Política
Centrão cobra a fatura por suspensão de bolsonarista e Janones pode ser o próximo
Após a punição de Gilvan da Federal (PL-ES), o mineiro entra na mira em um possível gesto de ‘equilíbrio’ político


Após a suspensão por três meses do mandato do deputado Gilvan da Federal (PL-ES) por declarações ofensivas à ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados se prepara para votar na terça-feira 15 um novo caso: o do deputado André Janones (Avante-MG), aliado do presidente Lula (PT).
O processo movido pelo PL acusa Janones de “tumultuar os trabalhos” da Câmara e ter uma “conduta zombeteira” durante a sessão do plenário realizada na semana passada, quando houve troca de provocações com deputados bolsonaristas, entre eles Nikolas Ferreira (PL-MG). O deputado mineiro também filmava o plenário durante o pronunciamento do colega, que lia uma carta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Nos bastidores da Câmara, a movimentação é vista como uma tentativa de equilibrar a balança após a suspensão de Gilvan, que causou forte reação na base bolsonarista. Congressistas do Centrão teriam indicado que uma punição semelhante a Janones atenderia a um “gesto de equidade” no Conselho. O PL pediu seis meses de suspensão.
O relator do caso, deputado Fausto Santos Jr. (União-AM), ainda não apresentou seu parecer. O presidente do Conselho, Fábio Schiochet (União-SC), marcou a votação para esta terça-feira. O corregedor parlamentar, Diego Coronel (PSD-BA), já endossou o pedido de punição, afirmando que a conduta de Janones merece resposta institucional por ter “fragilizado a dignidade coletiva da Casa”.
Janones nega ter tumultuado os trabalhos e afirma ter sido agredido fisicamente por pelo menos 12 deputados bolsonaristas, após confrontar Nikolas. “Como não tenho medo e sei jogar o jogo deles, partiram para a agressão física na tentativa de me calar, mas não conseguiram”, escreveu em suas redes sociais. Ele promete formalizar queixa-crime e realizar exame de corpo de delito.
Aliados de Janones afirmam que a comparação entre os casos é desproporcional. Enquanto Gilvan da Federal fez declarações de conteúdo misógino e incentivou a morte do presidente da República, Janones teria “apenas” reagido a provocações dos opositores. A avaliação é que punir ambos com o mesmo rigor não seria justo.
Ainda assim, a pressão do Centrão e dos bolsonaristas pode pesar na balança.
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