Política

Desunida, terceira via enfrenta impasses para montar palanques estaduais

O pacto dos partidos de centro por uma candidatura única se tornou ainda mais incerto após o União Brasil desembarcar e decidir lançar uma chapa pura com Luciano Bivar

A senadora Simone Tebet (MDB) e o ex-governador João Doria (PSDB). Fotos: Agência Senado e GOVSP
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Ainda distante de uma definição sobre como disputará as eleições deste ano, a chamada terceira via tem alianças políticas emperradas nos estados.

Com baixa intenção de voto nas pesquisas de opinião, a senadora Simone Tebet (MDB-MS), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) veem candidatos a governador de seus partidos nos estados inclinados a apoiar o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ao mesmo tempo, o pacto dos partidos de centro por uma candidatura única se tornou ainda mais incerto após o União Brasil desembarcar e decidir lançar uma chapa pura com Luciano Bivar, que preside a sigla.

Como Lula e Bolsonaro estão na primeira e segunda posições nas pesquisas, os candidatos a governador e deputados procuram se associar aos dois por estratégia eleitoral de sobrevivência.

Simone e Ciro farão campanha no Nordeste ao lado de correligionários que também vão pedir votos para o líder petista. Os pré-candidatos do MDB a governador Paulo Dantas, em Alagoas, e Veneziano Vital do Rêgo, na Paraíba, não disfarçam sua simpatia pelo ex-presidente e até publicaram fotos em agendas conjuntas.

O presidenciável do PDT enfrenta o mesmo dissabor no Maranhão, onde o senador Weverton Rocha, que participou até de um encontro estadual ao lado do petista, costuma se apresentar como “o melhor amigo de Lula”.

O pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes. Foto: Divulgação/PDT

Doria também vive situação semelhante no Mato Grosso do Sul, onde o tucano e pré-candidato a governador Eduardo Riedel já disse publicamente: “Meu palanque é do presidente Bolsonaro”. A chapa do candidato terá a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina, que disputa o Senado.

Mesmo com todas essas dificuldades, o PSDB ainda trabalha por uma aliança com o MDB de Tebet que, por sua vez, tem feito acenos a Ciro —, mas a união com o pedetista é vista como improvável em razão de seu temperamento e de divergências na pauta econômica.

Ainda assim, a senadora desponta como favorita para encabeçar uma chapa das siglas de centro, de acordo com fontes da direção dos dois partidos que acompanham as negociações.

Tebet tem o apoio público de ao menos 14 diretórios do MDB. Hoje, a aprovação de seu nome nas convenções partidárias é vista como necessária pela cúpula do partido, que teme um apoio majoritário à reeleição de Bolsonaro. Há ainda o argumento de que ela é o nome mais viável da terceira via, pois tem pouca rejeição e dialoga com o público feminino, o mais indeciso, segundo as pesquisas de intenção de voto.

Nos estados, porém, a situação é outra e apenas os pré-candidatos do Acre, Pará e Rio Grande do Sul confirmaram apoio exclusivo a Tebet — incluindo a deputada acreana Mara Rocha, que é aliada de Bolsonaro, mas disse a pessoas próximas que seguirá a orientação da legenda. Ibaneis Rocha, candidato à reeleição no Distrito Federal, também é próximo a Bolsonaro. Embora diga a aliados que buscará apoio do empresariado para a senadora, quase todos os partidos da base de Ibaneis são alinhados ao presidente.

Em Santa Catarina, Antídio Lunelli (MDB) tem dito nos bastidores que Bolsonaro é seu “padrinho político”. Já em Roraima, pessoas ligadas à campanha da ex-prefeita Teresa Surita admitem a possibilidade de acenos ao presidente por causa do vice Édio Lopes, que é deputado federal pelo PL.

Helder Barbalho, que tenta a reeleição no Pará, também já sinalizou que ficará apenas ao lado de Tebet no primeiro turno da campanha, mas flerta com Lula. Ao Globo, Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, afirmou que Tebet “já tem o apoio da base do partido e deve ampliar o leque no decorrer da campanha”.

No PSDB, Doria deve ficar sem um palanque exclusivo em dois dos três maiores estados do país. Em Minas, os tucanos caminham para uma aliança sem candidatura própria.

No Rio, o PSDB deve participar do projeto de eleição de Cláudio Castro (PL), candidato do partido de Bolsonaro. Com alta rejeição, Doria tem de lidar com o afastamento de candidatos a governador, que tentam desvincular sua imagem do paulista, mesmo que o apoiem, mas de forma protocolar.

Mesmo o seu sucessor e governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, que concorre à reeleição, tem feito agendas separadas de Doria. A candidata ao governo de Pernambuco, Raquel Lyra, tem feito acenos a Lula. Na Paraíba, o candidato a governador Pedro Cunha Lima é natural de Campina Grande, que tem forte influência do bolsonarismo, e prefere se descolar do paulista, de acordo com aliados.

No Rio Grande do Sul, o ex-governador Eduardo Leite é adversário político de Doria e tenta garantir sua sucessão numa chapa com o MDB. O grupo de Leite já começou a se aproximar de Tebet e ameaça o apoio ao paulista no estado. Nesta semana, a senadora cumpriu agenda com o atual governador, Ranolfo Vieira Júnior (PSDB), e também esteve com o pré-candidato Gabriel Souza (MDB), que é cotado para vice.

Embora seja, entre os candidatos da terceira via, o que melhor pontua nas pesquisas, Ciro também tem tido dificuldade nos acordos regionais. Até mesmo em seu reduto eleitoral, o Ceará, ainda falta definir quem será o candidato do partido. Se for a atual governadora, Izolda Cela, não está descartado o palanque duplo com o ex-presidente Lula, já que tudo caminha para Camilo Santana (PT) disputar a vaga da chapa ao Senado.

Ciro ainda tem um cenário fragilizado no estado mais rico do país. O pré-candidato a governador em São Paulo e ex-prefeito Elvis Cézar aparece somente com 1% nas pesquisas. Também há risco no Rio, onde o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT) busca, ainda sem sucesso, aproximar-se do PT.

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