Política

Da CPI da Covid a da Petrobras: discurso do governo sobre investigações no Congresso mudou

Fala atual do presidente destoa sobre outras comissões. Há dois meses, oposição tentou criar nova frente para apurar irregularidades no MEC, mas Ciro Nogueira conseguiu desmobilizar iniciativa; relembre

Foto: EVARISTO SA / AFP
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Diante da crise na Petrobras e da alta consecutiva de preços nos últimos meses, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem insistido nos últimos dias na ideia de abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a empresa. A quatro meses das eleições, o pré-candidato à reeleição afirma ter conversas com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sobre a ideia, e não vê contradição em pedir a investigação de uma pessoa que ele mesmo indicou. O discurso destoa das movimentações feitas há dois meses para enterrar a CPI da do MEC, proposta pela oposição no Senado, e também de toda a postura adotada durante a CPI da Covid, finalizada em setembro de 2021 e tratada pelo presidente e sua base como um “desserviço à população”.

Em abril, na tentativa de emplacar uma CPI do MEC, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) chegou a anunciar ter obtido o número mínimo de assinaturas para pedir a abrir a abertura de uma CPI para investigar suspeitas de irregularidades no Ministério da Educação. No período, sob pressão, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, foi às redes sociais tentar baixar a temperatura, e disse que a comissão seria apenas “disse-me-disse sem provas” e classificou a iniciativa do senador da oposição como “sinal de desespero”, por Randolfe atuar como coordenador da campanha ex-presidente Lula.

Sob a coordenação de Nogueira, o governo montou uma força-tarefa para impedir a abertura do inquérito, e convenceu senadores a retirar o apoio antes de o requerimento ser protocolado. A manobra foi bem-sucedida após três parlamentares governistas desistir de assinar o documento.

A CPI da Pandemia, instalada no Senado durante seis meses em 2021, colocou o governo Bolsonaro no foco das investigações, e foi concluída no ano passado pedindo o indiciamento do chefe do Executivo e outras 65 pessoas. Mesmo antes de ser instaurada, bolsonaristas intensificaram ataques a membros da comissão, como o relator da comissão, o senador Renan Calheiros (MDB-AL).

Ainda antes da CPI da Covid ser iniciada, em abril de 2021, Bolsonaro criticou a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso pela decisão de mandar instalar a comissão. Bolsonaro afirmou que Barroso fazia “politicalha” e “ativismo judicial”. À época, o país vivia a fase mais crítica da pandemia de Covid-19, com mais de 80 mil mortes somente no mês de abril, e a marca de 400 mil óbitos pelo vírus. Bolsonaro disse que o Brasil estava “sofrendo” e não precisava de “conflitos”.

Durante todo o funcionamento da comissão em 2021, a base aliada do governo dentro e fora do Senado agiu para afirmar que a intenção da CPI da Covid era ser usada para discurso político com fins eleitoreiros. Já na fase final, quando o relatório final foi apresentado, o senador Flavio Bolsonaro (PL-RJ) declarou que o seu pai receberia o conteúdo com uma gargalhada, e chamou o texto de “piada de mau gosto”.

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