Convidados para a base, MDB e PSD almejam mais espaço na Esplanada do que o sinalizado por Lula

Dividido sobre fazer parte do novo governo, União Brasil tem interesse em se aliar ao PT para conquistar cargos no Legislativo e quer ter o controle do Orçamento

Simone Tebet e Lula. Foto: Nelson Almeida/AFP

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A um mês de tomar posse, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva tenta encontrar espaços para acomodar partidos que convidou para fazer parte do seu novo governo e conter o apetite por cargos. Em Brasília nesta semana para reuniões políticas, o petista indicou a integrantes do MDB e do PSD que as siglas poderão controlar menos ministérios do que inicialmente previam. Já com o União Brasil, a negociação passa pelo apoio do PT para que parlamentares da sigla ocupem postos importantes no Legislativo.

Ao deputado Baleia Rossi (SP), presidente do MDB, Lula disse que o partido receberá ao menos uma pasta no futuro governo, ainda a ser definida. Caciques da sigla esperam ser contemplados, no entanto, com três ministérios.

O petista não esclareceu se nomearia a senadora Simone Tebet (MDB-MS) como uma escolha pessoal ou se ela ocuparia a vaga no primeiro escalão reservada à legenda. Lula e Baleia se reuniram na noite de segunda-feira no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, onde trabalha a equipe de transição.

Caso a intenção dos emedebistas seja levada em conta por Lula, uma das cadeiras tende a ser ocupada por um senador da sigla, possivelmente o filho de Renan Calheiros, o recém-eleito Renan Filho, ex-governador de Alagoas. Dessa forma, o petista contemplaria o clã que trabalhou ativamente pela sua vitória desde o primeiro turno.

O outro posto seria entregue a um deputado. Este poderia ser indicado pelo governador do Pará, Helder Barbalho, que tem influência sobre a bancada da Câmara.

Por essa costura, o terceiro ministério seria de Tebet, que terminou a corrida ao Palácio do Planalto em terceiro lugar e declarou apoio a Lula no segundo turno. O ingresso dela na campanha foi determinante para conquistar parte do eleitorado de centro.


Como mostrou O GLOBO, há, contudo, uma disputa velada nos bastidores entre o PT e Tebet. Correligionários de Lula veem com ressalvas a indicação da emedebista para o Ministério do Desenvolvimento Social, destino mais provável da senadora.

Petistas temem que, com apelo eleitoral da pasta, que é responsável pelo pagamento do Bolsa Família, a emedebista se cacife para a disputa presidencial de 2026.

Outros acenos para garantir os emedebistas na base foram as declarações de Lula e de Fernando Haddad (PT), cotado para o Ministério da Fazenda, de que o novo governo apoiará uma das PECs da Reforma Tributária. O tema é tido como uma das bandeiras do MDB.

No caso do PSD, o partido tem hoje três nomes cotados à Esplanada, mas apenas dois devem virar ministros. Disposta a fazer parte da base de Lula, a sigla de Gilberto Kassab considera que terá o direito de indicar um nome oriundo da Câmara e outro do Senado. O PT, porém, ainda não foi explícito a respeito dessa demanda e também não indicou quais áreas seriam reservadas aos quadros da legenda.

Entre os deputados, já há um alinhamento pelo nome de Pedro Paulo (PSD-RJ). Além de ser um nome de confiança do prefeito do Rio, Eduardo Paes, o parlamentar conquistou o apoio dos colegas. Segundo parlamentares do PSD, ainda há dúvidas sobre qual pasta ele ocuparia se ganhasse o aval de Lula. Já no Senado, a disputa está acirrada. Trabalham pela indicação o senador Alexandre Silveira (PSD-MG), que poderia ser alocado em uma área de Infraestrutura, e Carlos Fávaro (PSD-MT), que mira a Agricultura. Os três estiveram com Lula na terça-feira em um hotel em Brasília.

Anúncio de ministros

Amanhã, Lula deve começar a anunciar o nome de ministros, segundo o colunista Lauro Jardim: José Múcio Monteiro para a Defesa; e Fernando Haddad para a Fazenda.

Na terça-feira passada, o presidente eleito também recebeu os líderes do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), e no Senado, Davi Alcolumbre (AP). O partido ainda está dividido sobre fazer parte do novo governo, mas tem interesse em se aliar ao PT para conquistar cargos no Legislativo. O esforço se dá, principalmente, para ter o controle do Orçamento. Segundo parlamentares da legenda, uma das intenções é poder indicar o relator-geral, posto cobiçado desde que o orçamento secreto foi criado.

Entre os parlamentares do partido, uma parte deles era aliada de Jair Bolsonaro e gostaria de fazer oposição, enquanto outra defende a adesão imediata ao governo. Há ainda uma terceira ala, que, segundo interlocutores, forma uma maioria a favor da “independência”. Como o assunto ainda precisa ser debatido internamente, a movimentação por ocupação de espaço em ministérios não prosperou.

Diferentemente de PSD e MDB, partidos que atuaram ao lado de Lula no segundo turno, o União Brasil ficou mais afastado. Isso ocorreu apesar da defesa do presidente da sigla, Luciano Bivar, de integrar a base de Lula.

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