Política

Cinegrafista do caso Paraisópolis diz que equipe de Tarcísio pediu sua demissão da Jovem Pan

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o repórter cinematográfico deu detalhes da pressão que sofreu para apagar as imagens da operação policial

Cinegrafista do caso Paraisópolis diz que equipe de Tarcísio pediu sua demissão da Jovem Pan
Cinegrafista do caso Paraisópolis diz que equipe de Tarcísio pediu sua demissão da Jovem Pan
O ex-ministro Tarcísio de Freitas. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Apoie Siga-nos no

O repórter cinematográfico da Jovem Pan Marcos Andrade, que gravou as imagens do tiroteio em Paraisópolis durante a passagem de Tarcísio de Freitas (Republicanos) pelo local, afirmou que a equipe do candidato bolsonarista, após pedir para que ele apagasse as imagens da câmera, pressionaram a emissora pela sua demissão.

A denúncia foi feita em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo publicada. Na conversa, Andrade contou detalhes da pressão sofrida após a captação das imagens. Ele diz que, apesar da ofensiva, até o momento a emissora o informou que não pretende cortá-lo do quadro de funcionários. Sugeriram, porém, que ele gravasse um vídeo de apoio para Tarcísio. “Aquela conversa de que seria legal [gravar um vídeo para ele]”.

“Ontem [terça, quando o áudio da equipe de Tarcísio pedindo que imagens fossem apagadas foi revelado] foi um dia muito difícil, né? Porque houve comunicação da equipe [do Tarcísio] com a empresa [Jovem Pan] cobrando uma postura da empresa de desligamento”, contou. “Até ontem, a hora que eu saí de lá, eles bateram o pé e desligamento zero. Não falaram o que iam fazer, entendeu? Mas me pediram para eu gravar um vídeo para o Tarcísio”, acrescentou, indicando não saber se o vídeo será usado na campanha do bolsonarista e reforçando que, até aqui, pelo que compreendeu, se trata de uma sugestão.

Ao jornal, ele identificou o membro da campanha do Tarcísio que o pressionou a apagar as imagens. Trata-se, segundo ele, de Fabrício Cardoso de Paiva, um agente licenciado da Abin. A identidade do assessor foi revelada pelo site The Intercept Brasil e confirmada por Andrade por meio de fotografias. Ele diz que Tarcísio não participou da conversa, que teria acontecido ‘ao pé do ouvido’.

A presença de agentes federais na segurança e assessoria de um candidato ao governo, conta Andrade, que está habituado a cobrir política local, o estranha. “Tem muita polícia. Só que você não consegue distinguir quem é quem. Quando você olha para o lado e fala assim: tem um federal aqui, um cara da Abin, um militar. Isso é normal?”, questionou. “Eu já fiz várias campanhas. Estado, praxe, [é ter] policial militar. […] Um candidato ao governo com esse estafe eu nunca vi. Foge da normalidade”.

Na conversa, Andrade relata ainda temer pela segurança da sua família após o ocorrido. A esposa está grávida de 8 meses. Ele conta ainda que pretende se desligar da emissora após o caso.

Em nota ao jornal, a campanha de Tarcísio nega o pedido para apagar as imagens, bem como a pressão pela demissão do cinegrafista e cita que o repórter cinematográfico esteve na van do candidato que retirou os presentes do local próximo ao tiroteio e teria agradecido por ter sido retirado em segurança. Ainda na nota, a campanha do bolsonarista alega que, quando esteve na Jovem Pan, Andrade também a recebeu e agradeceu Tarcísio pelo auxílio.

Já a Jovem Pan alega que todas as imagens gravadas por Andrade foram exibidas e que não houve contato com a emissora por parte da equipe de Tarcísio para pedir que os vídeos não fossem veiculados e que, portanto, não teve restrição ao trabalho jornalístico.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.

O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.

Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.

Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo