Política

Crise bolsonarista divide PSDB entre antipetismo e pragmatismo

Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite está prestes a assumir a presidência do partido

O governador gaúcho Eduardo Leite. Foto: Maicon Hinrichsen/Divulgação
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A poucos dias de o governador Eduardo Leite assumir o comando do PSDB no lugar de Bruno Araújo, tucanos enfrentam um dilema sobre como fazer oposição ao governo do presidente Lula. Líderes do partido acreditam que o desgaste do bolsonarismo após a tentativa de golpe em Brasília abriu uma janela de oportunidade para que a sigla se reconecte ao antipetismo, mas já há divergência sobre o tom do enfrentamento.

Nesta quarta-feira, por exemplo, o PSDB reagiu à institucionalização do impeachment de Dilma Rousseff como “golpe” no site do Palácio do Planalto. O perfil da sigla nas redes sociais afirmou que tratava-se de “discurso extremista”. A postura incisiva, no entanto, contrasta com o tom de Leite até aqui. O governador gaúcho adotou uma estratégia de conciliação e tem falado em fazer “oposição responsável”.

Estrategistas tucanos afirmam que a dificuldade de Leite é que seu segundo mandato no Rio Grande do Sul, cuja situação fiscal ainda é delicada, depende de parcerias com o governo federal, o que praticamente o obriga a moderar a retórica.

A situação da governadora Raquel Lyra é ainda mais complexa, já que o eleitorado de Pernambuco é majoritariamente lulista e o cofre do estado está combalido. Pesquisas internas da legenda mostram que o eleitorado tucano migrou para o bolsonarismo e passou a rejeitar a sigla e a identificá-la como “mais do mesmo”.

Propaganda refeita

Internamente, a crise de identidade tucana é atribuída principalmente ao candidato tucano à Presidência em 2018, Geraldo Alckmin. Naquela campanha, a estratégia foi atacar mais Bolsonaro do que o PT. No partido existe praticamente um consenso de que o maior erro estratégico foi abrir mão do antipetismo.

A saída vista agora no PSDB é apostar menos nas antigas bandeiras e nos legados dos governos Fernando Henrique Cardoso, como a responsabilidade fiscal e o controle da inflação. Internamente, o entendimento é que o foco será no personalismo de seus novos líderes políticos, com perfil mais jovem. A avaliação é que o PSDB pode se reconectar com o eleitorado por meio das histórias dessas novas lideranças e menos pelos valores que a sigla representou historicamente.

As novas inserções de TV do PSDB, que devem ir ao ar a partir de fevereiro, vão mostrar que o futuro da legenda será formado pelas novas lideranças. Leite terá protagonismo, já que é visto como o candidato a presidente natural em 2026. Lyra e o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, também terão destaque. Os filmes estavam sendo gravados na semana anterior aos atos golpistas, mas precisaram ser alterados após o episódio. Nas gravações, o trio tucano de governadores vai criticar a destruição. Mesmo Riedel, que se associou a Bolsonaro na última campanha e hesitou em participar da reunião dos governadores com Lula, condenou os ataques.

Leite tem evitado antecipar qual a linha que o partido seguirá a partir de fevereiro, mas já deu alguns sinais. No xadrez político nacional, ele afirmou que tentará buscar apoio e formar um bloco de partidos do que chama de “centro democrático”, com legendas nanicas como Cidadania e Podemos. Ele também tentou atrair para esse campo o MDB e o União Brasil, mas as duas siglas se alinharam ao governo Lula.

Na disputa partidária, por sua vez, o gaúcho tem defendido uma redistribuição de poder na sigla que antes costumava ser comandada de São Paulo. No estado, o PSDB está acéfalo após perder o comando do governo estadual. Mesmo as quase 300 prefeituras que a sigla comanda no estado devem sofrer defecções. A expectativa é que os prefeitos migrem para o PSD de Gilberto Kassab, secretário de governo e o principal articulador político da gestão de Tarcísio de Freitas. Nas últimas semanas, Kassab tem feito reuniões com os prefeitos em busca de apoio.

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