Política

Boulos tira Marçal do personagem e Nunes segue como alvo: o último debate em São Paulo

A três dias da eleição, o candidato do PSOL aparece numericamente em primeiro no Datafolha, tecnicamente empatado com o prefeito e com o ex-coach

Boulos tira Marçal do personagem e Nunes segue como alvo: o último debate em São Paulo
Boulos tira Marçal do personagem e Nunes segue como alvo: o último debate em São Paulo
Candidatos à prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB), Tabata Amaral (PSB), Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Datena (PSDB) no estúdio da TV Globo, em São Paulo. Foto: Globo/Bob Paulino
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Os principais candidatos à prefeitura de São Paulo protagonizaram na noite desta quinta-feira 3 um debate na TV Globo, o último antes do primeiro turno, marcado para o domingo 6. Como de praxe, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) foi o alvo principal.

Pablo Marçal (PRTB) apostou em uma fantasia de candidato contido nos dois primeiros blocos, após liderar cenas de caos ao longo da campanha. Em 23 de setembro, por exemplo, o ex-coach e sua equipe promoveram uma baixaria em um encontro no Flow Podcast, que terminou com o marqueteiro de Nunes ensanguentado.

Foi a partir do terceiro bloco desta quinta, porém, que Marçal deixou o personagem de lado. Primeiro, disse que todos os seus adversários seriam de esquerda e que ele seria o único representante da direita. Depois, chamou Guilherme Boulos (PSOL) de “esquerdopata maluco”, ante uma provocação do oponente.

Em um momento inusitado, Boulos exibiu o resultado negativo de um exame toxicológico, após Marçal voltar a acusá-lo, sem provas, de ser usuário de drogas. O deputado federal também instou o candidato do PRTB a “fazer um psicotécnico”.

Marçal manteve a postura agressiva no bloco final e relembrou um boletim de ocorrência registrado por Regina Nunes contra seu marido, Ricardo Nunes, em 2011. “Ele é malvado, ele é ruim”, disse o prefeito sobre o concorrente em suas considerações finais.

No início do debate, Boulos e Tabata Amaral (PSB) chegaram a fazer uma tabelinha para criticar o prefeito, mas posteriormente a deputada fustigou o postulante do PSOL por supostas mudanças de opinião ao longo dos anos. É uma estratégia para tentar murchar um movimento da militância de Boulos a favor do “voto útil” no primeiro turno.

O debate na Globo ocorreu horas depois de ir ao ar uma nova pesquisa Datafolha. O cenário continua equilibrado, mas, ao contrário dos levantamentos anteriores, Boulos aparece numericamente na liderança, com 26% das intenções de voto. Tecnicamente empatados com o candidato do PSOL estão Nunes e Marçal, com 24% cada.

A emissora optou por convidar os candidatos de partidos com no mínimo cinco representantes no Congresso Nacional, assim como os que alcançaram pelo menos 6% de intenções de voto na pesquisa Quaest publicada na segunda-feira 30.

Leia os destaques do debate:

Quarto bloco, com temas pré-determinados:

Desabafo: “Ele é malvado, ele é ruim”, disse Nunes sobre Marçal em suas considerações finais, minutos depois de o ex-coach mencionar um boletim de ocorrência registrado por Regina Nunes, esposa do prefeito, contra o marido em 2011, acusando-o de violência doméstica. À época, o emedebista exercia mandado de vereador. O teor do documento foi revelado pelo jornal Folha de S.Paulo.

Isolamento: mais uma vez, Marçal foi o último a ser escolhido para responder no bloco. A última interação foi entre ele e Nunes, sobre mudanças climáticas.

Baixo nível: sem provas, Marçal voltou a insinuar que Boulos seria usuário de drogas, ao dizer que o adversário “deve conhecer as biqueiras”.

“Já tinha feito isso outras vezes, usando um homônimo“, reagiu Boulos. “É falta de limites. Esse cara não tem moral, não tem ética”, acrescentou. O candidato do PSOL exibiu o resultado negativo de um exame toxicológico e desafiou Marçal a “fazer um psicotécnico”.

MTST: Marçal perguntou a Boulos se, no caso de uma “invasão” de propriedade, Boulos ficaria ao lado da polícia ou do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (do qual o deputado do PSOL foi coordenador).

“Tenho o maior orgulho de ter atuado no movimento sem teto, que nunca invadiu a casa de ninguém”, respondeu Boulos. “Deu casa para mais de 15 mil famílias.”

Clima tranquilo: como de praxe, Datena e Tabata têm um diálogo sem turbulências. Desta vez, sobre o roubo de celulares na capital. Ambos defenderam ações de inteligência para enfrentar o problema.

Provocações seguem: a primeira interação do bloco teve clima pesado entre Boulos e Nunes. “O problema da sua gestão é de falta de transparência. Foram 5 bilhões de reais em obras sem licitação, que favoereceram amigos seus”, disse o candidato do PSOL. “Queria que você explicasse coisas investigadas pela Polícia Civil e pela Polícia Federal.”

Nunes devolveu: “Não tenho nenhuma investigação, nenhum indiciamento, nenhuma condenação, ao contrário de você”. Também criticou Boulos por sua postura sobre o deputado André Janones (Avante-MG) no Conselho de Ética da Câmara, devido ao arquivamento de uma representação sobre suposta “rachadinha”.

Terceiro bloco, com embates diretos entre candidatos:

Alta voltagem: o tom ameno se transformou em troca de acusações na última interação do terceiro bloco, entre Boulos e Marçal.

Clima esquenta: Boulos criticou Marçal por declarações machistas ao longo da campanha. “Por que você odeia tanto as mulheres?”, perguntou. “Papinho de esquerdopata maluco”, respondeu o candidato do PRTB, que também chamou o adversário de “depredador de patrimônio público”.

No debate Folha/UOL da última segunda-feira 30, Marçal disse, em referência a Tabata, que “mulher não vota em mulher, a mulher é inteligente”. A frase gerou grande repercussão.

Provocação: Boulos questionou Marçal pelo bom comportamento no debate desta quinta e o chamou de “lobo em pele de cordeiro”. O ex-coach classificou o candidato do PSOL como “socialista de iPhone”.

Diálogo digno de nota: “Você acredita que o extremismo, de extrema-esquerda, pode governar São Paulo?”, questionou Marçal a Datena. “O que está nos extremos só tem coisa ruim”, devolveu o tucano.

“Consórcio comunista”: Marçal alegou que todos os seus adversários são de esquerda e disse que ele seria o único representante da direita.

Tabata fustiga Boulos: no primeiro embate mais duro, a candidata do PSB contestou Boulos por supostas mudanças de opinião ao longo dos anos e listou temas em que o candidato e seu partido, o PSOL, seriam antagônicos. “Lamento que você traga questões tão importantes nesse tom”, respondeu o psolista. “Tenho coerência com a minha história. Sou tão acusado justamente por não abrir mão das minhas posições.”

Segundo bloco, com temas pré-determinados:

Termina o segundo bloco sem confusões, a exemplo do que ocorreu no primeiro.

Segurança pública: Tabata disse que Nunes “recebeu uma Cracolândia e está entregando 72”, em referência às diversas concentrações de usuários de drogas na cidade.

Estratégia: Tabata diz que aproveitará “boas ideias” da esquerda e da direita se for eleita.

Os conselhos de Lula: em uma live nesta quinta, o presidente aconselhou Boulos para o debate: “Toda vez que você falar, você lembra que o povo é mais emocional do que razão. Então, fale com o coração das mulheres, fale com o coração dos homens, fale com o coração da juventude brasileira”. Até aqui, o candidato seguiu o presidente.

Tabelinha: no início do segundo bloco, Datena escolheu Boulos para falar sobre impostos. O psolista assumiu o compromisso de não promover qualquer aumento de tributos na cidade. “Temos o maior orçamento da história da cidade. O que falta é um prefeito com coragem.”

