Política

Suspeita de propina de 110 milhões de reais recoloca Aécio na mira

Nova operação da Polícia Federal investiga repasses ilegais da JBS ao senador e a outros políticos

'Anastasia e Aécio são siameses' (Foto: ABr)
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Passadas as eleições, o cerco se fecha contra Aécio Neves (PSDB-MG) e os partidos da base aliada do consórcio Temer-PSDB. Na manhã desta terça, 11, a Polícia Federal vasculhou imóveis do senador e da irmã, Andrea, no Rio e em Minas Gerais. Também houve buscas em endereços de Paulinho da Força (SD-SP).

A devassa é parte da operação Ross e foi autorizada pelo ministro Marco Aurélio Mello (STF) a pedidos da procuradora-geral da União, Raquel Dodge, com base em delações de executivos da J&F – a holding que controla a empresa JBS.

De acordo com a PF, o grupo repassou ao senador 110 milhões de reais em propina entre 2014 e 2017. Empresários teriam contribuído com o esquema, por meio de caixa 2 e notas frias.

Desse total, diz a PF que 15 milhões de reais teriam sido usados por Aécio para comprar o apoio do Solidariedade (SD), partido de Paulinho da Força, nas eleições de 2014. Outros 20 milhões teriam pago o suporte do PTB, além de outros partidos.

Naquele ano, o líder sindical declarou o apoio ‘pessoal’ a Aécio já em janeiro, prometendo compromisso do Solidariedade e das centrais sindicais ao partido na campanha. Nas eleições de 2010, o apoio apaixonado era de Dilma.

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Antonio Anastasia (PSDB-MG), José Agripino Maia (DEM) e os deputados Benito Gama (PTB-BA) e Cristiane Brasil (PTB) também são investigados no caso.

Cortina de fumaça

Chama atenção a discrição dessas ações. Diferente de outras conduções e buscas, não houve qualquer espetáculo midiático: a polícia chegou aos imóveis em carros descaracterizados, por volta das seis da manhã, e saiu carregando malotes.

Os primeiros registros de imprensa só foram publicados quando a operação já acontecia, sem qualquer registro visual que constrangesse os envolvidos. Mesmo assim, o caso tomou o espaço dedicado aos desdobramentos do relatório do Coaf, que envolve o filho mais velho de Jair Bolsonaro e a primeira-dama em movimentação financeira suspeita de um ex-assessor.

Leia também: O plano Temer-Gilmar para anular a delação da JBS

Na opinião do cientista político Rui Tavares Maluf, professor da FESPSP, o descrédito do establishment político favorece o discurso autoritário e anti-barganha de Bolsonaro. “Me parece claro que se houverem mais operações como essa, tanto opinião pública quanto a classe política podem ficar mais dóceis à aprovação, por exemplo, da Reforma da Previdência.”

A decisão do ministro está sob sigilo e a nota oficial divulgada pela PGR reforça que “não há prisões e nem medidas a serem cumpridas na sede do Congresso”. O tom misterioso tem razão de ser: a PGR e Marco Aurelio negaram o pedido da PF para manter Aécio, Andreia, Cristiane e Paulinho em prisão domiciliar.

Aécio é réu em um caso ligado à Lava Jato por corrupção passiva e obstrução da Justiça no caso da ‘mala’ de Joesley Batista, também sob as delações da JBS. Outros seis inquéritos tramitam no STF.

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