Política
Delgatti reforça acusações em CPI e diz ter sido ‘cooptado’ por Bolsonaro e Zambelli
O hacker afirmou ter recebido ‘carta branca’ do então presidente para agir contra urnas eletrônicas
O hacker Walter Delgatti reforçou nesta quinta-feira 14 suas acusações contra a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre uma invasão a sistemas informatizados do Poder Judiciário.
Delgatti está preso preventivamente desde 2 de agosto. Naquele dia, a Polícia Federal também cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Zambelli, que nega qualquer irregularidade no caso.
A operação foi deflagrada para identificar os responsáveis por uma invasão a sistemas da Justiça, durante a qual houve a inserção de um falso mandado de prisão contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
Nesta quinta, Delgatti afirmou, em depoimento por videoconferência à CPI dos Atos Antidemocráticos na Câmara Legislativa do Distrito Federal, ter sido “cooptado” por Zambelli “para cometer criminalidades”. Disse também ter sido “cooptado pelo ex-presidente em propostas semelhantes às de Carla Zambelli”.
Questionado se Bolsonaro sabia do plano de desmoralizar o Poder Judiciário por meio da inclusão de um documento falso no sistema, o hacker assentiu. “Tanto sabia quanto solicitou isso”, respondeu.
Ele reforçou à comissão legislativa ter recebido aproximadamente 40 mil reais de Zambelli ou de pessoas ligadas a ela como uma forma de “ajuda de custo”, além da promessa de um emprego.
Walter Delgatti ainda confirmou ter recebido aval de Bolsonaro para agir a fim de provar uma suposta vulnerabilidade nas urnas eletrônicas. “A carta branca foi dada no encontro no [Palácio da] Alvorada de forma tácita, e de forma expressa no encontro [por telefone] no posto de combustível”, emendou.
Diante de uma pergunta sobre eventuais provas para sustentar suas afirmações, Delgatti disse ter uma troca de mensagens com Zambelli na qual ela admitiria ter se tratado de um pedido dela. “Vou usar em um momento oportuno”, declarou o hacker.
Delgatti ainda reafirmou ter ido cinco vezes à sede do Ministério da Defesa, em Brasília, no ano passado. Em depoimento à CPMI do 8 de Janeiro, em agosto, ele já havia declarado que “orientou” a produção do relatório da pasta sobe as urnas, entregue ao Tribunal Superior Eleitoral em novembro de 2022, após o segundo turno da eleição presidencial.
A auditoria dos militares não identificou qualquer fraude no pleito, mas, ao contrário do monitoramento de outras entidades, levantou especulações e apresentou uma série de “recomendações”.
Em nota divulgada após o depoimento de Delgatti à CPMI, a defesa de Jair Bolsonaro afirmou que adotará medidas judiciais contra o hacker por “informações e alegações falsas, totalmente desprovidas de qualquer tipo de prova, inclusive cometendo, em tese, o crime de calúnia”.
A defesa de Zambelli também rechaçou “qualquer acusação de prática de condutas ilícitas e ou imorais pela parlamentar, inclusive, negando as aleivosias e teratologias mencionadas pelo senhor Walter Delgatti”.
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