Política

Com recuos de Bolsonaro, dá para cravar fim do Ministério do Trabalho?

Presidente eleito afirmou que a pasta será extinta, mas mudanças de posição sobre outros temas não permitem certezas por ora

Bolsonaro já mudou discurso em relação à embaixada em Israel e fusão de ministérios
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Jair Bolsonaro confirma, Jair Bolsonaro recua. Nos dias seguintes à sua vitória, o presidente eleito reincide no roteiro a tal ponto que confirmações de medidas a serem tomadas a partir de 1º de janeiro sempre merecem reserva. Nunca se sabe se serão ratificadas ou retificadas num futuro próximo. 

Nesta quarta-feira 7, Bolsonaro afirmou que o Ministério do Trabalho será extinto. “Vai ser incorporado a algum ministério”, garantiu, sem entrar em maiores detalhes, após almoço com João Otávio de Noronha, presidente do Superior Tribunal de Justiça. 

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A pressão contra a medida já teve início entre lideranças sindicais e ganhou apoio até do próprio ministério. Uma nota da pasta divulgada na terça-feira 6 sustenta que “o futuro do trabalho e suas múltiplas e complexas relações precisam de um ambiente institucional adequado para a compatibilização produtiva.” Lembra que o ministério completará 88 anos de existência em 26 de novembro e garante ser “seguramente capaz de coordenar as forças produtivas”. 

Bolsonaro já mostrou ter maior sensibilidade em relação à pauta dos empresários, e seu futuro ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, reforça o discurso ao afirmar que “se dependesse das centrais sindicais brasileiras, o deputado Bolsonaro não era presidente”. 

A declaração de Lorenzoni dá alguma segurança para se crer no fim da pasta. A equipe de transição do presidente eleito não se deixa influenciar por qualquer pressão, mas costuma se curvar com maior naturalidade aos clamores de quem apoiou a candidatura vitoriosa. 

As novas declarações sobre uma possível transferência da embaixada  brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém são um bom exemplo. Obsessão do presidente eleito para tentar emular Donald Trump, a confirmação da medida a um jornal israelense e à própria mídia nativa causou embaraços imediatos.

O Egito cancelou na segunda-feira 5 uma visita que Aloysio Nunes Ferreira, ministro das Relações Exteriores, faria ao país. O risco da transferência para a relação do Brasil com os países árabes, grandes importadores de carne nacional, acendeu um alerta. No dia seguinte ao cancelamento da viagem diplomática, Bolsonaro afirmava que a mudança da embaixada “não estava decidida”. 

Duas fusões de ministérios aventadas na campanha e nos dias seguintes à sua vitória já não devem ocorrer. Após críticas não apenas de ambientalistas, mas também de representantes do agronegócio, o presidente eleito parece ter desistido de unir os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. “Pelo que tudo indica”, segundo o próprio, serão duas pastas distintas. 

Ao juiz Sérgio Moro, Bolsonaro prometeu um “superministério” da Justiça que contemplasse também a Controladoria-Geral da União, responsável por combater a corrupção na Administração Pública, mas também detectar falhas nas políticas adotadas. Após servidores da pasta defenderem a independência funcional do órgão, Bolsonaro sugeriu que a CGU pode ter seu status de ministério mantido. 

Não há nada de errado em recuar quando se antecipa consequências negativas de uma decisão do Executivo. Pelo contrário, é até sadio e mostra algum nível de interlocução. O problema é não saber se as pressões contrárias sempre terão sucesso, como no caso das críticas ao fim do Ministério do Trabalho.  

Bolsonaro mostrou disposição para recuar quando o agronegócio ou outro setor aliado chiou, mas não deve ter a mesma sensibilidade quando as críticas partirem de seus adversários. 

Mais importante que o presidente eleito recuar em uma ou outra proposta, é saber até onde vai sua disposição de ouvir críticas e revisar seus planos. Por enquanto, contamos apenas com sua palavra e a de sua equipe. Até sua posse, ela garantirá mais dúvidas que certezas. 

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