Política

Caso Marielle: menção à casa de Bolsonaro apareceu só 11 meses depois

Documentos do inquérito mostram que a Polícia Civil do RJ tinha os registros do fluxo da portaria desde novembro de 2018

Ronnie Lessa e Élcio Vieira, apontados como executores da vereadora Marielle Franco (Foto: Reprodução/Rede Globo)
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A Polícia Civil do Rio de Janeiro tem em mãos, pelo menos desde novembro de 2018, os registros de fluxo da portaria do condomínio Vivendas da Barra, no Rio de Janeiro, onde o presidente Jair Bolsonaro possui uma casa. É o que mostram os documentos do inquérito que investiga o assassinato da vereadora Marielle Franco, conforme divulgou a Folha de S. Paulo nesta terça-feira 5.

O fato revela uma contradição na versão dada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, que diz só ter tido acesso aos registros em 5 de outubro de 2019.

O inquérito aponta que a Divisão de Homicídios da polícia já possuía acesso aos registros da portaria desde novembro de 2018 pois, na época, Ronnie Lessa, morador do condomínio e acusado de ser o executor do crime, já era investigado de envolvimento no assassinato da vereadora. A polícia, então, teria tido acesso aos registros para investigar o suspeito.

No dia 31 de outubro, uma reportagem do Jornal Nacional revelou que Élcio Vieira, mais um dos acusados de participação no crime, passou pelo condomínio de Bolsonaro e Lessa no dia do assassinato da vereadora. A matéria revelou que a planilha do condomínio indicava a entrada de Élcio para visitar a casa 58, de propriedade do presidente.

O porteiro foi ouvido pela Polícia Civil e disse que ao interfonar na casa 58 para liberar a entrada de Élcio, ouviu a voz de “seo Jair”. O funcionário argumenta que ao ver Élcio seguindo em direção à casa 65/66, interfonou novamente na casa 58 para confirmar a autorização. O suposto “seo Jair” respondeu ao porteiro que sabia para onde Élcio estava indo. No entanto, Jair Bolsonaro estava em Brasília nesta data, conforme mostram registros da participação do então deputado federal em atividades na Câmara.

Segundo perícia do Ministério Público na gravação do interfone, apesar da marcação na planilha indicar a casa 58, a ligação teria sido feita para casa 65/66 e a autorização de acesso partiu de Ronnie Lessa.

Quando a Divisão de Homicídios da Polícia Civil teve acesso às planilhas escritas à mão, as informações foram transcritas para uma planilha em Excel. No entanto, como na época o nome de Jair Bolsonaro ainda não havia aparecido na investigação, a polícia se atentou apenas às visitas realizadas à casa de Lessa.

O interrogatório que levou ao depoimento do porteiro do condomínio só foi realizado depois que Élcio e Lessa reconheceram ter se encontrado no condomínio no dia do assassinato de Marielle e do motorista Anderson Gomes. Durante meses, os dois negaram se conhecer.

No interrogatório de 4 de outubro de 2019, Élcio negou ao ser questionado se frequentava a casa de algum outro condômino. Depois de negar conhecer qualquer outro morador do local, disse apenas saber que o presidente tinha residência no local.

Pouco antes do interrogatório, o Ministério Público afirmou ter encontrado no celular de Lessa uma mensagem de sua esposa com uma foto da planilha de registros dos acessos ao condomínio. A mensagem foi enviada um dia antes do depoimento de Élcio e Lessa na Divisão de Homicídios.

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