Novas mensagens dos diálogos entre procuradores da Lava Jato mostram que, ao contrário do que afirmou Deltan Dallagnol em entrevistas, informações privilegiadas da Operação foram liberadas para pressionar políticos a fazerem delações.
Em um diálogo entre os procuradores Orlando Martello e Carlos Fernando Santos Lima, Martello pergunta qual foi a estratégia para ‘revelar os próximos passos na Eletrobras’. Santos Lima diz não saber do que o colega estava falando, mas assume um método. “Meus vazamentos objetivam sempre fazer com que pensem que as investigações são inevitáveis e incentivar a colaboração”.
Apesar de negar em entrevistas o uso da prática, Dallagnol mesmo foi um dos que utilizou do método para inflamar a imprensa a divulgar uma colaboração dos Estados Unidos na investigação contra Bernardo Freiburghaus, apontado como operador de propinas da Odebrecht, por exemplo. Em uma mensagem à um jornalista do jornal O Estado de S. Paulo, o procurador escreve:
“O operador da Odebrecht era o Bernardo, que está na Suíça. Os EUA atuarão a nosso pedido, porque as transações passaram pelos EUA. Já até fizemos um pedido de cooperação pros EUA relacionado aos depósitos recebidos por PRC. Isso é novidade. Vc tem interesse de publicar isso hoje ou amanhã, [nome do repórter], mantendo meu nome em off? Pode falar fonte no MPF. Na coletiva, o Igor disse que há difusão vermelha para prendê-lo, e há mesmo. Pode ser preso em qualquer lugar do mundo. Agora com os EUA em ação, o que é novidade, vamos ver se conseguimos fazer como caso FIFA com o Bernardo, o que nos inspirou.”
Ao compartilhar a informação com outros procuradores no grupo do Telegram, Dallagnol confirmou a manchete de capa do jornal. Santos Lima retornou: “Tentei ler, mas não deu. Amanhã vejo. Vamos controlar a mídia de perto. Tenho um espaço na FSP, quem sabe possamos usar se precisar.”
Deltan Dallagnol encontra-se em uma situação complicada em relação ao seu cargo de chefe da força-tarefa em Curitiba. No momento, o Conselho Nacional do Ministério Público mantém os processos movidos contra o procurador – um deles foi aberto em decorrência das mensagens reveladas pelo site The Intercept Brasil e demais parceiros.
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