Política

Com Haddad vice, PT passa a fazer disputa para além dos tribunais

Partido agora atuará em duas frentes e não ficará à espera da Justiça para avançar em sua estratégia

Provável plano B do PT caso Lula não possa disputar, Haddad mirou Alckmin em convenção
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Foi aos 44 do segundo do tempo, como definiu Fernando Haddad, agora oficializado como vice de Lula. O PT anunciou sua chapa encabeçada pelo ex-presidente e secundada pelo ex-prefeito pouco antes da meia-noite deste domingo 5, fim do prazo para as convenções partidárias. Ao fechar uma coligação com o PCdoB, o partido trouxe Manuela D’Ávila para a campanha petista e desenhou um cenário estratégico mais claro, seja qual for a decisão da Justiça sobre a elegibilidade de Lula. 

Os petistas tentavam esticar ao máximo a revelação pública da estratégia, pois Lula gostaria de esperar a definição até 15 de agosto, data limite para o registro das chapas presidenciais.

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O alerta sobre uma nova interpretação do Tribunal Superior Eleitoral, a exigir a apresentação dos nomes da chapa em até 24 horas após o fim das convenções, levou o partido a acelerar a revelação de sua alternativa construída nos bastidores. A divulgação antecipada de Haddad como vice e de Manuela como uma espécie de “suplente” do ex-prefeito torna o jogo mais nítido: se Lula não puder disputar, a dupla deve assumir a chapa definitiva.

Embora a antecipação do anúncio do vice não fosse a preferência dos petistas, há vantagens em adiantar o cenário. Primeiro, o partido terá mais tempo para consolidar Haddad como substituto de Lula, e garantir uma transferência de votos significativa se o ex-presidente for mesmo impedido de concorrer – pesquisa Datafolha de junho revelou que 30% do eleitorado garantem o voto em um nome apoiado pelo ex-presidente. O fato de o ex-prefeito e Manuela passarem a realizar agendas em nome do ex-presidente certamente ajudará neste processo.

O mais importante efeito da decisão é trazer o PT novamente para a arena política direta, isto é, para as eleições e o confronto com outros candidatos, a exemplo de Geraldo Alckmin, do PSDB. Antes, o partido estava comprometido de forma excessiva com a disputa no Judiciário. O foco excessivo nos tribunais dava aos ministros do TSE e do Supremo Tribunal Federal um grande poder, pois além de terem a prerrogativa de tornar Lula inelegível, teriam ainda controle sobre os prazos para impedi-lo ou não de concorrer.

Com Haddad como porta-voz de Lula, o PT deve ter a chance de participar de debates e sabatinas e realizar a disputa política enquanto o Judiciário se debruça sobre o caso de Lula. A atuação em duas frentes dará a chance do partido de enfrentar a situação do ex-presidente na Justiça enquanto confronta outras candidaturas nas eleições.

Um sinal claro dessa estratégia veio de Haddad na convenção que oficializou o ex-presidente como candidato à presidente. Em seu discurso, ele mirou em Geraldo Alckmin, candidato do PSDB, como adversário principal do programa petista. “De um lado temos um candidato que representa a continuidade do governo Temer”, afirmou. “Do outro lado, temos Lula, que lidera todas as pesquisas de opinião. O cenário está configurado.”

Claro que Bolsonaro também será um adversário de peso para o PT, mas por ora o partido parece deixar a disputa contra o candidato do PSL para o próprio Alckmin, que precisará desidratá-lo para chegar ao segundo turno. Ao eleger o PSDB como principal adversário, o partido avalia que a polarização entre petistas e tucanos deve voltar a ser fundamental nestas eleições.

Não se sabe ainda se Haddad absorverá, se for o caso, algo próximo dos 30% do eleitorado de Lula que prometem votar em um nome apoiado pelo ex-presidente. A campanha de Ciro pode retirar alguns votos do PT, e o partido terá de evitar o aumento do “não voto” (brancos, nulos e abstenção) se o seu candidato principal não puder disputar. Apesar de tantas incertezas, ao menos o PT terá um nome claro para fazer a disputa política durante a campanha e, quem sabe, herdar o capital político de Lula.

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