Política

Debate morno em SP pressionou Garcia e favoreceu Haddad, avaliam partidários

TV Cultura exibiu o segundo encontro entre os candidatos a governador de São Paulo

Os candidatos Rodrigo Garcia (PSDB) e Fernando Haddad (PT). Foto: Reprodução
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Aliados da campanha de Fernando Haddad (PT) avaliam que o debate entre candidatos a governador de São Paulo realizado pela TV Cultura, em parceria com o portal UOL e o jornal Folha de S.Paulo, foi morno. Nos bastidores, a consideração foi a de que o petista saiu favorecido, uma vez que o evento na noite de terça-feira 13 não teve potencial de alterar o cenário.

Por outro lado, segundo observações feitas a CartaCapital, o atual governador do estado, Rodrigo Garcia (PSDB), foi o mais pressionado e parecia “abatido”. Na campanha de Haddad, a avaliação é de que a situação do tucano nas pesquisas é de difícil reversão.

O levantamento Ipec de oito dias atrás mostrou o petista com 36% das intenções de voto, à frente de Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tem 21%, e de Garcia, com 14%. Um cenário semelhante foi indicado pelo Ipespe há cinco dias.

Um dos momentos críticos de Garcia destacados pela campanha petista se deu quando ele foi questionado sobre a proximidade com o ex-governador João Doria (PSDB), que em 2018 apoiou o presidente Jair Bolsonaro (PL). Na resposta, Garcia tentou se distanciar mais uma vez do colega tucano e do ex-capitão.

“Eu não falo de Bolsonaro, não falo de João Doria, não falo de candidatos, porque eu não tenho padrinho político”, afirmou. “Eu estou há 27 anos trabalhando por São Paulo” .

O governador Rodrigo Garcia (PSDB). Foto: Reprodução

Para aliados de Haddad, o “Bolsodoria” é um dos principais motivos para o eleitorado paulista enxergar Garcia com restrições. Um correligionário do petista aponta que o eleitor percebe o conflito discursivo de Garcia entre ser um candidato “novo” e um ator político que já está no governo. Enquanto o tucano toma para si alguns legados positivos, diz que medidas impopulares não são sua responsabilidade.

Um convidado do tucano avaliou, porém, que Garcia tinha respostas prontas para as diferentes questões que foram apresentadas e que soube se posicionar muito bem. No fim do debate, o governador brincou entre jornalistas: “Quem é vidraça sempre apanha”.

Tarcísio também voltou a sua artilharia contra Garcia ao mencionar obras paradas no governo tucano. O tema também vem à tona constantemente em questionamentos ao governador, sobretudo em relação ao Rodoanel, cujas obras do trecho Norte não andam desde 2018.

Ao mencionar o tema contra Garcia, Tarcísio reutilizou a sua tática de sugerir ao telespectador para procurar no Google o número de obras paradas do governo. A cartada Google também foi usada contra Haddad no debate da Band para dizer que o petista era o pior prefeito de São Paulo.

O candidato bolsonarista usou um dado do Tribunal de Contas do Estado para dizer que há 845 obras paralisadas ou atrasadas no estado. Em resposta, o tucano disse que “se a gente fizesse um site com as obras concluídas de São Paulo e em andamento, ia ter muito mais informação do que 197 obras paralisadas”.

O tucano também culpou o “tamanho” do estado, os serviços mal feitos e os abandonos de obras por empresas. Disse, ainda, que o governo federal não apoiou a conclusão de obras em São Paulo.

Para um aliado do PT, uma das principais estratégias de Tarcísio é exibir ao eleitor o seu currículo como ministro da Infraestrutura de Bolsonaro. Isso pode, de certa forma, seduzir uma parcela do eleitorado, mas o candidato também peca por apresentar os seus números de forma confusa.

Além disso, ao falar de sua gestão como ministro, Tarcísio teria mostrado dificuldades de conectar o seu legado a São Paulo. Mostrar-se como alguém íntimo dos paulistas tem sido um dos principais problemas na campanha do bolsonarista, uma vez que o ex-ministro é de fora.

O governador Rodrigo Garcia (PSDB) e o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos). Foto: Reprodução

Para membros da campanha, um dos pontos mais altos de Haddad no debate foi quando fez críticas à crise da Covid-19. O candidato bolsonarista respondeu que o governo federal assinou contrato com a Astrazeneca em agosto de 2020, “quando a vacina não era realidade”, e também citou a imunização de um brasileiro um mês após a primeira vacinação no mundo. Além disso, mencionou investimentos bilionários em aquisição de doses.

Segundo um integrante da campanha petista, apesar das alegações do adversário, um monitoramento interno mostrou que Bolsonaro não consegue reverter a visão ruim da população sobre a sua gestão da pandemia.

Outro momento positivo para o petista ocorreu no embate contra Vinícius Poit (Novo), no tema da segurança pública. Um aliado de Haddad considerou uma boa sacada o candidato ter rebatido críticas do adversário e mencionado o pai dele, Wilson Poit, que foi secretário de Turismo quando o petista era prefeito.

A avaliação é de que Haddad foi bem e estava menos nervoso do que no debate anterior. Desta vez, o candidato apadrinhado por Lula (PT) citou mais vezes a parceria com Geraldo Alckmin (PSB). Um membro da campanha salientou a possibilidade de Alckmin aumentar a sua relevância no 2º turno, para melhorar o diálogo com eleitores tucanos.

Uma das críticas a Haddad, porém, veio de dentro: faltou entregar mais propostas e acabou servindo mais à campanha nacional de Lula. Membros de outras forças destacaram, também, que o “calcanhar de Aquiles” do petista é a má fama como prefeito e a questão da corrupção no PT.

Para a campanha bolsonarista, Tarcísio também foi melhor do que no debate anterior. Entre os pontos altos indicados por um aliado do candidato, esteve uma pergunta a Poit em que apontou problemas na segurança pública, redução na competitividade dos investimentos e aumento nos índices de desigualdade.

Também foi visto com bons olhos o desempenho de Tarcísio ao tratar de políticas públicas para a cultura, um tema não muito confortável para o campo conservador. Na ocasião, ele disse ter visitado o Instituto Baccarelli, na favela de Heliópolis, e citou o patrocínio da Lei Rouanet.

“É muito bacana ver como a educação musical transforma realidades”, disse o candidato bolsonarista. “Queremos mais Institutos Baccarellis, queremos ampliar a quantidade de vagas, fazer com que mais pessoas possam ter a vida transformada (…).”

Na sequência, citou ainda a criação de escolas integradas com atividades culturais, o incentivo para que espetáculos teatrais sejam levados ao interior e o estímulo aos rodeios.

Pesou, no entanto, a intervenção hostil do deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos-SP), ao fim do debate, contra a jornalista Vera Magalhães. O parlamentar bolsonarista utilizou um celular para filmar a profissional de imprensa, reproduziu uma informação falsa sobre o seu salário e disparou ofensas. O ato provocou a reação do diretor de jornalismo da TV Cultura, Leão Serva, que tomou o celular de Garcia e jogou longe.

O caso, que se tornou a principal notícia do evento, levou Tarcísio a se pronunciar publicamente.

“Lamento profundamente e repudio veementemente a agressão sofrida pela jornalista Vera Magalhães enquanto exercia a sua função de jornalista durante o debate de hoje”, escreveu o candidato nas redes sociais. “Essa é uma atitude incompatível com a democracia e não condiz com o que defendemos em relação ao trabalho da imprensa”.

Os candidatos Vinícius Poit (Novo) e Fernando Haddad (PT). Foto: Reprodução

Em relação aos candidatos com menor desempenho nas pesquisas (1%), chamou atenção a reincidência das perguntas sobre questões raciais a Poit, membro de um partido com a maior proporção de brancos (80%). O candidato enalteceu a candidata a vice em sua chapa, Doris Alves, que é negra. “Um branco e uma negra mostrando que também é hora de união, que não é hora de nós e eles”.

Já Elvis Cezar (PDT) teve participações notoriamente duras contra os adversários, mas algumas de suas tiradas provocavam risadas na plateia.

Também houve uma reação debochada da ala de Rodrigo Garcia quando Cezar disse que tarifas de pedágio “só foram congeladas de tanto eu falar a respeito do tema”.

O candidato do PDT evitou mencionar no debate o nome de Ciro Gomes, o presidenciável de seu partido. Questionado por CartaCapital sobre a sua avaliação em relação ao candidato ao Planalto, que ainda não atingiu dois dígitos nas pesquisas, Cezar disse lamentar o atual cenário.

“Vejo uma perda de chance se deixarmos o Ciro para trás desta vez. Ciro é o homem mais preparado para administrar este País”, declarou o ex-prefeito de Santana de Parnaíba. “Eu vejo uma pena, mas ainda não acabou o jogo. O jogo só acaba quando o juiz apita.”

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