Tabata x Marçal: a candidata do PSB cobrou propostas concretas do ex-coach para a mobilidade em São Paulo. Marçal defendeu um “cinturão de empresas” nas periferias, com uma “empresarização”.

Primeiro bloco, com embates diretos entre candidatos:

Marçal começa “comportado”: o ex-coach chamou Guilherme Boulos pelo nome, em vez de repetir sua conduta de outros debates e lançar algum apelido. Perguntou o que um eventual governo do psolista geraria de “inovação” para a cidade. Boulos, por sua vez, defendeu criar empregos na periferia.

Datena x Marçal: pouco mais de duas semanas após o episódio da cadeirada, o tucano perguntou ao ex-coach como ele resolveria o problema dos roubos de celular na capital. Marçal agradeceu ao apresentador pela escolha de tema.

Tabela progressista: em sua primeira oportunidade de perguntar, Boulos optou por Tabata e questionou onde a gestão Nunes errou na saúde. A candidata do PSB aproveitou a bola levantada e emendou uma série de críticas. As duas candidaturas progressistas têm se estranhado em meio ao debate sobre “voto útil”, mas a interação inicial no debate foi amena.

A ofensiva de Tabata: “Esse prefeito é pequeno demais”, disse a pessebista em seu primeiro embate com Nunes.

Tabata mira Nunes: a candidata do PSB disse ao prefeito que as filas na saúde “explodiram” e criticou a gestão do emedebista na educação. Nunes, por sua vez, afirmou que a adversária pouco fez pela cidade como deputada.

O primeiro duelo: Nunes escolheu Datena para o embate inicial. O prefeito foi, ao longo de toda a campanha, o principal alvo do tucano, que ainda tenta demonstrar algum vigor, apesar de números murchos nas pesquisas.

***

As pesquisas da semana

Confira os resultados de seis levantamentos publicados nesta semana:

Datafolha, na quinta-feira 3. Margem de erro de 2 pontos:

  • Guilherme Boulos (PSOL): 26% (eram 25%)
  • Ricardo Nunes (MDB): 24% (eram 27%)
  • Pablo Marçal (PRTB): 24% (eram 21%)
  • Tabata Amaral (PSB): 11% (eram 9%)
  • José Luiz Datena (PSDB): 4% (eram 6%)
  • Marina Helena (Novo): 2% (eram 2%)
  • Bebeto Haddad (DC): 0% (era 0%)
  • Ricardo Senese (UP): 0% (era 0%)
  • João Pimenta (PCO): 0% (era 0%)
  • Altino Prazeres (PSTU): 0% (Não foi citado na pesquisa anterior)
  • Em branco/nulo/nenhum: 6%
  • Indecisos: 3%

Real Time Big Data, na quarta-feira 2. Margem de erro de 3 pontos:

Paraná Pesquisas, na terça-feira 1º. Margem de erro de 2,6 pontos:

Quaest, na segunda-feira 30. Margem de erro de 2 pontos:

  • Ricardo Nunes (MDB): 24% (eram 25%)
  • Guilherme Boulos (PSOL): 23% (eram 23%)
  • Pablo Marçal (PRTB): 21% (eram 20%)
  • Tabata Amaral (PSB): 10% (eram 8%)
  • José Luiz Datena (PSDB): 6% (eram 6%)
  • Marina Helena (Novo): 2% (eram 2%)
  • Bebeto Haddad (DC): 0% (era 0%)
  • João Pimenta (PCO): 0% (era 0%)
  • Ricardo Senese (UP): 0% (era 0%)
  • Altino Prazeres (PSTU): 0% (não pontuou)
  • Indecisos: 6% (eram 7%)
  • Branco/nulo/não vai votar: 8% (eram 9%)

AtlasIntel, na segunda-feira 30. Margem de erro de 2 pontos:

Real Time Big Data, na segunda-feira 30. Margem de erro de 3 pontos:

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