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Cuba vive desesperança, cinco anos após restabelecer relações com EUA

Com novas sanções norte-americanos, cubanos vivem dificuldades de abastecimento

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O dia 17 de dezembro de 2014 era uma data histórica com o anúncio do presidente norte-americano Barack Obama do restabelecimento de relações diplomáticas entre Havana e Washington. Cinco anos mais tarde, o presidente Donald Trump colocou fim nas esperanças de aproximação entre os dois países.

“Todos somos americanos”, dizia Barack Obama no dia 17 de dezembro de 2014. Cinco anos mais tarde, o discurso soa vazio para os cubanos. A promessa de abertura e de normalização das relações entre os Estados Unidos e Cuba não passou de um parênteses de esperança que acabou muito rápido para os cubanos.

Na Plaza Vieja da antiga Havana, cercada por arcadas e casas coloniais coloridas, Martika volta das compras com poucas coisas em suas sacolas. Os cubanos vivem neste momento um período econômico difícil: café e papel higiênico aparecem e desaparecem regularmente das prateleiras do comércio, assim como o combustível, que também falta com frequência.

A crise energética e de abastecimento está em parte relacionada com a volta de sanções norte-americanas.

Dificuldades com transporte

O restabelecimento de relações diplomáticas entre Havana e Washington, há cinco anos, fez os cubanos acreditarem no final do embargo comercial sobre Cuba, ou, ao menos, o retorno de certas operações de comércio. Contudo, o novo ocupante da Casa Branca tinha outros planos.

As sanções norte-americanas e a aplicação do capítulo 3 da lei Helms-Burton, aplicadas por Donald Trump, afetaram fortemente o abastecimento de petróleo da ilha e o transporte de mercadorias.

Martika, uma aposentada da velha Havana, não acredita na melhora das relações entre Cuba e os Estados Unidos. Em 2014, no entanto, ela tinha sentido mudanças reais: “Era como se dois velhos amigos tivessem brigado. Mas amigos também são feitos para se reconciliar, eles conversaram e a situação melhorou. Foi o que aconteceu e nos deu muita esperança “.

A aposentada, que nunca saiu da ilha, lembra a abertura e a cobertura da mídia de que Cuba se beneficiou naquele momento. Muitos turistas norte-americanos tiveram mais facilidades para viajar pela ilha.

Golpe para o turismo

Muitos cubanos apostaram na abertura. Muitos pequenos empreendedores privados que abriram um pequeno restaurante ou reformaram um carro antigo norte-americano para transformá-lo em “autoclasico” e levar turistas para passear.

“Os norte-americanos são os que preferem passear nesse tipo de carro, são os turistas que mais gastam, quando veem a Havana eles querem fazer tudo, ver tudo”, explique Yoldani Abasto, dono de um Ford rosa de 1951. O homem de 30 anos agora tem dificuldade em pagar suas contas por falta de turistas dos Estados Unidos.

Em junho, Trump proibiu os cruzeiros de irem às maiores ilhas do Caribe. Desde a abertura desejada por Barack Obama e Raul Castro, dois cruzeiros por dia desembarcavam em Havana.

“Esperamos tanto tempo”

A Feria San José, um enorme galpão onde estão reunidas centenas de pequenas lojas de bugigangas turísticas, está esvaziada há alguns meses. Carlos faz e vende pinturas no segundo andar da feira, suas paisagens coloridas de Havana e suas colagens artísticas vendem muito pouco ultimamente.

O risonho artista de 50 anos lembra com nostalgia a era de Obama. “Vivemos aquele momento como um grande passo à frente e sabíamos que a melhora nas relações com os Estados Unidos ajudaria o povo, pois esperávamos tanto tempo. Fiquei muito orgulhoso pelo meu país quando um presidente norte-americano como Obama veio nos visitar”.

Foi de fato a viagem de Barack Obama em março de 2016 a Havana que marcou especialmente os cubanos, era a primeira viagem de um presidente dos Estados Unidos em exercício desde a revolução de 1959.

“Mas agora o que podemos fazer com esse louco de Trump?”, desespera-se o vendedor de pinturas, que considera insana a última medida do presidente dos EUA de proibir voos diretos entre os Estados Unidos e Cuba, exceto em Havana. “Todas essas sanções afetam os cubanos que viajam, isso nos afeta, não o Estado”.

De fato, viagens e transferências de dinheiro para Cuba foram drasticamente reduzidas nos últimos meses.

No jornal semanal cubano Juventud Rebelde, que Alfredo lê cuidadosamente sentado em um banco na velha Havana, pudemos ver no domingo um resumo da 17ª cúpula do Alba que, entre outras coisas, se reuniu neste final de semana na capital os chefes de estado de Cuba, da Venezuela e de Nicarágua.

Este 17 de dezembro está muito distante daquele de 2014. “Essa política norte-americana [de bloqueio] em relação a Cuba por 50 anos não era normal, pois era justificada apenas pelo fato de ser contra a nossa revolução. Obama foi o único capaz de mudar esse relacionamento, mas agora com Donald Trump, tudo voltou ao que era antes”, disse Alfredo, que considera” caótica “a atual política externa dos Estados Unidos.

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