Com 95% das UTIs ocupadas, Chapecó receberá ‘motociata’ de Bolsonaro com incentivo da prefeitura

'Atendendo a um pedido meu e de motociclistas da região', disse o prefeito João Rodrigues

FOTO: MIGUEL SCHINCARIOL/AFP

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O prefeito de Chapecó (SC), João Rodrigues (PSD), confirmou nesta terça-feira 15 que a cidade receberá, no dia 26, mais uma ‘motociata’ propagada pelo presidente Jair Bolsonaro.

 

 

A visita de Bolsonaro se dá em um momento delicado para Chapecó, em meio ao avanço da Covid-19. Segundo dados da própria prefeitura atualizados nesta terça, 95% dos leitos de UTI na rede pública estão ocupados (80% na rede privada).

Chapecó tem, até esta terça, 34.742 casos registrados do novo coronavírus, com 637 mortes.


Mesmo com o sistema de saúde próximo do colapso, Rodrigues incentivou a ‘festa’ bolsonarista. Em nota divulgada à imprensa, ele detalhou a agenda de Bolsonaro na cidade e deixou clara a participação da prefeitura na organização do ‘evento’.

“Atendendo a um pedido meu e de motociclistas da região, o presidente fará uma ‘motociata’, com motociclistas dos três estados do Sul”, disse o prefeito.

 

Em SP, motociata foi um problema

O Ministério Público paulista abriu um inquérito civil na última segunda-feira 14 contra os organizadores da motociata ‘Acelera para Cristo’, que reuniu milhares de motociclistas na capital, gerou aglomerações e recebeu a presença de Jair Bolsonaro no sábado 12.

No dia da manifestação, Bolsonaro, três ministos e seis deputados – entre eles Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do ocupante do Palácio do Planalto – foram multados em 552,71 reais por não usarem máscara no ato.

O governo paulista apontou a “necessidade da manutenção das medidas preventivas já conhecidas e preconizadas pelas autoridades sanitárias internacionais, como uso de máscara e distanciamento social”.

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que foram gastos mais de 1,2 milhão de reais com o reforço no policiamento para a motociata.

A instauração do inquérito civil partiu do promotor de Justiça do MP-SP Arthur Pinto Filho, que mira Jackson Vilar e outras lideranças do movimento que ainda devem ser identificadas.

“É do conhecimento geral que o Chefe da Nação se manifesta, em todas as ocasiões que se lhe apresentam, de forma clara e direta, sem peias, por palavras e atos, contra as orientações emanadas das leis, decretos e orientações expressas por seu próprio Ministro da Saúde acerca das corretas formas não medicamentosas para o enfrentamento da pandemia”, escreve o promotor em trecho da peça.

Segundo ele, “este desrespeito às referidas normas legais é seguido pelas pessoas que o acompanham nos eventos e nos palanques e que obviamente o apoiam”. Na motociata, como mostram os registros, não foi diferente.

“E o Presidente da República agiu como sempre age no País, desrespeitou regras vigentes de trânsito (consta que sua moto estava com a placa coberta e o mandatário máximo do País se utilizou de capacete irregular), violou lei federal e decretos estaduais que têm como objetivo minorar os efeitos da pandemia, vituperou contra máscaras de proteção facial, distanciamento social etc”.

Na abertura de inquérito civil, o promotor reconhece que o MP-SP não tem competência para investigar autoridades com foro, razão pela qual informa que levará o caso ao conhecimento do Ministério Público Federal.


“O objeto deste procedimento fica, portanto, adstrito às lideranças que não têm foro por prerrogativa de função e que, além de descumprirem o decreto estadual (…), deram péssimo exemplo à sociedade”, acrescenta.

Assim, o objetivo do inquérito, detalha Arthur Pinto Filho, “é identificar as lideranças que descumpriram normas sanitárias, qualificá-las, dar oportunidade para que, se desejarem, se manifestem nos autos, para que, ao final, não havendo Termo de Ajustamento de Conduta, sejam responsabilizadas por dano moral e social coletivo por meio de ação civil pública”.

 

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