“Deixamos a direita se apropriar do discurso contra a corrupção”, diz Olívio Dutra, ex-ministro do PT

Em entrevista a CartaCapital, ex-governador do RS destacou necessidade de autocrítica do partido e pontuou a falta de mudanças estruturais

O ex-ministro das Cidades e ex-governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT). Foto: Reprodução

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Ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro das Cidades, Olívio Dutra (PT-RS) destaca que uma das falhas da esquerda brasileira é evitar debater a corrupção, porque dessa forma permite que os partidos de direita assumam a dianteira do combate à corrupção. Em entrevista ao diretor de redação de CartaCapital, Mino Carta, nesta segunda-feira 24, Dutra classificou a corrupção como “privatização do Estado”.

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Para o ex-ministro, parte da esquerda não gosta de debater sobre a corrupção, porque o tema é usado pela direita para atacar os partidos progressistas. No entanto, ele acredita que é um “dever” levantar a bandeira contra a corrupção.

“A esquerda não gosta de falar da questão da corrupção, porque a direita sempre usou a corrupção para atacar a esquerda. Acho que a esquerda tem o dever de dizer: a corrupção é uma forma de privatizar o Estado. Então, nós sempre fomos contra a corrupção. Não por um objetivo eleitoreiro. A corrupção é a apropriação do espaço público, do dinheiro público”, afirmou.

Para Dutra, a esquerda deve sempre defender o combate à corrupção e adotá-lo em sua prática política. Em sua visão, a defesa da privatização do Estado também é uma forma de corrupção, porque “o Estado não pode ser uma trincheira dos interesses dos mais ricos e poderosos”.

“Temos que estar sempre afirmando isso na sua prática, na sua conduta nos espaços que assumimos. Então, nós deixamos a direita se apropriar do discurso contra a corrupção, como se a direita combatesse a corrupção”, avaliou.


Dutra defende que o PT faça uma autocrítica em relação à sua história e, em especial, às suas passagens no Palácio do Planalto, principalmente por não ter promovido mudanças estruturais no sistema político brasileiro.

“Não trabalhamos bem a questão do partido, da institucionalidade, o poder, as disputas, a visão da sociedade, a luta de classes. Tudo disso, a gente tem que tirar lições. Tenho uma colocação que às vezes não é bem aceita: a gente tem que fazer uma autocrítica”, afirma.

Ficamos prisioneiros das alianças que fizemos, diz Dutra

Dutra diz reconhecer o esforço dos governos petistas em dialogar com as forças políticas adversárias, porém, avalia que a sigla tornou-se prisioneira das alianças que fez, o que influenciou sua conduta política.

“A correlação de forças no Congresso foi de centro-direita, já nos primeiros quatro anos do Lula. No segundo [mandato], foi ainda mais à direita. E quando chegou a Dilma, essa correlação de forças no Congresso mais à direita ficou. Até que, no segundo mandato, puderam dar o golpe que deram”, examina. “Não fizemos mudanças estruturais no Estado brasileiro, ficamos prisioneiros das alianças que tivemos que fazer.”

Para o ex-ministro, o protagonismo do povo na política deve ser uma pauta indispensável para a esquerda brasileira, aliada à defesa ambiental e ao desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro. Mas o primordial deve ser a desconcentração de riquezas, para superar a desigualdade econômica no Brasil.

“O povo e seus movimentos têm que estar em interação permanente para se apropriar do conhecimento da máquina pública. E têm muitas lutas importantes que temos que levar junto com outros povos. Nós queremos globalizar a liberdade, a democracia, a humanidade, o compartilhamento da riqueza. São coisas fundamentais”, afirmou.

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