Educação

Câmara Municipal do Recife aprova ‘intervalo bíblico’ nas escolas

O projeto, que segue para sanção do prefeito João Campos (PSB), foi alvo de críticas de parlamentares por prever apenas mobilização em torno da fé cristã

Câmara Municipal do Recife aprova ‘intervalo bíblico’ nas escolas
Câmara Municipal do Recife aprova ‘intervalo bíblico’ nas escolas
Câmara Municipal de Recife. Créditos: Divulgação
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A Câmara Municipal do Recife aprovou, na terça-feira 2, um projeto de lei que institui ‘intervalo bíblico’ nas escolas públicas e privadas do município.

A proposta prevê que alunos cristãos podem se reunir para “professar sua fé” no chamado “momento de encontro religioso” nos intervalos escolares.

O Projeto de Lei nº 205/2024, de autoria do vereador Luiz Eustáquio (PSB), foi aprovado em duas votações. Na primeira, a matéria recebeu 22 votos a favor e três contrários. Na terça-feira 2, a aprovação foi referendada em votação simbólica. O texto segue agora para avaliação do prefeito João Campos (PSB), que pode sancionar ou vetar a proposta.

O vereador alega se tratar de um projeto de combate à intolerância religiosa nas escolas. O argumento, no entanto, foi questionado por colegas de Câmara, uma vez que o texto final proposto pelo vereador subtraiu um artigo que previa que as escolas teriam de desenvolver “atividades extracurriculares ou complementares sobre o respeito à liberdade individual de crença e de culto”.

No texto enviado aos colegas, o vereador Eustáquio citou apenas que tais atividades deveriam contemplar “referências dos povos indígenas” e “a tradição judaico-cristã”, ignorando, por exemplo, as religiões de matriz africana.

Durante a segunda votação, a vereadora Cida Pedrosa (PCdoB), que votou contra o projeto ao lado das vereadoras Kari Santos (PT) e Jô Cavalcanti (PSOL), argumentou que a proposta contempla apenas o direito da reunião no intervalo bíblico aos cristãos.

“Acho que a liberdade ao culto é absolutamente necessária. Essa lei passou a ter um problema quando o artigo segundo dela foi retirado. No Artigo 2º, dizia que se garantia a liberdade inter-religiosa, ou seja, quando se fala essa palavra, se fala das religiões evangélicas, pentecostais, igreja católica, as religiões de matriz africana, chechenos, ou seja, budista, todas as religiões estariam garantidas”, afirmou.

O vereador Eustáquio, autor da proposta, sustentou que a medida garante o direito para todas as pessoas religiosas, mas reconheceu que a criação do projeto foi motivada a partir dos cultos evangélicos.

Durante a tramitação do projeto, o Ministério Público de Pernambuco chegou a abrir um inquérito diante uma denúncia protocolada pelo Sindicato dos Trabalhadores e das Trabalhadoras em Educação de Pernambuco (Sintepe) sobre casos de pregação evangélica dentro das escolas. O órgão, no entanto, decidiu pelo arquivamento do caso, após afirmar ter ouvido representantes de diversos segmentos sociais e a Secretaria Estadual de Educação.

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