Política
CPI da Cemig: Kroll acessou computador de gerente e dados sigilosos da empresa
A empresa foi denunciada por improbidade administrativa


O relatório da CPI da Cemig apresentado nesta quinta-feira 17 aos deputados mineiros, trouxe de novo à baila a Kroll, companhia norte-americana especializada em investigação e cibersegurança.
Em 2004, a empresa foi pivô, junto ao banqueiro Daniel Dantas, da operação Chacal que apurou o uso de grampos ilegais e acesso ilegal a dados sigilosos na disputa do controle da Brasil Telecom. Dantas foi absolvido em 2012 por falta de provas.
Quase vinte anos depois, o escritório brasileiro da Kroll está mais mais uma vez envolto em situações similares a espionagem.
Videos do circuito interno da Cemig apresentados à comissão mostram parte da equipe da Kroll invadindo, em dezembro de 2020, a estação de trabalho do então gerente de Direito Administrativo da companhia Daniel Polignano Godoy.
“A Kroll, mesmo sem qualquer cobertura contratual e nem mesmo assinatura de termo de confidencialidade, teve acesso a documentos, dados e informações sensíveis e sigilosas da Cemig, tendo inclusive promovido a coleta de computadores e telefones funcionais de empregados da companhia, mesmo ainda sob esta condição precária de contratação verbal”, aponta o relatório ao qual CartaCapital teve acesso. A empresa foi denunciada por improbidade administrativa.
De acordo com a relatoria, o contrato de R$ 3,4 milhões com a empresa só foi validado cinco meses após o início da “prestação de serviços”, incluindo a cláusula de confidencialidade acerca dos dados ao qual ela teve acesso. Segundo a Cemig, a contratação estaria abarcada pela inexigibilidade de licitação. A contratação teria como objeto “a prestação dos serviços de assessoramento forense e econômico-financeiro’. Porém, a empresa não conseguiu comprovar documentalmente à CPI a prestação de tais serviços, segundo consta no relatório.
A relatoria aponta ainda para a seriedade dos indícios, uma vez que os dados sigilosos são da Cemig “uma pessoa jurídica, integrante da administração indireta do Estado, que possui ações comercializadas na Bolsa de Valores”.
Com base nisso, a relatoria aponta suposto crime de improbidade praticado pelo presidente da Cemig, Reynaldo Passanezi Filho, e Eduardo Soares, Luiz Fernando de Medeiros Moreira, Hudson Felix Almeida, Osias da Silva Galantine.
Leia a nota da Cemig na íntegra:
“Cemig esclarece que a Kroll foi contratada após a Companhia ter sido comunicada pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG) de apurações sobre a conduta dos então gestores da área de Suprimentos em supostos casos de corrupção. Esses gestores foram afastados (sem prejuízo dos vencimentos) para apuração das denúncias. As investigações ocorrem exclusivamente a partir de ofícios do MPMG recebidos pela Cemig sobre corrupção na área de Suprimentos. Como empresa de investigação forense independente, a Kroll tem autorização para captar informações em equipamentos que pertencem à Companhia, o que ocorreu em equipamentos corporativos utilizados por investigados e custodiantes. Custodiantes são aqueles que podem ter armazenadas informações de interesse das investigações, em razão de sua atuação profissional. Esse padrão de investigação observa os requisitos da legislação internacional à qual a Cemig está submetida, por possuir ações negociadas nas bolsas de Nova York e Madri, além da de São Paulo”
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