Celso Amorim: “Militares foram longe demais no governo Bolsonaro”

Para o ex-ministro das Relações Exteriores, coladas ao bolsonarismo, as Forças Armadas vivem desmoralização no País

Créditos: Reprodução/Redes Sociais

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Para o ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, as Forças Armadas vivem um momento de descrédito no governo Jair Bolsonaro, tanto no aspecto interno da organização, como externo. “Eles foram longe demais”, avalia.

O diplomata entende que a organização se deixou atrair pelo bolsonarismo, que não é propriamente a sua ideologia, e hoje amarga uma fase de “desmoralização” com os desdobramentos políticos do atual governo e a grande participação de militares nas pastas governamentais.

Amorim citou, por exemplo, o caso do general Eduardo Pazuello à frente do Ministério da Saúde, há mais de 60 dias em um posto interino.

“A saúde é o maior exemplo disso, como uma pessoa que não entender poderia estar à frente desse cargo nesse momento. Não tem como não passar a vê-los como responsáveis pelo que está acontecendo hoje”, disse o diplomata se referindo aos desdobramentos da epidemia de coronavírus no Brasil que, nesta segunda, acumula 79.533 mortos e 2.099.896 casos confirmados. “Uma tragédia de imensas proporções”, avaliou.

Para o ex-ministro, as Forças Armadas vem sendo contaminadas “de maneira grave” e reitera a necessidade da organização se afastar da política e se dedicar ao seu papel institucional.


“Somos um país de 17 mil quilômetros de fronteira terrestre, temos o maior litoral atlântico do mundo, Amazônia, pré-sal, recursos de biodiversidade. Não acho bom para o País que as Forças Armadas se desmoralizem”, avaliou.

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Em conversa com o diretor de redação de CartaCapital, Mino Carta, Amorim ainda expôs, em tom de preocupação, os novos rumos que o governo Bolsonaro sugere para a política nacional de defesa, em recente documento que será apresentado aos congressistas esta semana.

O documento, elaborado pelo ministério da Defesa, aponta a possibilidade de crises e tensões no chamado “entorno estratégico” do Brasil, que abrange América do Sul, Antártica e Oceano Atlântico até a costa ocidental da África.

De acordo com a pasta, esta é a primeira vez, desde a criação do Ministério em 1999, que a Política Nacional de Defesa não fala em ausência de risco de conflitos, o que estava explicitado nas edições anteriores, de 2012 e 2016.

O apontamento é considerado “grave” por Amorim. “Uma coisa é a contribuição diplomática, como vimos acontecer nos governos de Fernando Henrique Cardoso e do ex-presidente Lula, muitas vezes, mas quando você diz que as Forças Armadas terão que contribuir, isso é um passaporte para a intervenção militar, muda estruturalmente a ideia da estratégia nacional de defesa em relação à América do Sul que sempre foi de dissuasão para fora e cooperação para dentro”, avaliou.

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