Em resposta, Ana Amélia (PP), vice de Geraldo Alckmin, do PSDB, descartou punições. “Penso que é melhor educar do que punir. Vamos exaltar essas empresas que têm cartilha de equidade como missão. Educação tem um aspecto muito mais didático na mudança cultural”, defendeu a candidata.
As duas participaram do debate “Mulheres na Política”, promovido pelo El País e o Instituto Locomotiva, em parceria com a ONU Mulheres, na manhã desta sexta-feira 28. Ao lado delas estavam Kátia Abreu (PDT), candidata à vice com Ciro Gomes, e Manuela D’Ávila (PCdoB), companheira de chapa de Fernando Haddad (PT).
Quatro mulheres que disputam para ocupar o Planalto no próximo ano – é a primeira vez que o Brasil conta com tantos nomes femininos em chapas presidenciais. Quatro mulheres diferentes, com ideias e discursos diferentes, cada uma com lutas e perfis.
Manuela e Sônia são bem mais progressistas. E abertamente favoráveis à descriminalização do aborto. “Ninguém é a favor do aborto, o que a gente defende é a vida das mulheres. O Estado tem a obrigação de oferecer um atendimento gratuito e de qualidade”, defendeu Sônia.
Ana Amélia, a mais conservadora de todas elas, prefere deixar o papo para o Supremo Tribunal Federal e respeitar a Constituição – que permite o aborto apenas em casos de estupro, se a gravidez oferecer risco à mulher, ou bebê anencéfalo. Mas até cogita pensar mudanças na lei. “Não é conveniente a prisão da mulher, deveria ser substituída por penas alternativas, talvez trabalho voluntário em creches” afirmou, sob vaias de parte da plateia.
No meio delas, a ruralista Kátia Abreu, que já recebeu o “prêmio motosserra de ouro” das mãos de Sônia, oito anos atrás, e defendeu Dilma Rousseff contra o impeachment, passeia entre os dois campos.
Agradece a participação com a “amiga Manuela” no evento e sai em defesa, por vezes, de Ana Amélia. “Melhor educar do que punir”, interveio em apoio à fala de Ana Amélia sobre formas de obrigar empresas a cumprirem equidade salarial. Ou sobre as vaias à senadora do PP. “Acabamos de ver pontos de intolerância aqui. A posição de Ana Amélia contra o aborto gerou intolerância. Estamos imitando o coiso e o vice-coiso [referência a Jair Bolsonaro], para você como quanto é difícil escapar dessa polarização”, explicou.
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Kátia faz o jogo da chapa e repete os mesmos discursos de Ciro: queremos unir o Brasil. “Vamos terminar com as brigas e animosidades de coxinhas e mortadelas. É uma luta para pacificar o País”. Até faz sentido à figura dela – de meio de campo – que só não alcança os discursos mais radicais de Sônia. Enquanto exalta a amizade com Manuela e com petistas, entre eles a própria Dilma, não poupa críticas ao PT ou a Haddad.
“Concordo que não nos levou a lugar algum [o impeachment e a polarização], há mais pobreza e desemprego. A polarização é muito nociva. O PT, infelizmente, e tenho bons amigos no PT, não aprendeu que a gente pode ganhar e não levar, e brinca muito na beira do abismo”, disse. “Dilma é mulher séria, correta, trabalhadora, tem espírito público, mas não tinha as condições globais de experiência política, da gestão da política. Faltou o que é muito importante na democracia: diálogo. E Haddad, pelo mesmo motivo, foi reprovado em São Paulo, não pela sua pessoa, mas foi reprovado no primeiro turno como gestor. Brasil não é cadeira para aprendizado, precisa de alguém extremamente preparado”, completou.
Ainda que tenham divergências, todas apostam que o momento de força das mulheres na política não irá retroceder – e deve influenciar todas as áreas da política pública. Apostam na valorização da diversidade e equidade de gênero.
Manuela bate na tecla do aumento de vagas em creches públicas e criação de empregos como as melhores saídas. “É preciso revogar a emenda 95 porque precisamos garantir mais creches e voltar a garantir investimentos. Quando falta Estado, quem fica com a responsabilidade é a mulher”, defendeu. “Acredito que a principal responsabilidade de garantia de que a gente continue no mercado tem a ver com políticas públicas. Esse negócio de que mulher é mais afetiva, gosta de cuidar é trololó. A gente cuida porque precisa. Queremos ser igual aos homens que cuidam porque gostam, não porque são obrigados”.
Já Sônia promete uma equipe com 50% de homens e 50% de mulheres nos ministérios. “Assim você garante que as mulheres cuidem de questões públicas, sempre ocupadas por homens”, afirmou a candidata.
Ana Amélia prometeu ser atuante e brigar pelas pautas das mulheres. “Já disse que não serei vice-decorativa e que a agenda das mulheres é uma das prioridades na nossa atuação. A questão cultural é onde reside nosso maior desafio, essa cultura de submissão da mulher às vontades do homem”, disse.
E Kátia Abreu, que afirmou que sua gestão será uma “embaixada das causas da mulher brasileira”, deixou um pedido: “Somos a maioria das eleitoras, se temos só 10% das eleitas, somos as primeiras responsáveis”.
Outro quase consenso é sobre a rejeição ao presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro. “Esse candidato é antidemocrático e inimigo das mulheres. Por isso, ele não, ele nunca”, disse Manuela, dessa vez sob aplausos.
Sônia se referiu a ele como “tentativa de domínio do fascismo” e Katia se recusou a falar o nome dele (“o coiso”). Ana Amélia, quando questionada sobre a recente declaração de que não votaria no PT no cenário mais provável de segundo turno – Bolsonaro x Haddad – fugiu do assunto. Só quis enfatizar a confiança de que Alckmin estaria no segundo turno. E que, obviamente, votaria nele. Alckmin tem 8% das intenções de voto, segundo última pesquisa do Ibope.