliados do PMDB para ocupar a vaga de Rodrigo Janot, a subprocuradora Raquel Dodge não é a favorita do presidente Michel Temer. Ele teria uma ligeira preferência pelo subprocurador Mário Bonsaglia, que faz críticas pontuais à gestão de Janot. Em 2015, ficou em segundo lugar na lista tríplice.
Mas, fragilizado pelo inquérito em que é investigado por corrupção, organização criminosa e obstrução de justiça, o presidente estaria disposto a ceder à pressão dos aliados que, até aqui, têm sido essenciais para a permanência dele no cargo.
Na avaliação de interlocutores de Temer, segundo o jornal O Globo, Raquel não teria a mesma combatividade de Janot mas, para o presidente, guardaria ainda um certo grau de imprevisibilidade.
Lista tríplice
A Constituição dá ao presidente a prerrogativa de escolher um nome entre todos os integrantes do MPF com mais de 35 anos de idade. Mas, desde 2001, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) organiza uma eleição entre os membros da carreira e submete ao presidente os três nomes mais votados.
Em 2001, Fernando Henrique Cardoso ignorou a lista e reconduziu à PGR Geraldo Brindeiro. A partir de 2003, com Lula, os presidentes têm nomeado o primeiro da lista. Foi assim em 2015, quando Dilma Rousseff reconduziu Janot.
Em entrevista à Folha de S.Paulo o presidente da ANPR, José Robalinho Cavalcanti, afirmou que é importante que o indicado seja da lista, porque uma pessoa nomeada “por fora” seria vista como “usurpadora”. “A ANPR tem a posição de que os três nomes têm legitimidade. O MPF, hoje, não é administrável por alguém indicado fora da lista. Ele teria dificuldade enorme de arrumar quem o assessore”, diz.
A sinalização de Temer de que pode quebrar a tradição dos últimos 14 anos gerou expectativa em aliados de que o governo opte por alguém mais palatável, já que Planalto e Janot estão hoje de lados opostos.