O primeiro debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo, transmitido pela TV Bandeirantes na noite da segunda-feira 22, foi marcado por uma situação insólita. Na dianteira das pesquisas, Celso Russomanno, do PRB, acabou preterido pelos adversários na escolha das perguntas e preferiu guardar segura distância da troca de farpas entre os demais postulantes. A disputa para valer deu-se entre os que, hoje, disputam o segundo lugar na corrida eleitoral: João Doria, do PSDB, Marta Suplicy, do PMDB, e o petista Fernando Haddad, candidato à reeleição.
As sondagens eleitorais ajudam a entender porque o líder das pesquisas foi poupado. Enquanto Russomanno lidera com 26% das intenções de voto, segundo o Ibope, o segundo lugar está embolado entre quatro concorrentes: Marta (10%), Luiza Erundina (8%), Haddad (7%) e Doria (6%). Apesar de figurar em terceiro lugar, Erundina, do PSOL, não teve a sua participação autorizada no debate por adversários. Por isso, liderou um protesto na porta da emissora.
Alvo preferencial no debate, Haddad teve dificuldades para sair da defensiva. Viu-se obrigado a rebater numerosas críticas a bandeiras de sua gestão, como o programa Braços Abertos, voltado para a reinserção social dos usuários de crack, e a redução de velocidade das vias expressas da cidade. Marta Suplicy evocou iniciativas de seu governo, como os CEUs (Centro Educacional Unificado), acusando o atual prefeito de sucateá-las.
Atuando como uma espécie de linha auxiliar do candidato tucano, Major Olímpio, do Solidariedade, foi ainda mais agressivo no quarto bloco do debate: “Haddad foi produto de Lula e de João Santana. O Lula vai enfrentar os tribunais e apodrecer na cadeia; Santana já deixou claro que usou dinheiro frio para custear a campanha de Dilma e Haddad”.
A réplica parece ter desarmado o major. “Aqui se combateu a corrupção como em nenhum momento na história da cidade. Recuperei da Operação Água Espraida 145 milhões de reais, de um governo que o senhor apoiou. Recuperei da máfia do ISS 151 milhões de reais, de um governo que o senhor apoiou”, afirmou Haddad. “Todas as instituições têm maus elementos. O PMDB da Marta tem vários acusados de corrupção. O PSDB do Doria tem três ex-presidentes citados na Lava Jato. E o seu partido nem vou comentar. O Paulinho da Força é sobejamente conhecido.”
Em um debate vazio de propostas, as provocações e frases de efeito foram usadas à exaustão. Doria fez questão de mencionar o maldoso apelido que a oposição conferiu à ex-prefeita: “Martaxa”. Esta, por sua vez, lembrou ao tucano que “São Paulo não é um reality show”, em alusão ao programa de tevê que o empresário apresentava.
Haddad também tirou uma casquinha do candidato do PSDB. Ao debater com Doria sobre transporte público, acusou o adversário de “fazer turismo” pela periferia da cidade.
Erundina: excluída da tevê, acolhida na internet
Respaldados por uma nova regra eleitoral, manietada por Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, Marta, Doria e Olímpio vetaram a participação de Erundina no debate da Band. A socialista não deixou por menos. Pelas redes sociais, convocou um “Ato Contra a Censura e Por Mais Democracia nas Eleições” na porta da emissora da família Saad.
Em vídeo gravado para a CartaCapital, lamentou que os concorrentes a tenham impedido de discutir propostas para a cidade na tevê aberta. “Isso mostra o quanto a democracia brasileira está mitigada e sendo comprometida por candidatos autoritários, antidemocráticos e medrosos de enfrentar o debate com os seus opositores”.
Com a aprovação da lei 13.165, as emissoras não são obrigadas a convidar candidatos de partidos que não tenham mais de nove deputados federais. Se decidirem convidar, é necessário que 2/3 dos que possuem esta representatividade concordem. Antes, para participar do debate, bastava que o partido do candidato tivesse ao menos um deputado.
Após o ato na porta da TV Bandeirantes, Erundina se dirigiu a uma casa nas proximidades da emissora para comentar o debate ao vivo pela internet. Ao ver a candidata do PMDB criticar Doria por chamar de “penduricalhos” as políticas para as mulheres e minorias, a socialista não se conteve. “Marta deu uma de feminista, mas excluiu uma mulher do debate”, alfinetou. Erundina criticou, ainda, o tom agressivo do debate televisivo, baseado em provocações e carente de propostas.