Mundo
Diante de Putin, Lula reafirma necessidade de encerrar os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio
Presidente discursou, por videoconferência, na sessão plenária de abertura da Cúpula do Brics, realizada em Kazan, na Rússia


No discurso proferido remotamente durante a Cúpula do Brics em Kazan, na Rússia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfatizou a urgência em pôr fim aos conflitos mundiais, destacando principalmente a guerra do Oriente Médio e o conflito entre Rússia e Ucrânia. No evento, liderado por Vladimir Putin nesta quarta-feira 23, o brasileiro cobrou urgência para que os envolvidos nas guerras interrompam os ataques e encontrem os termos necessários para a paz.
Em relação à situação em Gaza, Lula citou o presidente turco Recep Tayyip Erdogan ao mencionar que a região se tornou o “maior cemitério de crianças e mulheres do mundo”, e chamou a atenção também para a ampliação da violência na Cisjordânia e no Líbano. Já em relação à Ucrânia, Lula classificou como “crucial” a abertura imediata de negociações para a paz.
As conversas no leste europeu estão empacadas diante de um impasse entre Putin e Volodymyr Zelensky. O russo, que chama a guerra de “operação militar especial”, quer que a Ucrânia aceite a independência de parte de seu território e recue de alianças com outros países ocidentais, em especial, na Otan. Já Zelensky diz que não pretende ceder qualquer parte do seu território e exige a retirada imediata dos militares russos, inclusive da Crimeia, dominada em uma empreitada anterior, como condicional inicial de negociação.
Essa não é a primeira vez que Lula condenou os conflitos entre Rússia e Ucrânia e a violência liderada por Israel no Oriente Médio.
Participação remota
Lula não pôde comparecer presencialmente à cúpula devido a um acidente doméstico no final de semana. Ele optou por discursar por videoconferência e afirmou que, em 2024, quando o Brasil assumir a presidência dos Brics, o país buscará reafirmar o papel do bloco na promoção de um mundo multipolar e na redução das desigualdades globais.
“Na presidência brasileira dos Brics, queremos reafirmar a vocação do bloco na luta por um mundo multipolar e por relações menos assimétricas entre os países. Não podemos aceitar a imposição de ‘apartheids’ no acesso a vacinas e medicamentos, como ocorreu na pandemia, nem no desenvolvimento da Inteligência Artificial, que caminha para tornar-se privilégio de poucos”, afirmou o presidente brasileiro.
O brasileiro também usou parte do discurso para ressaltar a importância do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), liderado pela ex-presidente brasileira Dilma Rousseff, no financiamento de projetos que fortalecem as economias dos países membros.
“Sob a liderança da companheira Dilma Rousseff, o NDB conta atualmente com uma carteira de quase 100 projetos e com financiamentos da ordem de 33 bilhões de dólares”, celebrou.
Moeda alternativa
O presidente do Brasil também reforçou o entendimento do País sobre a necessidade de se criar mecanismos de pagamento alternativos ao dólar, baseado em moedas dos países que integram os Brics. A ideia, explicou brevemente, não é substituir as moedas nacionais por uma única moeda, como é o euro, mas visa driblar barreiras impostas por sistemas financeiros internacionais.
“É preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional. Essa discussão precisa ser enfrentada com seriedade, cautela e solidez técnica, mas não pode ser mais adiada”, completou.
A cúpula de Kazan marca a primeira reunião do Brics com seus novos membros, como Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos e Etiópia e Arábia Saudita.
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