Economia

Diante das tarifas de Trump, Brics rejeita protecionismo em encontro no Rio

O grupo de economias emergentes, com a China como potência principal, fez uma proclamação em favor do multilateralismo

Diante das tarifas de Trump, Brics rejeita protecionismo em encontro no Rio
Diante das tarifas de Trump, Brics rejeita protecionismo em encontro no Rio
Entrevista do ministro Mauro Vieira (C), em 29 de abril de 2025, após encontro de chanceleres do Brics, no Rio de Janeiro. Foto: Mauro Pimentel/AFP
Apoie Siga-nos no

O Brics expressou, nesta terça-feira 29, sua forte oposição à “ressurgência do protecionismo comercial”, no encerramento da reunião de chanceleres do bloco no Rio de Janeiro, diante das políticas tarifárias agressivas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O grupo de economias emergentes, com a China como potência principal, fez uma proclamação em favor do multilateralismo como contrapeso às medidas unilaterais que têm gerado tensões comerciais em nível global.

O bloco destacou “a firme rejeição de todos [os países-membros] à ressurgência do protecionismo comercial”, declarou em entrevista coletiva Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil, que exerce a presidência rotativa do grupo.

Os ministros se reuniram durante dois dias no Palácio do Itamaraty, antiga sede da diplomacia no centro do Rio.

O Brics reúne, além de Brasil e China, Rússia, Índia, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.

Em um documento divulgado pela presidência brasileira do grupo, o Brics lamenta as medidas protecionistas unilaterais “injustificadas” e “incompatíveis” com as normas da Organização Mundial do Comércio.

Também pede a adoção de “medidas para defender o livre comércio e o sistema multilateral de comércio”.

Vieira explicou que o documento é um esboço das intenções para a declaração que será emitida pelos chefes de Estado na cúpula do Brics prevista para 6 e 7 de julho, também no Rio de Janeiro.

As divergências africanas em relação à reforma do Conselho de Segurança da ONU impediram um comunicado conjunto: Egito e Etiópia formularam objeções sobre o projeto, segundo indica em um asterisco o texto da presidência brasileira, sem mais explicações.

O outro país africano do bloco, África do Sul, é candidato declarado a um assento permanente no Conselho de Segurança.

Apesar disso, “houve um consenso absoluto de todos os países” sobre “temas de disputas comerciais, tarifas”, destacou o chanceler brasileiro.

A guerra comercial impulsionada por Trump tem afetado especialmente a China, com tarifas de 145% sobre seus produtos, às quais Pequim respondeu com taxas de 125% para as importações vindas dos Estados Unidos.

O Fundo Monetário Internacional já reduziu suas previsões de crescimento global para 2,8% este ano devido à extrema “incerteza” gerada pelas medidas protecionistas dos Estados Unidos e as retaliações de diversos países.

Impulso às moedas do Brics

O bloco, que tem crescido em número de integrantes e ganhado visibilidade internacional nos últimos anos, representa quase metade da população mundial e 39% do PIB global.

Uma eventual desdolarização do comércio entre o Brics foi abordada com cautela pelos diplomatas presentes na reunião. Já discutido durante a cúpula de outubro em Kazan, na Rússia, o tema provocou ameaças de Trump de impor tarifas de 100% ao bloco caso seguisse por esse caminho.

O chanceler russo, Sergei Lavrov, declarou que “seria prematuro debater a transição para uma moeda única” para o grupo.

O bloco tem trabalhado para incrementar as transações comerciais nas moedas de seus membros, o que tem permitido à Rússia contornar sanções impostas em função da guerra na Ucrânia.

Nesta terça-feira, os chanceleres “destacaram a importância do uso ampliado de moedas locais nas compensações comerciais e financeiras entre os países do Brics e seus parceiros comerciais”, segundo o documento.

Guerras e mudança climática

O Brasil liderou no primeiro dia um apelo por um reforço do multilateralismo como mecanismo para encerrar os conflitos na Ucrânia e em Gaza.

Com a Rússia entre os parceiros mais influentes, o documento afirma que os chanceleres “recordaram suas posições nacionais relativo ao conflito na Ucrânia” e “expressaram a expectativa de que os esforços atuais conduzam a um acordo de paz sustentável”.

Moscou e Kiev ensaiam uma disputa em torno de um eventual cessar-fogo, enquanto Trump pressiona por um acordo aparentemente favorável aos russos.

Em relação a Gaza, o Brics lamentou o deslocamento forçado, “sob quaisquer pretextos”, de “qualquer parte da população palestina do Território Palestino Ocupado”.

A luta contra o aquecimento global também recebeu atenção nas discussões, a poucos meses de o Brasil sediar a COP30 em Belém, no Pará.

Os países do Brics manifestaram-se “profundamente preocupados” com os efeitos do unilateralismo, que “comprometem a confiança e, consequentemente, a ambição da ação climática”.

Os chanceleres “conclamaram todos os países a respeitarem seus compromissos existentes como Partes do Acordo de Paris e a manterem e ampliarem seus esforços para combater a mudança do clima”, segundo o documento.

Os Estados Unidos, o país que mais emite gases de efeito estufa depois da China, anunciaram na sexta-feira o fechamento de seu escritório que gerencia a diplomacia climática.

A medida é mais um passo para concretizar a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, anunciada em janeiro por Trump, um notório cético da mudança climática.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.

O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.

Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.

Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo