Política
Com aval de Bolsonaro, novo ministro da Justiça decide trocar chefe da PF
Em abril de 2020, uma mudança na Diretoria-Geral da corporação foi o estopim para o fim da passagem de Sergio Moro pela Justiça


O novo ministro da Justiça e da Segurança Pública, Anderson Torres, decidiu demitir Rolando de Souza do cargo de diretor-geral da Polícia Federal. A manobra foi autorizada pelo presidente Jair Bolsonaro.
Torres tomou posse na terça-feira da semana passada, em cerimônia reservada no Palácio do Planalto. Ele substituiu André Mendonça, que deixou a Justiça para voltar ao comando da Advocacia-Geral da União.
A informação sobre a troca no comando da PF foi divulgada inicialmente pelo jornal Folha de S.Paulo. Em abril de 2020, uma mudança no posto foi o estopim para o fim da passagem de Sergio Moro pela Justiça. Naquela ocasião, Bolsonaro decidiu tirar Mauricio Valeixo da diretoria-geral da PF, movimento não endossado por Moro.
O ex-juiz e ex-ministro sustenta, desde então, que o presidente tentou interferir politicamente na PF. Moro afirmou à época não ter assinado a exoneração de Valeixo, da qual teria tomado conhecimento apenas pelo Diário Oficial da União.
Por meio da troca no comando da PF e da Superintendência do órgão no Rio de Janeiro, sustenta Moro, Bolsonaro praticaria sua interferência, a fim de proteger familiares e aliados. As acusações resultaram na abertura de uma investigação pelo Supremo Tribunal Federal em 28 de abril.
Em depoimento, o ex-juiz argumentou que a famosa reunião ministerial de 22 de abril de 2020, divulgada no mês seguinte, serviria de prova contra o presidente.
“Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar foder minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar, se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira”, disse Bolsonaro na reunião. O presidente nega desde o início as acusações.
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