Política

Dilma rebate críticas a emergentes e “vende” Brasil a investidores em Davos

Presidente rechaça tese de que economias em desenvolvimento estariam menos dinâmicas, classifica protestos de junho como parte da construção da democracia e diz que país está pronto para a Copa.

Discurso procurou atrair investidores
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Em seu primeiro pronunciamento no Fórum Econômico Mundial, nesta sexta-feira (24/01) em Davos, Suíça, a presidente Dilma Rousseff apresentou aos investidores estrangeiros o quadro de um Brasil impecável, hoje e no futuro.

Começando por registrar que a turbulência econômica global já dura mais de cinco anos e é “a mais profunda e mais complexa desde 1929”, ela enfatizou a importância de manter em vista “o horizonte de médio e longo prazo”, apesar da natural urgência de “evitar o pior e retomar o caminho da prosperidade” na saída da crise.

Numa mostra da retórica que nortearia todo o seu pronunciamento, Dilma se apressou em desbancar a “apressada tese” segundo a qual as economias emergentes estarão menos dinâmicas depois da crise. Isso certamente não se aplica ao Brasil, assegurou, um dos países “com as maiores oportunidades para investimentos e perspectivas de expansão”.

“Meu governo não reprimiu”

Além disso, ressaltou, o povo foi incluído no processo de crescimento econômico dos últimos anos, e essa transformação social é um trunfo: trata-se cada vez mais de um país da classe média, cuja proporção cresceu de 37% para 55% da população em uma década. No mesmo período lembrou, a renda per capita mediana aumentou 78%, e em três anos foram criados 4,5 milhões de novos empregos.

Num rápido flashback, Dilma evocou os protestos de rua de junho de 2013, em várias metrópoles do Brasil. Na época, a atuação das autoridades, da perplexidade e inação iniciais à repressão policial, colocou o Brasil sob duras críticas internacionais. No entanto, no discurso em Davos, Dilma afirmou:

“O meu governo não reprimiu, pelo contrário. Ouviu e compreendeu a voz das ruas. Os manifestantes não pediram a vida do passado, a volta atrás: pediram, sim, o avanço para o futuro de mais direitos, mais participação e mais conquistas sociais.”

As manifestações, segundo ela, seriam “parte indissociável do processo de construção da democracia e de mudança social”, em que os “novos cidadãos brasileiros se conscientizam e exigem seus direitos”.

“Democracia gera desejo de mais democracia; inclusão social provoca expectativa de mais inclusão social; qualidade de vida desperta anseio de mais qualidade de vida” e o importante é “transformar a energia das ruas em realizações para todos”, enfatizou a política petista.

Convite aos investidores

Além de uma vitrine para a liderança política e econômica mundial, Davos é uma ocasião disputada de travar contatos internacionais e angariar investimentos. Por isso, ao mesmo em tempo que exaltou a prosperidade do Brasil sob sua presidência, Dilma aproveitou para acentuar as numerosas oportunidades de negócios ainda presentes num país em que “apenas 47% da população tem computador; 55%, uma máquina de lavar roupa automática; 17%, um freezer; e 8% uma TV de tela plana”.

Entre os atuais atrativos da nação como positiva para investimentos, estariam a estabilidade do real – um “valor central” –, o endividamento público reduzido e um sistema financeiro sólido. Como encorajamento, a presidente enumerou os generosos programas de concessões e licitações para o setor privado, em ferrovias, aeroportos, portos, petróleo, gás e na energia elétrica e transportes urbanos.

Dilma também reafirmou os investimentos na educação – alvo de crítica durante os protestos de junho – como prioridade de Brasília. Segundo ela, entre 50% e 75% dos lucros do pré-sal e do pós-sal serão revertidos para o setor, de modo a transformar “a riqueza finita do petróleo em patrimônio perene, em educação”.

Ao fim de sua apresentação no fórum, a chefe de Estado brasileira aproveitou para responder a mais um ponto de crítica, assegurando que o país está perfeitamente preparado tanto para a “Copa das Copas” –”mas são investimentos gerados pelas necessidades do país” – quanto para as Olimpíadas de 2016.

“O futebol é a forma mais importante de afirmação da paz e da luta contra preconceitos”, afirmou. “Estamos de braços abertos para receber todos os visitantes, de norte a sul, de leste a oeste.”

Embora lamentando que não houvesse mais tempo para a conversa que tradicionalmente arremata os pronunciamentos, o fundador do fórum, Klaus Schwab, agradeceu à presidente por devolver aos presentes “a confiança nos países emergentes”.

Num inglês com pesado sotaque alemão, o economista de 75 anos desejou um grande ano para o Brasil, com tantos gols quanto possível, tanto na Copa quanto para o “time” governamental que assessora Dilma Rousseff.

Autoria Augusto Valente

Edição Rafael Plaisant


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