Política

Congresso é que deve escolher como reformar Constituição, diz Haddad

Candidato do PT visitou Lula pela última vez antes do primeiro turno no domingo 7

O candidato petista criticou a decisão de Fux de proibir Lula de dar entrevista
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Na 15ª visita ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, detido há 178 dias na carceragem da Superintendência da Policia Federal, em Curitiba, o candidato do PT à presidência da República, Fernando Haddad, quebrou a rotina das visitas anteriores. Antes de entrar no prédio, foi até a Vigília Lula Livre para participar do ato “bom dia presidente Lula” – o grito que os militantes repetem todas as manhãs, desde 8 de abril.

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Microfone em punho, Haddad puxou o coro acompanhando do coordenador nacional do Movimento do Trabalhadores Sem-Terra, João Pedro Stédile e da senadora e presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Era a última visita antes do pleito do primeiro turno, marcado para o próximo domingo 7.  

Quase duas horas depois, Haddad conversou com os jornalistas. Criticou a decisão do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, que revogou a liminar concedida por seu colega de STF, Ricardo Lewandowski, e vetou a publicação de qualquer entrevista concedida por Lula na prisão. Até aquele momento o ministro Lewandowski ainda não havia determinado que a Justiça do Paraná cumprisse a sentença de liberar a entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.

“Discuti com o presidente Lula a questão da ameaça à liberdade de imprensa que estamos vivendo. Quero aqui me solidarizar com todos os veículos que procuram levar aos cidadãos as informações necessárias”. Disse que esta medida prejudica a própria imprensa, uma vez que tem na Constituição sua garantia de poder informar, além da sociedade ao direito a informação. “Lula é uma liderança importante que quer se expressar e tem o que dizer” afirmou.

Para ele, a sentença do ministro Fux deve ser vista com preocupação uma nuvem carregada contra um princípio constitucional consagrado [a liberdade de imprensa] nas democracias modernas. “Nós defendemos a liberdade de imprensa, uma vez que a democracia só se sustenta com a liberdade de expressão”. Reiterou que o ex-presidente Lula está à disposição de todos os órgãos de imprensa, nacionais e internacionais, “não faz escolha do veículo”, para falar de programa de governo, de futuro e de Brasil. “Temos muitas ameaças a democracia pairando no ar e esta é uma delas”.

Haddad foi questionado sobre uma declaração de, caso seja eleito, convocar uma Assembleia Nacional Constituinte. O petista afirmou que “não é isso que consta no programa do PT”. Segundo ele, a preocupação é que o Congresso a ser eleito tenha uma agenda de reformas constitucionais importantes e que ele escolha o caminho mais adequado para fazê-las.

Para isso, será preciso discutir questões como a mudança do regime tributário, “uma vez que hoje é o pobre que paga imposto e não o rico”. Citou ainda a reforma do sistema bancário contra o cartel que se estabeleceu no país e “espolia a população cobrando juros extorsivos”, além da questão dos regimes próprios, uma vez que muitos estados e municípios estão quebrados. “A agenda é ampla e o Congresso deve se debruçar sobre esses temas”.

Da Vigília, Haddad seguiu para uma caminhada pela rua XV, no centro de Curitiba. Na Boca Maldita, tradicional ponto encontro e local das grandes manifestações democráticas, o petista falou da necessidade de buscar o voto nestes poucos dias que antecedem o pleito do primeiro turno. Agradeceu as mulheres pela manifestação do último sábado, onde mais de 50 mil pessoas foram às ruas para protestar contra a onda de ódio e violência. “Curitiba deu mais uma demonstração de fervor democrático”.

O último compromisso foi na sede do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, onde se reuniu com centenas de sindicalistas e lideranças de todo o estado. Recebeu uma carta contendo dez compromissos com a classe trabalhadora. Haddad afirmou que, “se achamos ruim o governo Temer, não se pode imaginar o que seja o Paulo Guedes [assessor econômico de Jair Bolsonaro e cotado para ser seu ministro de Economia, caso seja eleito] no comando da economia do país”. Para ele, trata-se de um economista neoliberal sem limites para cortar direitos e conter os avanços socais da população. “Trata-se de um neoliberal cujo radicalismo beira às raias da crueldade”.

Lembrou que o anúncio do candidato à vice de Bolsonaro, general Hamilton Mourão, de cortar o 13º salário dos trabalhadores, é uma ignorância total em relação aos direitos constitucionais, mas “trata-se de uma visão de mundo, uma maneira de enxergar as questões sócias, onde sempre o trabalhador paga pelos ajustes econômicos”.

Sobre as questões colocadas pelos trabalhadores na Carta, Haddad afirmou que se trata da pauta do programa de seu governo. “Vocês podem contar que vamos revogar a reforma trabalhista. Vamos rever várias questões, como auditorias sobre a questão da dívida e todas as demais que forem necessárias, inclusive dos contratos de privatizações e tudo o que for feito de última hora” disse Haddad.

Falou da necessidade de seu governo enfrentar questões que devolvam ao país um projeto de Brasil menos injusto. “Vamos adaptar nossa agenda à profundidade da crise”. Reiterou a questão da concentração bancária no país e disse que “não é justo um cidadão depositar na poupança e receber juros de 6% ao ano, mas quando usa o cheque especial paga 100%”.

Citou a concentração dos meios de comunicação como outro desafio, a fim de garantir a liberdade de imprensa no país. Disse que os sites de notícias de agências internacionais correm o risco de deixar de serem editados no Brasil em função de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, impetrada no STF por alguns jornais brasileiros, que alegam não terem as agências 70% de capital nacional.

“Queremos um Brasil com desenvolvimento social, com trabalho e educação. O Brasil dos meus sonhos é aquele que brasileira e brasileiro, ao invés de carregar uma arma, traga em uma mão um livro e noutra a carteira de trabalho”.

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