Política
Com aproximação ao bolsonarismo, Ciro Gomes oficializa filiação ao PSDB
Em evento em Fortaleza, o ex-presidenciável foi apontado como pré-candidato ao governo do Ceará ao lado do deputado federal André Fernandes (PL) e de outros expoentes da extrema-direita


Agora é oficial: Ciro Gomes está de volta ao PSDB, partido pelo qual se elegeu governador do Ceará em 1990 e pelo qual deve se lançar candidato a comandar novamente o estado em 2026. O evento de filiação, na manhã desta quarta-feira 22, selou a aliança entre os aliados de Ciro e o bolsonarismo.
O concorrido encontro, em um hotel de Fortaleza, teve como uma das principais figuras o deputado federal André Fernandes (PL-CE), bolsonarista estridente derrotado por Evandro Leitão (PT) na eleição para a prefeitura da capital cearense em 2024. Aplaudido ao chegar, Fernandes foi mencionado diversas vezes nos discursos – não apenas por Ciro.
Sabiá, uma das músicas mais conhecidas de Luiz Gonzaga, foi adaptada para a chegada da estrela do evento. “A todo mundo eu dou psiu/Psiu, psiu, psiu” virou “A todo mundo eu dou psiu/Ciro, Ciro, Ciro”. O mestre de cerimônias precisou pedir para que as pessoas se retirassem do palco para abrir espaço ao ex-presidenciável.
“Eu quero dizer muito obrigado de estarem aqui partidos com quem alimento afinidades e algumas desavenças. E vamos amadurecer fraternalmente. Estou falando de ti, André Fernandes, esse jovem talento”, disse Ciro, ovacionado pelo público presente. Houve elogios também a Capitão Wagner (União), policial militar da reserva que foi vereador, deputado estadual e deputado federal.
“Não devemos ter medo de afirmar que temos diferenças quanto ao olhar sobre a vida nacional, em um ambiente passionalizado, calorosamente, por uma polarização assentada no ódio, na paixão despolitizada. Mais violentas ainda ficam as contradições se não tivermos a generosidade de compreender o que, nos sendo comum, nos obriga a trabalharmos juntos”, complementou Ciro, usando o vocabulário rebuscado que ajudou a consagrá-lo.
‘Recomeço’
Ciro foi candidato à Presidência em 1998, 2002 e 2018, quando ficou sempre acima dos 10% de votos válidos. Em 2022, porém, despencou e somou pouco mais de 3%. Ao discursar, falou em “recomeço” da vida pública no PSDB.
Nome histórico do tucanato no Ceará e no País, o ex-governador e ex-senador Tasso Jereissati foi o responsável por convencer Ciro a retornar à legenda. Ele deixou clara a intenção de ver o antigo pupilo como candidato ao governo.
“Pela primeira vez em muitas eleições, pelo menos umas três ou quatro, existe hoje uma possibilidade de haver uma aliança política capaz de confrontar a hegemonia do governo estadual do Ceará”, avaliou Tasso, que citou o “papel importantíssimo” de André Fernandes nas eleições recentes. “Aqui e ali temos nossas divergências”, reconheceu.
Ao discursar, Tasso admitiu que o PSDB “caiu” nos últimos anos, e reforçou a importância de Ciro para a tentativa de renascimento. O novo filiado chega à nova-velha casa já como presidente estadual da sigla.
“Ciro vai ajudar a reconstruir um partido que, mais do que nunca, é necessário ao Brasil. Um partido de centro, que consiga dialogar com todos, que não exclua ninguém. Que esteja aberto e tenha a tolerância, a compreensão e o espírito democrático”, afirmou.
Frustrado em 2022, Ciro chegou a dizer que não tornaria a concorrer. Aos poucos, reaproximou-se dos holofotes e admitiu que voltaria a se candidatar em caso de “polarização extrema”.
“Eu não me permito ser omisso. Vou lutar no que estiver ao meu alcance, com muito alegria, a seu lado, mais uma vez”, afirmou. “Não será com radicalismo, não será com sectarismo, não será com donos da verdade, não será estimulando o ódio, a desavença entre as pessoas, que reparte famílias e destrói amizades, que este País vai a seu encontro”, completou, sem dizer como pretende convencer os bolsonaristas.
“Se o juízo mandasse em mim, eu não seria mais candidato a nada. Mas o juízo é pouco, aqui. Quem manda aqui é o coração. Vamos preparar um projeto de futuro. Vou cumprir a minha obrigação”, prometeu, momentos após dizer que não confirmaria a provável candidatura.
Apesar de o governo cearense ser chefiado atualmente por Elmano de Freitas (PT), em seu retorno ao PSDB Ciro mirou principalmente o ministro da Educação, Camilo Santana. Também petista, ele foi governador do estado e fiador da candidatura de Elmano.
“Vamos discutir, Camilo Santana. Eu vou tirar tua máscara”, bradou.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Presidente do PSDB anuncia filiação de Ciro Gomes ao partido no Ceará
Por CartaCapital
‘Polarização política de araque’: Ciro Gomes critica disputa em torno do tarifaço
Por CartaCapital