Ciro perde força por não inspirar confiança em vitória, diz diretor da Quaest

A CartaCapital, Felipe Nunes analisa o impacto de uma possível chapa entre Lula e Alckmin e as reais condições da chamada 3ª via

O pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes. Foto: Divulgação/PDT

Apoie Siga-nos no

Embora a pesquisa Quaest/Genial divulgada nesta quarta-feira 12 indique a possibilidade de Lula (PT) vencer a eleição presidencial deste ano ainda no 1º turno, o cenário mais provável aponta para a realização de um 2º turno entre o petista e Jair Bolsonaro (PL). Enquanto isso, na 3ª via, Ciro Gomes (PDT) não inspira confiança de que pode superar os adversários e Sergio Moro (Podemos) parece ser o nome mais forte do pelotão. As avaliações são do cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest, responsável pelo levantamento, em entrevista a CartaCapital.

Lula aparece com 45% das intenções de voto, 4 pontos percentuais a mais que a soma de votos dos concorrentes. Bolsonaro é o 2º colocado, com 23%, seguido por Moro, com 9%, e Ciro, com 5%. João Doria (PSDB) e Simone Tebet (MDB) têm 3% e 1%, respectivamente.

Nas simulações de 2º turno, Lula bateria todos os adversários por pelo menos 20 pontos de diferença. Contra Bolsonaro, levaria a melhor por 54% a 30%. Na disputa com Moro, triunfaria por 50% a 30%. Se a eleição fosse contra Ciro Gomes, Lula venceria por 52% a 21%, enquanto contra Doria (15%) o ex-presidente atingiria 55%.

Segundo o levantamento, 66% dos eleitores que conhecem Bolsonaro não votariam nele. Doria tem a 2ª maior rejeição do eleitorado que o conhece, com 60%, seguido por Moro, com 59%, Ciro, com 58%, e Lula, com 43%. Tebet tem a menor rejeição, com 19% entre os eleitores que a conhecem, mas apenas 3% disseram que poderiam votar nela.

Leia os principais pontos da entrevista com o diretor da Quaest:

CartaCapital: Há chances reais de Lula vencer a eleição no 1º turno?

Felipe Nunes: A história política brasileira mostra que ganhar eleição no 1º turno é difícil. Só Fernando Henrique conseguiu fazer isso, em um momento muito diferente do que vivemos hoje. A cautela nos indicaria analisar com cuidado, porque, em geral, o governante tende a melhorar o seu desempenho no último ano de gestão, já que as realizações e as entregas acabam favorecendo isso – enquanto os candidatos de oposição acabam perdendo um pouco de força, de relevância.


Para termos certeza desse quadro, temos que prestar atenção nos indicadores de rejeição e potencial de voto, que, hoje, mostram de forma não tão clara esse resultado de 1º turno. Pessoalmente, acho que é difícil que ele aconteça. Não é impossível, mas é improvável.

CC: Lula tem espaço para crescimento? Uma chapa com Geraldo Alckmin ajudaria?

FN: A pesquisa mostra que a chapa com Alckmin, do ponto de vista eleitoral, tem pouco resultado concreto. É uma chapa muito mais simbólica. A aliança sinaliza para grupos importantes da sociedade o tipo de governo que Lula gostaria de fazer, um governo não de revanche, mas de concertação.

Do ponto de vista eleitoral, o espaço para crescimento de Lula é pequeno. Ele está muito próximo do que parece ser seu teto, mensurado nessa pesquisa. Se a gente olha quem diz que votaria em Lula com certeza ou que poderia votar, ele tem até 55% de potencial de voto. Hoje, em um cenário de 45%, sobra pouco espaço para crescer.

CC: Então, o mais provável é um 2º turno entre Lula e Bolsonaro?

FN: O mais provável é Lula x Bolsonaro. O governo vai melhorar ou piorar a depender de sua capacidade de dar respostas concretas aos principais problemas dos brasileiros. Falo principalmente da questão econômica. Não há uma percepção clara de que o governo seja capaz de resolver os problemas econômicos do povo, e isso é um grande limitador. Se o governo quiser melhorar, terá de resolver.

O governo depende de muitos condicionantes para conseguir obter um resultado melhor de avaliação. Mas também acho que não piora tanto, porque o núcleo duro do bolsonarismo está próximo dessa avaliação. Então, de certa forma, vejo uma estabilidade.

CC: Na Quaest/Genial de outubro, Ciro tinha 11% das intenções de voto. Hoje, 5%. O que aconteceu?

FN: O Ciro, na minha avaliação, que perdeu metade [de suas intenções de voto] nos últimos meses, está na verdade mostrando ser um candidato que as pessoas não acreditam que vai ganhar a eleição.

Política e economia são mundos em que a expectativa é muito importante para definir o resultado, e não me parece que o Ciro tem conseguido inspirar no seu eleitor uma perspectiva real de vitória. Com isso, é normal que esse eleitorado vá deixando o Ciro e encaminhando intenção de voto em outros candidatos.

CC: Com isso, Moro pode crescer? Há, afinal, espaço para 3ª via?

FN: Demanda para 3ª via, existe. A pesquisa mostra: 30% dos brasileiros gostariam de votar em um candidato que não fosse nem Bolsonaro, nem Lula. Mas vai depender da capacidade de articulação e agregação desses candidatos. Por um lado, me parece que é muita opção para pouco voto, e isso é relevante para explicar por que a 3ª via tem tido tanta dificuldade.

Sobre desistência, é difícil dizer. Claro, há muitos cálculos políticos por trás, mas, se há algum nome relevante e com força para disputar esse lugar de 3ª via, na minha avaliação, é Sergio Moro.

CC: Quais as outras indicações relevantes da pesquisa?

É muito relevante observar o papel das mulheres neste momento. As mulheres estão rejeitando mais o presidente do que os homens.

E o que acho muito significativo: se a gente pegar pesquisas de avaliação de governo – FHC em 1998, Lula em 2006 e Dilma em 2014 -, a gente percebe que Bolsonaro chega ao último ano de seu 1º mandato como o presidente com a pior avaliação entre os competidores à reeleição. Isso é significativo do tamanho do problema que o presidente tem.

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

1 comentário

Francisco Bráulio Lourenço de Vasconcelos 13 de janeiro de 2022 14h01
Muita água por rolar. Ciro Gomes tem biografia imbatível contra qualquer candidato. Ciro foi Dep Estadual, Pref Fortaleza, Gov Ceará, Ministro Fazenda, Integração nacional, Dep Federal, executivo área privada. Nada de malfeitos. Tinha direito aposentadorias legais, recusou, e foi à luta. Que querem mais? Preparado, combativo, sabe que fazer, como e quando. Pode acabar de vez máxima cruel política brasileira desde sempre: muda-se algo, e tudo permanece igual.

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.