Política

Diferenças e vulnerabilidades de Dilma e Aécio

Ele parece não ter compromisso com o social, enquanto ela comanda a economia de forma autocrática e gera desconfiança

Dilma e Aécio em eventos de campanha
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Os debates entre Dilma Rousseff e Aécio Neves têm explicitado vulnerabilidades de dois projetos de governo: o modelo Aécio não tem o menor compromisso com o social; o modelo Dilma, pouca sensibilidade com o empresarial.

Confiram-se alguns episódios, visíveis no último debate da TV Record:

Dilma acusou o governo FHC de ter proibido a criação de escolas técnicas. Aécio explicou que o decreto não proibia: apenas exigia que, para criar escola técnicas, houvesse parceria com estados e setor privado. Pode-se selecionar o argumento que quiser. Interessa o resultado final: apenas 14 escolas técnicas construídas no período FHC contra 422 no período Lula-Dilma.

O Bolsa Família chegou pronto ao governo FHC. Aprovado no Senado, com votos de ACM a Eduardo Suplicy, o projeto de lei planejava universalizar a renda mínima para as famílias que viviam na extrema pobreza. FHC vetou, alegando que feria a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). O orçamento continuou comprometido com pagamento de juros que excediam qualquer limite de bom senso.

A ideia original do Reuni (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) foi apresentada pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) inicialmente ministro Paulo Renato de Souza, no governo FHC. Não saiu da gaveta.

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Já na área econômica o plano de governo de Aécio Neves recorreu a especialistas do setor privado ligados ao partido. Antes dele, o de Marina Silva foi montado com contribuição de diversos setores, trazendo ideias novas e novos conceitos.

O plano de governo de Dilma recorreu aos próprios quadros do governo e fechou os olhos a propostas de fora. Em um momento em que o grande desgaste da política econômica é a falta de discernimento e de clareza fiscal para a concessão de subsídios, o ministro Guido Mantega prosseguiu seu périplo.

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Há uma diferença básica entre os modelos de gestão de ambos os lados.

Dilma resiste às concessões políticas. Grande parte do seu desgaste decorreu do enfrentamento das pressões do suspeitíssimo deputado fluminense Eduardo Cunha – que anunciou apoio a Aécio e disputa o comando do PMDB com Michel Temer. Mas o caminho encontrado foi fechar-se, entregando ministérios-chave a pessoas de sua confiança que não estavam à altura do cargo. Não soube discernir pressões legítimas de maracutaias.

Aécio é seguidor das práticas políticas convencionais. Seus acordos políticos acabaram comprometendo a administração de um grande gestor, seu sucessor Antonio Anastasia (PSDB), inclusive naquela que poderia ser a vitrine do seu governo: a saúde.

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Há diferenças também na maneira de encarar a economia.

No governo FHC – e na proposta de Aécio – a Fazenda voltará a ser o centro das políticas públicas. Foi essa mesma subordinação – e falta de sensibilidade social – que fez FHC abdicar do Bolsa Família, do Prouni, do Reuni, mesmo tendo em sua própria casa uma figura pública da dimensão de dona Ruth.

Da parte de Dilma, Fazenda e Tesouro tornaram-se instrumentos da vontade pessoal da presidente. Embora para bons propósitos – gastos sociais e incentivos à produção – sua atuação autocrática espalhou a desconfiança no setor empresarial.

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