Política

Brasil vive dia de protestos massivos contra Dilma

PM estimou 1,4 milhão de manifestantes em mais de 70 cidades brasileiras, mas número de manifestantes em São Paulo pode ter sido sobrevalorizado. Governo promete pacote anticorrupção

O Datafolha estimou um público de 210 mil na avenida Paulista, inferior ao da Diretas-Já, que reuniu cerca de 400 mil na Praça da Sé em 1984
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Apesar da divergência nas estimativas, o Brasil viveu um dia de protestos massivos. Segundo a Polícia Militar, os atos contra o governo de Dilma Rousseff (PT) e a corrupção reuniram 1,4 milhão de pessoas em 16 estados e o Distrito Federal. Somente em São Paulo, a PM estimou um público de 1 milhão às 15h40. Os números das autoridades podem estar sobrevalorizados. O Datafolha estimou um público de 210 mil na avenida Paulista, que seria o maior na cidade desde o das Diretas-Já, quando cerca de 400 mil se reuniram na Praça da Sé em 1984. Em resposta às manifestações, o governo federal anunciou que irá apresentar um pacote de medidas contra a corrupção nos próximos dias.

Os atos ocorreram em mais de 70 cidades brasileiras. Os protestos, convocados pela internet e pelo Whatsapp, foram encabeçados pelos movimentos Vem Pra Rua, Movimento Brasil Livre e Revoltados Online, grupos que se dizem apartidários e se caracterizam pela pauta anti-corrupção — no caso dos dois últimos, defendem o impeachment de Dilma.

Cartazes com pedidos por intervenção militar no País multiplicaram-se nos atos, embora a maioria dos manifestantes não defendesse a medida. Na avenida Paulista, dois dos caminhões de som envolvidos no ato pediram explicitamente um golpe de Estado para remover o PT e Dilma do poder. Os veículos eram dos grupos S.O.S Forças Armadas e Movimento Alô Brasil, Acorda. Do alto de um dos carros, um ativista comemorou. “1964 está mais vivo do que nunca”. Também estiveram presentes no protesto na Paulista organizações de extrema-direita. Vinte integrantes do grupo de skinheads “Carecas do Subúrbio” foram conduzidos ao 2º D.P. por porte de explosivos.

Apesar de serem maioria nas ruas, a manifestação na capital paulista não se resumiu às classes média e alta. CartaCapital entrevistou trabalhadores de baixa renda descontentes com a corrupção e a situação econômica do País. Durante uma entrevista com uma das lideranças do Movimento Brasil Livre, nossa equipe de reportagem sofreu ofensas de um grupo de manifestantes e teve de ser escoltada para sair com segurança do local (assista ao vídeo no final da reportagem).

O protesto na capital paulista foi precedido por diversos atos em cidades interioranas e do litoral do estado. Em Ribeirão, 40 mil pessoas foram às ruas, de acordo com as autoridades. Em Santos, a PM estimou a presença de 10 mil na Praça da Independência. Em Campinas, foram registrados 15 mil manifestantes.

Em Brasília, o número de manifestantes surpreendeu os organizadores. A Polícia Militar estimou cerca de 50 mil protestantes na Esplanada dos Ministérios. O gramado em frente ao Congresso Nacional ficou praticamente tomado na parte da manhã. Os manifestantes jogaram 3 mil flores no espelho d’água em frente ao Parlamento. A manifestação foi conduzida por três carros de som e dispersou-se por volta das 13h. A capital federal vive uma crise dupla: além do descontentamento com o governo federal, nítido na expressiva vitória de Aécio Neves no Distrito Federal nas eleições de 2014, o PT local está desacreditado. O ex-governador petista Agnelo Queiroz deixou um rombo bilionário nos cofres públicos após sair do cargo no ano passado.

No Rio de Janeiro, a PM estimou que 15 mil estiveram presentes ao ato na avenida Atlântica, em Copacabana. O tucano Aécio Neves, que estava em seu apartamento em Ipanema, não marchou com os manifestantes, mas vestiu uma camisa da Seleção Brasileira e acenou de sua janela, com um dos filhos gêmeos no colo. “Depois de refletir muito, eu optei por não estar nas ruas neste domingo, para deixar muito claro quem é o grande protagonista destas manifestações”, afirmou o tucano, em sua conta no Facebook. “Ele é o povo brasileiro, o povo cansado de tantos desmandos, de tanta corrupção. Mas, por isso, não vamos nos dispersar!”

Durante o ato em Copacabana, houve uma briga entre manifestantes e um senhor que usava uma camisa vermelha do Movimento Nacional de Luta Pela Moradia. Aos gritos de “Vai para Cuba”, o homem decidiu retirar a camisa. Além das faixas a pedir intervenção militar e o impeachment da presidenta, o STF também foi alvo de protestos dos cariocas. Manifestantes ostentavam em Copacabana uma faixa com os dizeres “Fora Supremo, Fora Dilma. Queremos apenas o Ministério Público e a Polícia Federal”.

O bom senso surgiu de um local inesperado. O trineto de Dom Pedro II, dom João de Orleãs e Bragança, participou do ato no Rio, mas se disse contra o impeachment. “A presidente ganhou as eleições legitimamente”, afirmou. Na parte da tarde, cerca de 2 mil pessoas se reuniram na Candelária, centro da cidade.

Em Belo Horizonte, o protesto reuniu 24 mil pessoas na Praça da liberdade, segundo a Polícia Militar. Embora tenha ganho a eleição em Minas Gerais, o PT perdeu a disputa presidencial em Belo Horizonte para Aécio Neves, ex-governador do estado. Massivo pela manhã, o protesto fragmentou-se na parte da tarde.

Na região Sul do País, os protestos foram relevantes. Em Curitiba, 80 mil foram às ruas protestar contra o governo federal, segundo as autoridades. Em Porto Alegre, a PM estimou que 100 mil participaram do protesto no Parcão. No Nordeste e no Norte, que votaram em peso em Dilma Rousseff nas eleições de 2014, a presença do público foi mais tímida. A maior parte dos atos concentrou-se na parte da manhã. Em Salvador, apenas 2 mil foram ao protesto no Farol da Barra. Em Recife, 8 mil foram às ruas, segundo a Polícia Militar.

Os ministros José Eduardo Cardozo, da Defesa, e Miguel Rossetto, secretário-geral da Presidência, foram escalados para anunciar a apresentação nos próximos dias de um pacote de medidas contra a corrupção elaborado pelo governo federal. “Na manifestação de sexta-feira e de hoje, há um ponto de identidade: o desejo dos brasileiros e brasileiras de um combate firme e rigoroso à corrupção”, afirmou Cardozo, que defendeu ainda a necessidade de uma ampla reforma do sistema político-eleitoral e o veto a doações empresariais em campanhas eleitorais.

Rossetto defendeu a necessidade de se ampliar o diálogo com a sociedade sobre os ajustes ficais realizados pelo ministro Joaquim Levy. O ministro citou o diálogo com o Congresso para aprovar o reajuste da tabela do Imposto de Renda de forma escalonada como prova de que é possível negociar com os setores descontentes. Rossetto afirmou ainda que o protesto foi conduzido por aqueles que não votaram em Dilma em 2014.

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