Política
Camarão, torta holandesa e poda de árvores: TCU já apontou gastos irregulares da intervenção no Rio
‘Enquanto o policial da UPP não possuía sequer um bebedor adequado, foram adquiridos, pelo Exército, alimentos de luxo’, afirmou a Corte


A Operação Perfídia, deflagrada nesta terça-feira 12 pela Polícia Federal, conta, entre outros elementos, com um relatório do Tribunal de Contas da União sobre desvios de finalidade em gastos do Gabinete da Intervenção Federal na segurança do Rio de Janeiro, em 2018. O chefe do GIF era o general Walter Braga Netto, ex-ministro e ex-candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro.
“Enquanto o policial da UPP não possuía sequer um bebedor adequado, cadeira com estofado ou armário com porta, foram adquiridos, pelo Exército, alimentos de luxo, como camarão, bacalhau e torta holandesa a um custo de R$ 319.549,30“, diz um trecho do documento do TCU.
Nesta terça, a PF lançou uma operação contra fraudes na compra de coletes balísticos pelo Gabinete de Intervenção Federal. Agentes cumpriram 16 mandados de busca e apreensão no Rio, em São Paulo, em Minas Gerais e no Distrito Federal.
Braga Netto não foi alvo de mandado, mas seu sigilo telefônico foi quebrado. Ele é um dos investigados pela PF no caso.
No relatório, o TCU reforça que “chama atenção a utilização de recursos da intervenção para a aquisição de alimentos de luxo, para a realização de obras e reformas em instalações de unidades das Forças Armadas e para a aquisição de bens e serviços cuja necessidade independia da intervenção”.
Confira alguns dos alimentos de luxo mencionados pelo tribunal:
O TCU também cita 14 milhões de reais empenhados para comprar drones Hermes 900. “Desse valor, R$ 6,9 milhões corresponderam a serviços que sequer foram entregues no ano de 2018 (período da intervenção), ou seja, esses serviços milionários entregues em 2019 não foram utilizados para melhorar a segurança pública do estado do Rio de Janeiro, mas para equipar as Forças Armadas com vistas à realização de atividades após o período da intervenção”, diz o relatório.
Outro exemplo é o pagamento de 256,7 mil reais por 137 câmeras GoPro. Segundo a Corte, “não houve tempo hábil para distribuição e utilização pelas tropas durante a intervenção”.
Há ainda 361,9 mil reais destinados a “poda de arvores, com limpeza de galhos secos”. Esse item aparece na seção de “contratos, com vigência no ano de 2019 e seguintes, suportados por recursos de TEDs provenientes da ação orçamentária da Intervenção Federal”.
Em nota divulgada nesta terça, Braga Netto afirmou que os contratos celebrados pelo Gabinete de Intervenção Federal seguiram “todos os trâmites legais previstos na lei brasileira”.
Sobre os coletes, ele declarou que a suspensão do contrato partiu do próprio GIF, após avaliar supostas irregularidades nos documentos fornecidos pela empresa CTU Security.
“Isto posto, os coletes não foram adquiridos ou tampouco entregues. Não houve, portanto, qualquer repasse de recursos à empresa ou irregularidade por parte da administração pública. O empenho foi cancelado e o valor total mais a variação cambial foram devolvidos aos cofres do Tesouro Nacional”, argumentou o militar.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.