Política

Delegado da PF diz que houve ‘privilégio’ a Milton Ribeiro durante prisão, mas não especifica prejuízos à investigação

Em depoimento, Bruno Calandrini disse que administração da Polícia Federal não cumpriu ordem judicial para transferir ex-ministro a Brasília; sindicância foi arquivada

Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
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O delegado de Polícia Federal Bruno Calandrini afirmou, em depoimento prestado na sindicância interna aberta para apurar suspeitas de interferência em inquérito sobre o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, que a administração do órgão concedeu um “privilégio” ao ex-ministro por não cumprir a ordem judicial que determinava sua transferência a Brasília no momento de sua prisão, deflagrada em 22 de junho.

Após o cumprimento da operação, Calandrini havia enviado uma mensagem a colegas dizendo que houve interferência na investigação porque a transferência de Milton Ribeiro não havia sido cumprida. Por isso, a PF abriu uma sindicância para apurar essa suspeita. O ex-ministro foi preso em Santos (SP) e acabou ficando detido na Superintendência da PF em São Paulo, porque não havia aeronave disponível para levá-lo a Brasília. No dia seguinte, Ribeiro foi solto por ordem do Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

“A administração cumpre em geral o que determina na ordem judicial e, no caso da operação conduzida pelo declarante, houve um descumprimento desta ordem, fornecendo ao preso uma alternativa diferente do que foi determinado pela justiça, sendo, portanto, um privilégio, no entender do declarante”, disse Calandrini.

Questionado sobre de que forma esse fato pode ter obstruído a investigação, Calandrini respondeu apenas que “o primeiro prejuízo é o não cumprimento da ordem judicial”, mas não citou interferências na produção de provas. Calandrini afirmou que a decisão de não transferir Milton Ribeiro a Brasília foi tomada por uma decisão da cúpula da PF em Brasília em conjunto com a administração da PF de São Paulo. Seu depoimento foi prestado em 16 de agosto.

Ao final da sindicância, entretanto, a PF concluiu que não houve irregularidades no episódio e arquivou o caso. “Os argumentos em torno deste ponto giram basicamente no ponto de não ter sido trasladado o preso de Santos/SP para Brasília/DF, contudo, observou-se que houve a devida comunicação ao juízo competente, houve tratativas registradas dando transparência aos registros de dificuldades encontradas no dia da deflagração e o preso ficou ao dispor da equipe investigativa. (…) Neste contexto, não se verificou elementos trazidos para a sindicância que permitam afirmar algum prejuízo para a investigação”, diz a conclusão.

Quando a mensagem de Calandrini veio a público, a PF havia afirmado em nota: “Considerando boatos de possível interferência na execução da Operação Acesso Pago e objetivando garantir a autonomia e a independência funcional do Delegado de Polícia Federal, conforme garante a Lei nº 12.830/2013, informamos que foi determinada a instauração de procedimento apuratório para verificar a eventual ocorrência de interferência, buscando o total esclarecimento dos fatos”.

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