Política

Bruno e Dom não foram os primeiros, e acho que não serão os últimos, diz Alexandre Saraiva

‘Temos uma lista grande de servidores e lideranças sujeitos a um ataque’, declarou o ex-superintendente da PF em entrevista a CartaCapital

Alexandre Saraiva, ex-superintendente da Polícia Federal do Amazonas. Foto: Reprodução
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O ex-superintendente da Polícia Federal do Amazonas Alexandre Saraiva disse que há muitos servidores e lideranças sujeitos a um ataque na Amazônia, tomada por exploradores ilegais. E que o descaso do governo federal pode colaborar para o aumento dos casos de desaparecimentos e assassinatos.

A declaração ocorreu após a notícia de que dois irmãos, Amarildo e Oseney da Costa Oliveira, confessaram à Polícia Federal o envolvimento no assassinato do jornalista britânico Dom Philips e do indigenista Bruno Pereira, desaparecidos na região do Vale do Javari em 5 de junho.

“Nós temos hoje uma lista grande de servidores e lideranças que estão sujeitos a serem vítimas de um ataque”, afirmou Saraiva ao Fechamento, programa de CartaCapital no YouTube, nesta quarta-feira 15. “Todas as condições para isso acontecer continuam lá. Bruno e Dom não foram os primeiros, e, é terrível, mas eu acho que não serão os últimos.”

O ex-superintendente da PF relatou um processo de aparelhamento das instituições durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) que teria resultado no incentivo ao desmatamento e à perseguição de servidores e lideranças.

Saraiva cobrou uma revisão na atuação das Forças Armadas para melhorar a fiscalização e o combate ao crime organizado, em operações de inteligência que, segundo ele, são possíveis a partir da tecnologia e a expertise que o Brasil já possui.

Além disso, o delegado disse que a União Europeia, um dos principais destinos da exportação ilegal de riquezas naturais da Amazônia, como a madeira, deveria aplicar medidas para descapitalizar o crime organizado que atua na região.

Para ele, o regulamento europeu é “extremamente permissivo” sobre a importação de madeira, uma vez que o item é tratado como insumo para a produção de móveis. A obtenção da madeira ocorre por meio de preços muito baixos, afirma, porque ela é retirada de terras da União a custo zero, sem pagamento de energia elétrica e com trabalho escravo.

“Existe uma grande hipocrisia por parte dos países europeus no que diz respeito à proteção da Amazônia”, disse Saraiva a CartaCapital. “É muito conveniente esse discurso desacompanhado de medidas para descapitalizar a organização criminosa. Uma das formas de fazer isso é proibindo a compra da madeira da Amazônia.”

Outra possibilidade, segundo Saraiva, seria avançar na rastreabilidade do ouro, já que há diferenças químicas a depender do estado de onde o minério é extraído.

Saraiva destacou os baixos indicadores sociais nas regiões onde há exploração ilegal de madeira, mas disse ter observado, durante visitações, a importância da proteção que os povos indígenas oferecem à floresta.

Ele citou, por exemplo, o fechamento de estradas imposto por determinadas comunidades, sem pagamento de pedágio, como forma de fiscalização paralela para suprir a ausência do Estado. A frequência no Norte e no Nordeste é de poucos servidores para áreas de preservação ambiental muito grandes, o que impossibilita a vigilância e aumenta os riscos de vida para esses trabalhadores.

“Os indígenas incomodam esses criminosos”, comentou Saraiva.

Confira a entrevista na íntegra:

 

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