“Minha mãe sempre trabalhou em casa de família, sem nenhuma garantia. Minha avó era zeladora do Theatro Municipal e dizia para eu estudar para não ser condenada a passar a vida limpando a privada dos outros.” O relato da universitária Carina Inacio é representativo das agruras vivenciadas por milhões de jovens paulistanos periféricos, que cresceram sem perspectivas de uma vida economicamente estável, com oportunidades de trabalho nas áreas em que gostariam de atuar. Aos 26 anos, ela frequenta um curso superior de Gestão de Negócios para escapar da sina das mulheres de sua família, sempre relegadas a ocupações servis. Moradora de São Mateus, no extremo Leste da capital paulista, precisou buscar sozinha referenciais para quebrar com o ciclo histórico de exclusão social.
“Existe toda uma estrutura social para manter essa lógica, na qual alguns terão todas as oportunidades do mundo, enquanto muitos serão forçados a trabalhar com o que não gostam na luta pela sobrevivência”, afirma a estudante, que teve a família devastada com chegada do crack no início dos anos 1990 e chegou a passar fome durante parte da infância. Inacio é uma das pesquisadoras envolvidas no estudo “Injustiças estruturais entre jovens na cidade de São Paulo”, realizado pela Rede Conhecimento Social a pedido da ONG Juventudes Potentes. A proposta da pesquisa é desvendar os percalços enfrentados pelos jovens periféricos no mercado de trabalho.
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