Política
Candidato apoiado por Greca e Ratinho desbanca bolsonarista ‘raiz’ e será prefeito em Curitiba
Herdeiro de famílias tradicionais e incensado pela elite política do Paraná, Eduardo Pimentel encara o desafio de superar a imagem de ‘mais do mesmo’


Eduardo Pimentel (PSD) é o novo prefeito de Curitiba. O candidato foi eleito neste domingo 27 após superar a jornalista Cristina Graeml (PMB) no segundo turno. Ele marcou 57,64% votos, enquanto a adversária tem 42,36%.
Pimentel, apesar de iniciar a campanha com altos níveis de desconhecimento por parte do eleitor, foi tracionado ao posto de favorito embalado pelos bons índices de popularidade do atual prefeito da cidade, Rafael Greca (PSD), e do governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD). Os dois foram os principais cabos eleitorais do político nesta campanha.
Antes de chegar ao cargo mais alto da cidade, ocupou por 8 anos a cadeira de vice-prefeito. No posto, teve passagem considerada tímida, passando a aparecer de forma mais volumosa nos eventos e redes da prefeitura no último ano de gestão.
Ele é considerado um nome de continuidade. Suas principais promessas para os próximos 4 anos passam pela manutenção de políticas do atual prefeito. As obras de asfaltamento são citadas pelo novo prefeito como a principal marca da última gestão. Ele alega ter tido papel importante na medida, uma vez que acumulou o cargo de secretário de obras do município.
Durante o último ano, ele também acumulou um cargo no governo do estado, onde foi secretário das cidades da gestão de Ratinho Júnior. O posto foi dado a ele em 2023 como parte do projeto de transformá-lo no sucessor do atual prefeito. Seu material de campanha também cita obras feitas em mais de 300 cidades como marca da sua passagem pelo cargo. “R$ 4 bilhões em obras dos mais diferentes tipos e portes”, destaca o material oficial.
Famílias tradicionais
O alto índice de desconhecimento registrado no início da caminhada eleitoral contrasta com a trajetória pessoal do novo prefeito, ligado a duas das famílias mais tradicionais da política paranaense. Ele é neto do ex-governador do Paraná, Paulo Pimentel. O avô foi um dos grandes empresários da comunicação do estado ao longo das últimas décadas.
Eduardo Pimentel e o avô Paulo Pimentel.
Foto: Divulgação
Outra parte da família de Eduardo Pimentel é formada por uma linhagem de imigrantes italianos que fizeram fortunas como empresários no estado: os Slaviero. O poder econômico do grupo também movimenta a política paranaense há décadas.
Empregos
A biografia oficial do novo prefeito dá conta do tamanho da influência familiar na carreira de Pimentel: todos os empregos em destaque são no setor público. Seu primeiro emprego, segundo o site de campanha, foi como diretor de marketing da Fundação Cultural de Curitiba (FCC). Depois ocupou a diretoria agrocomercial do Ceasa-PR. Mais tarde foi levado à sub-chefia da Casa Civil do governo do estado.
O novo prefeito declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter uma fortuna de quase 2,3 milhões de reais. Seus principais bens são ações e participações em fundos de investimentos.
Denúncia de coação na campanha
Na corrida eleitoral para a prefeitura, a campanha de Pimentel foi acusada de promover coação entre servidores e comissionados da prefeitura. No caso mais emblemático, ainda em investigação, um servidor teria sido orientado a comprar convites – que variavam de 700 a 3 mil reais – para um jantar do candidato sob a ameaça de perder o cargo. Pimentel nega ter feito qualquer orientação e alega que o episódio foi feito por iniciativa da própria chefia do setor, desligada da prefeitura após a revelação.
Em conversa com CartaCapital ao final do primeiro turno, cientistas políticos do Paraná citaram o caso como um dos erros da campanha de Pimentel que permitiram um surpreendente crescimento de Cristina Greaml na reta final da disputa.
O ex-deputado federal Paulo Martins (PL-PR). Foto: Marcos Corrêa/PR
O vice bolsonarista
Nos próximos 4 anos, o posto de vice será ocupado por Paulo Martins (PL). O político já foi deputado federal e é um dos apadrinhados de Jair Bolsonaro (PL) no estado. Em 2022, foi o escolhido do ex-capitão para disputar o cargo de senador, mas acabou derrotado pelo ex-juiz Sergio Moro (União). Após o revés, foi alocado, com o aval de Bolsonaro, na gestão de Ratinho Jr., onde ocupou o cargo de assessor especial do governador.
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