Política
De Haddad a Boulos: no que 2024 é diferente da virada histórica de 2012
Há 12 anos, o petista protagonizou a única virada entre turnos na disputa pela prefeitura de São Paulo. Hoje, os números e o contexto indicam um jogo bem mais desafiador


Quando as urnas de São Paulo fecharam em 6 de outubro, aliados de Guilherme Boulos (PSOL) miraram uma eleição de 12 anos atrás para inspirar confiança na militância em busca de uma virada contra Ricardo Nunes (MDB). Os dias seguintes, porém, evidenciaram a diferença entre os pleitos.
Aquela eleição registrou a única virada entre turnos na capital paulista e se converteu em esperança para Boulos, mas há uma inegável distinção entre os contextos.
Nunes avançou ao segundo turno na liderança, com 29,48% dos votos válidos, contra 29,07% de Boulos. Em 2012, José Serra (PSDB) teve 30,75%, enquanto Fernando Haddad (PT) recebeu 29,98%.
Apesar do barulho midiático em relação ao ‘mensalão’, a então presidenta Dilma Rousseff (PT) tinha mais de 70% de aprovação e impulsionava a campanha de seu ex-ministro da Educação. Esse nível de avaliação positiva, contudo, se tornou praticamente inalcançável no Brasil pós-jornadas de 2013, Lava Jato e ascensão da extrema-direita.
Também não havia um Pablo Marçal (PRTB) na briga: o terceiro colocado de 2012, Celso Russomanno, amealhara 21,6% dos votos, enquanto o ex-coach teve 28,14% neste ano.
Passado o primeiro turno há 12 anos, Haddad rapidamente assumiu a liderança nas pesquisas. No primeiro Datafolha, já aparecia 10 pontos à frente de Serra: 47% a 37%.
A nove dias do segundo turno, conforme o mesmo instituto, a vantagem de Haddad chegava a 17 pontos: 49% a 32%. Nas urnas, a vitória foi menos elástica, mas ainda expressiva: 56% a 44%.
Em 2024, Nunes conserva uma confortável dianteira. O Datafolha apontou o prefeito na quinta-feira 17, a dez dias da eleição, com 51% das intenções de voto, contra 33% de Boulos. Um dia antes, a Quaest indicou uma diferença de 12 pontos entre os dois candidatos.
O apagão que castigou São Paulo na semana passada fez Nunes recuar quatro pontos no Datafolha – mas esses eleitores, em vez de migrarem para Boulos, engordaram a estatística de brancos e nulos. O candidato do PSOL enfrenta ainda uma rejeição quase proibitiva: 56% não votariam nele. A nove dias do segundo turno de 2012, a rejeição a Haddad era de 34%, contra 52% a Serra.
Outra diferença marcante entre 2012 e 2024 é a transferência de votos. No primeiro Datafolha do segundo turno de 2012, 56% dos eleitores de Russomanno declararam preferência por Haddad, contra 25% que optaram por Serra. Neste ano, o primeiro levantamento do Datafolha apontou que Nunes herdou 84% dos votos que foram para Marçal em 6 de outubro.
Nos próximos nove dias de campanha, Nunes seguirá ‘jogando parado’, focado em desviar de fatos novos – especialmente os possíveis transtornos causados pela tempestade prevista para São Paulo neste fim de semana. Já Boulos terá esse curto período para tentar gerar algum episódio que mexa com a disputa e traga mudanças significativas.
Na pesquisa espontânea do Datafolha, que não apresenta os nomes dos candidatos aos entrevistados, 12% dos eleitores ainda se mostraram indecisos, enquanto 10% declararam votos em branco ou nulos na rodada de quinta-feira. É justamente com esses eleitores que Boulos buscará dialogar, buscando criar uma virada histórica e sem precedentes na reta final da campanha.
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