Política

Campanhas eleitorais do ministro do Turismo têm um cheiro estranho

Antonio tinha 400 mil em dinheiro ao eleger-se deputado em 2018 e contratou marketing de Pernambuco ao tentar Prefeitura mineira em 2016

Foto: José Cruz/Agência Brasil)
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A Polícia Federal investiga o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, para saber se ele criou um laranjal no PSL mineiro na eleição de 2018 e tirou proveito financeiro do esquema. Será que a PF botará lupa na campanha do próprio ministro, eleito deputado federal por Minas Gerais? Houve algo esquisito ali. E a explicação talvez esteja em uma outra esquisitice eleitoral, essa desde 2016.

Ao registrar-se candidato no ano passado, Antonio declarou à Justiça Eleitoral ter 400 mil reais em espécie. Não é incomum um político com dinheiro vivo no patrimônio. Nem foi novidade para o ministro. Nas três vezes em que disputara eleição antes, havia cash em seus bens. Mas nunca tanto.

Em 2012, possuía 83 mil reais ao eleger-se vereador em Belo Horizonte. Em 2014, 80 mil ao concorrer vitoriosamente a deputado federal. Em 2016, 105 mil ao tentar sem sucesso a Prefeitura da capital mineira.

Nas quatro eleições que já disputou, declarou sempre ter apenas mais dois bens, além da grana viva. Um apartamento de 360 mil em Belo Horizonte. E 13 mil em cotas de uma empresa de consultoria em tecnologia da informação, a Voice Líder.

Estaria na disputa de 2016 a explicação para Antonio ter tanto dinheiro em espécie em 2018?

Coloca na conta do marketing

Na campanha a prefeito, ele declarou ter gastado 1,2 milhão de reais. Sua maior despesa foi com a IPP Inteligência, Publicidade e Propaganda, 800 mil reais. Pagou a IPP com verba pública, do fundo partidário. Ele era do PR na época e recebera 1 milhão de reais da direção nacional da legenda, 80% de toda sua arrecadação.

(Foto: José Cruz/ABR)

Marketing costuma ser o item mais caro de uma campanha. O estranho no caso de Antonio foi ele contratar uma empresa de outro estado para ajudá-lo em uma eleição municipal, um tipo de disputa que exige conhecimento da realidade e da política locais. A IPP é de Recife.

CartaCapital perguntou ao ministro por que ele buscou em Pernambuco uma empresa de marketing para sua campanha de prefeito em Minas. Sobre a origem dos 400 mil em espécie que declarou ter em 2018. E o paradeiro desses recursos. Via assessoria, ele respondeu que não iria se pronunciar.

Será que o pagamento à IPP em 2016, de 800 mil reais, de alguma maneira voltou a Antonio? E será que ele guardou a grana para sua candidatura de deputado federal em 2018, outra eleição disputada sem doações empresariais, proibidas desde 2015 pelo Supremo Tribunal Federal (STF)?

O ministro informou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que sua campanha no ano passado arrecadou 598 mil reais. Desde total, ele botou do próprio bolso 383 mil reais. Um valor bem próximo daquele que, ao registrar sua candidatura, havia declarado possuir em espécie: 400 mil.

Quem não se comunica, se trumbica

Na política, é comum ouvir-se que se há uma brecha capaz de viabilizar, digamos, heterodoxias eleitorais, é nos serviços de comunicação.

Duas integrantes do laranjal que teria sido montado por Álvaro Antonio no PSL de Minas em 2018 recorreram a empresas de comunicação que haviam sido contratadas por ele dois anos antes.

Antonio pagou 30 mil à Viu Mídia ao concorrer à Prefeitura em 2016. Milla Fernandes, uma das supostas laranjas de 2018, gastou 17 mil com a mesma empresa no ano passado. Naftali Tamar, outra que seria do laranjal, desembolsou 12 mil.

Na campanha municipal de 2016, o ministro gastou 3,3 mil com Mateus Von Rondon Martins, para este cuidar de suas redes sociais. Milla e Nafatli pagaram 4,9 mil e 9 mil a Martins no ano passado.

Na eleição de 2018, Antonio, Milla e Naftali tiveram mais uma empresa de propaganda em comum, a Bless Comunicação Visual. O trio gastou com a firma 1,7 mil, 22,6 mil e 24 mil, respectivamente.

Nas reportagens sobre o laranjal do PSL mineiro, a Folha diz que candidatas do partido contrataram empresas ligadas a assessores de Antonio. Há gente do ramo comunicacional entre essas firmas. Por exemplo: pertencente a Reginaldo Soares, irmão de um assessor do ministro, Robertinho Soares, a a I9 Minas Assessoria e Comunicação. Milla contratou a I9 no ano passado.

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