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Como Lula trabalha para que a COP28 marque uma virada no protagonismo florestal

Negociações com países amazônicos, Indonésia e Congo preparam terreno para tentar ‘tomar’ liderança do mundo rico nestes debates

Lula discursa durante cerimônia em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente no Palácio do Planalto, em Brasília, em 5 de junho de 2023 (Foto: EVARISTO SA / AFP)
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Luiz Inácio Lula da Silva enxerga uma inversão de papéis no debate global sobre a preservação de florestas tropicais. Quem dita o rumo da prosa e bota propostas na mesa, lamenta, são os países ricos – e não os detentores de grandes extensões florestais, em geral mais pobres. Para que o protagonismo fique com os donos das matas, o presidente traçou alguns planos.

Lula, diz um auxiliar presidencial, quer que a virada no protagonismo seja a marca da edição deste ano da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP28, que acontece entre o fim de novembro e o começo de dezembro em Dubai. Se depender do petista, o evento verá Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo assumirem a liderança no debate. Juntos, os três possuem 52% das florestas tropicais do planeta.

Como uma etapa preparatória para a COP28, o Brasil sediará, em agosto, uma reunião com nações sul-americanas que fazem parte da Amazônia. O encontro será em Belém, cidade eleita sede da COP30, em 2025. Devem participar da reunião Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Suriname, Venezuela e as Guianas. A ideia do governo é definir uma posição comum sobre a Amazônia e levá-la à Indonésia e ao Congo antes da conferência do clima do fim deste ano.

Apesar do peso florestal comum, Brasil, Indonésia e Congo nunca atuaram juntos nesta seara. Isso começou a mudar durante a COP27, realizada em novembro de 2022. Enquanto a conferência ocorria no Egito, o trio firmava na Indonésia um acordo sobre “Cooperação em Florestas Tropicais e Ação Climática”. Pelo Brasil, assinou o embaixador na Indonésia na época, José Amir da Costa Dornelles (que será substituído em breve pelo embaixador George Monteiro Prata).

O comunicado conjunto sobre o acordo dizia que os países “almejavam aprofundar a cooperação” em três áreas: restauração de áreas florestais em situação crítica, manejo e conservação das matas que estão de pé e bioeconomia. Mais: “Destacamos que pagamentos por resultados para reduzir o desmatamento e para manter e conservar os estoques de carbono devem desempenhar um papel-chave no contexto das deliberações de um novo objetivo coletivo quantificado de financiamento”.

O capítulo “financiamento” em defesa das florestas é uma das grandes preocupações de Lula. O presidente tem dito nas viagens internacionais que não quer ver a Amazônia transformada em um “santuário”, pois a região abriga 28 milhões de pessoas que precisam ter algum meio de vida. O desafio, na visão dele, é encontrar formas de proporcionar esse meio de vida, e nisso o dinheiro internacional pode contribuir.

Lula tem enfatizado que o mundo rico não cumpre o compromisso de dar 100 bilhões de dólares por ano a nações emergentes para que estas protejam o meio ambiente. O compromisso faz parte do chamado “Acordo de Paris”, de 2015. 

Ao disputar a eleição em 2020, Joe Biden, o presidente americano, disse na televisão que daria 20 bilhões para preservar a Amazônia. Jair Bolsonaro não tinha interesse na promessa. Às vésperas de Lula visitar Biden em Washington, em fevereiro, o governo americano vazou à mídia a disposição de doar 500 milhões de dólares ao Fundo Amazônia. 

Em abril, Biden aproveitou uma reunião virtual sobre meio ambiente com cerca de 25 chefes de governo, para anunciar que proporia ao Congresso americano algo diferente. “Vou pedir verbas para contribuir com US$ 500 milhões para o Fundo Amazônia e todas as outras atividades relacionadas ao clima nos próximos cinco anos para ajudar o Brasil a renovar seus esforços para acabar com o desmatamento até 2030.”

O anúncio ocorreu logo após Lula voltar da China. Naquela viagem, o brasileiro comentou, a propósito da guerra na Ucrânia, que EUA e Europa eram os responsáveis pela continuidade do conflito. “É preciso que os Estados Unidos parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz. É preciso que a União Europeia comece a falar em paz pra que a gente possa convencer o [presidente russo Vladimir] Putin e o [presidente ucraniano Volodymir] Zelensky de que a paz interessa a todo mundo e a guerra só tá interessando, por enquanto, aos dois.”

De acordo com um auxiliar de Lula, a agenda ambiental tem sido motivo de relações positivas com o governo Biden até agora. Há negociações, prossegue a fonte, para que Dinamarca e Japão entrem no Fundo Amazônia. Ao surgir em 2008, durante o segundo governo Lula, o fundo recebia recursos apenas da Alemanha e da Noruega.

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