Política

Carta pela Democracia é lida em SP com discursos de juristas, sindicalistas e empresários

O ato na Faculdade de Direito da USP ocorreu em dois momentos: um no Salão Nobre e outro em que 3 mil pessoas ocuparam o Largo de São Francisco

Leitura da Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito. Foto: Miguel SCHINCARIOL / AFP
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Após semanas de mobilização, a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito, organizada por integrantes da Faculdade de Direito da USP e que já conta com mais de 900 mil assinaturas, foi oficializada nesta quinta-feira 11 nas arcadas do Largo de São Francisco, em um evento que reuniu, segundo os organizadores, cerca de 3 mil pessoas.

O texto foi lido após uma série de discursos, realizados no salão nobre da faculdade, em que juristas, representantes de movimentos civis, sindicalistas e empresários reafirmaram a confiança no sistema eleitoral, a defesa da democracia e a oposição aos ataques contra as instituições brasileiras protagonizados por Jair Bolsonaro (PL).

O curto ato nas dependências formais da USP terminou com a leitura de outra carta, produzida pela Federação Nacional das Indústrias, com teor semelhante ao do documento principal do evento. A leitura no salão nobre ficou a cargo de José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça e orador da Carta aos Brasileiros de 1977.

Leitura do manifesto Em Defesa da Democracia e da Justiça, da Fiesp, no salão nobre da Faculdade de Direito da USP.
Foto: Miguel SCHINCARIOL / AFP

O texto lido por Dias, vale ressaltar, foi assinado por mais de 100 entidades empresariais, políticos, ex-ministros e universidades brasileiras. O documento, entre outros itens, cobrou respeito às instituições e um esforço pela estabilidade do País. Também foi uma resposta à organização de atos golpistas para o 7 de Setembro.

“Somos instigados a identificar caminhos que consolidem nossa jornada em direção à vontade de nossa gente, que é a independência suprema que uma nação pode alcançar. A estabilidade democrática, o respeito ao Estado de Direito e o desenvolvimento são condições indispensáveis para o Brasil superar os seus principais desafios. Esse é o sentido maior do 7 de Setembro neste ano”, destacou Dias em um dos principais trechos do documento.

Pouco antes, Carlos Gilberto Carlotti Junior, reitor da USP, usou o espaço para reforçar a posição da universidade contra tentativas de golpe militar. “A universidade brasileira é o oposto do autoritarismo. Na USP perdemos vidas preciosas durante um período de exceção da ditadura. Perdemos 47 pessoas que eram parte da nossa comunidade. Não esquecemos e não esqueceremos. Aqueles que atacam a democracia não protegem as universidades”, destacou o professor. “Espero que essa mobilização nos coloque novamente no caminho correto.”

O jurista Oscar Vilhena, o economista Armínio Fraga e a advogada Patrícia Vanzolini ecoaram as mesmas preocupações. Representando os empresários discursou Horácio Lafer Piva, dono da Klabin e ex-presidente da Fiesp. “Todos que estão aqui hoje lutam contra a apatia, o populismo, as ameaças e o risco de deixar de lado o melhor de nós mesmos. É com democracia que podemos conhecer nossos erros e ter a oportunidade de consertá-los”, destacou Piva. Tom semelhante, mais adiante, foi adotado pelos sindicalistas Miguel Torres e Francisco Pegado.

‘Fora, Bolsonaro’

Já nas arcadas e no Largo de São Francisco, fora do palco, o ato ganhou tons mais eleitorais. Entre os manifestantes presentes circulavam faixas e bandeiras com alusões a Lula (PT) e críticas a Bolsonaro. No palco, o tom mais protocolar manteve-se na participação de Celso Campilongo, diretor da Faculdade de Direito, que não citou nominalmente Bolsonaro, mas rebateu a ação das Forças Armadas e os ataques ao Tribunal Superior Eleitoral.

“[O Estado Democrático de Direito prevê] O controle pelas instituições daqueles que têm competência para fazer. No caso das eleições, é o nosso Tribunal Superior Eleitoral. O resto é gente sem competência jurídica e moral para se intrometer no processo eleitoral brasileiro”, disse Campilongo. “A única força que pode dizer algo a respeito do processo eleitoral brasileiro é a força do eleitor, do brasileiro e de ninguém mais”, completou, em referência às Forças Armadas, que pretendem fiscalizar o processo eleitoral deste ano.

Mais de 3 mil pessoas ocuparam o largo de São Francisco para ouvir a leitura da Carta pela Democracia.
Foto: NELSON ALMEIDA / AFP

A estudante Manoela Moraes, presidenta do Centro Acadêmico XI de Agosto, foi mais incisiva. Ao denunciar os ataques à democracia, citou nominalmente o ex-capitão como o responsável.

“Jair Bolsonaro ataca a democracia não apenas quando ataca ou vocifera, mas também com os cortes na educação e quando nomeia interventores nas universidades.”

Ao final, instantes após a leitura oficial da Carta, os 3 mil presentes na plateia puxaram os gritos de ‘Fora, Bolsonaro’, que ecoaram alguns minutos antes de serem interrompidos para a finalização formal do evento, que contou com o Hino Nacional e a repetição do texto na voz de artistas brasileiros nos telões.

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