Política
Dinheiro desviado da Siemens pode ter pago propinas, diz executivo
Segundo reportagem, a suspeita foi levantada por um diretor da empresa alemã durante depoimento à Polícia Federal
Em depoimento à Polícia Federal, um alto executivo da Siemens da Alemanha disse desconfiar que parte dos 7 milhões de dólares desviados pela filial brasileira tenha sido usada para pagamento de propina a agentes públicos brasileiros. A declaração foi revelada nesta quarta-feira 4 pelo jornal O Estado de S.Paulo.
Segundo a reportagem, Mark Gough, vice-chefe do setor de compliance, setor que disciplina regras internas de conduta da empresa, depôs à PF em 6 de novembro. Foi a primeira vez que a Siemens, autora da denúncia sobre o cartel no sistema metroferroviário de São Paulo e do Distrito Federal, fala em pagamento de propina. A matriz da companhia acusa o ex-presidente da Siemens no Brasil, Adilson Primo, de desviar os recursos.
No depoimento, ele forneceu detalhes sobre as investigações feitas pela Siemens. Relatou, por exemplo, que a Justiça da Suíça informou que parte dos recursos da conta de Primo foi parar em contas de um funcionário da reserva da Marinha e de doleiros presos durante a investigação do caso Banestado, quando 30 bilhões de dólares de empresários brasileiros foram depositados em contas no exterior nos anos 1990 por meio do antigo paranaense.
Sempre de acordo com a reportagem, Gough afirmou que as transferências para uma conta bancária no paraíso fiscal de Luxemburgo foram “feitas sob as instruções e a mando de Adilson Primo”.
Após uma investigação sobre o caso na Procuradoria de Luxemburgo, em meados de 2011, constatou-se que os ativos foram transferidos para offshores em paraísos fiscais. Uma parte “foi rapidamente aplicada em investimentos aparentemente legítimos, de curto prazo, em outros países, (…) em grandes bancos conhecidos em fundos de investimentos ou ações de empresas para que se pudesse lucrar com os juros”.
Segundo o Estadão, a Justiça da Suíça informou que valores foram transferidos para três contas de brasileiros, uma delas de Marcos Honaiser, oficial reformado da Marinha, que também foi membro da Comissão Nacional de Energia Nuclear. As outras duas contas são de escritórios dos doleiros Antonio Pires de Almeida e Ana Lucia Pires de Almeida, ambos falecidos, Paulo Pires de Almeida, Raul Henrique Srour e Richard Andrew Van Oterloo.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.


