Política

Brasil decide hoje quem será o presidente nos próximos quatro anos

Dilma Rousseff tenta a reeleição e Aécio Neves busca levar o PSDB novamente ao poder após 12 anos. Relembre como foi a campanha

Eleição deste ano pode ficar marcada como uma das mais acirradas desde 1989
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Mais de 142 milhões de pessoas foram às urnas no domingo 26, das 8 às 17 horas, para decidir quem será o presidente até 2018. Os eleitores terão de escolher entre reeleger a presidenta e candidata do PT, Dilma Rousseff, e trazer o PSDB de volta ao poder, após 12 anos, com o candidato Aécio Neves. Apesar da tradicional polarização entre petistas e tucanos, a eleição de 2014 ficará marcada também por outros atores e acontecimentos, como o trágico acidente de avião que matou o ex-governador de Pernambuco e então candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, em 13 de agosto, no meio da campanha eleitoral.

Por outro lado, no aspecto político, ese pleito poderá ser lembrado como um dos mais acirrados desde 1989, dependendo do resultado do segundo turno. Pela primeira vez em 26 anos, um candidato que ficou em segundo lugar no primeiro turno chegou a liderar, mesmo que numericamente, as pesquisas de intenção de voto no segundo turno, como aconteceu na semana passada com Aécio Neves. O tucano alcançou 51% dos votos válidos contra 49% de Dilma. Mas a petista reverteu o favoritismo a seis dias da eleição e o quadro segue indefinido.

Quem se depara com esse cenário pode ter dificuldade em acreditar que a disputa começou de maneira tranquila para a candidata do PT. Ainda em fevereiro, segundo pesquisa do Datafolha, Dilma tinha 44% das intenções de voto contra 16% do candidato tucano e apenas 9% de Eduardo Campos. Durante algum tempo, os institutos identificaram a possibilidade de Dilma ganhar a eleição até mesmo no primeiro turno. Ex-governador de Minas Gerais, Aécio era desconhecido de boa parte da população e começou a subir à medida em que a campanha eleitoral esquentou.

Tanto que, em aproximadamente quatro meses, Dilma caiu de 44% para 34% no início de junho, enquanto o tucano subiu de 16% para 19% no mesmo período. A subida tímida teve ainda de lidar com denúncias que começaram a surgir contra o tucano. No fim de julho, Aécio foi bombardeado com a informação de que havia construído, enquanto governador de Minas Gerais, um aeroporto no terreno do próprio tio na cidade de Cláudio (MG).

Já Eduardo Campos tinha dificuldade para crescer. Em abril, ele conseguiu o apoio da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que virou vice em sua chapa. Como ela não conseguiu registrar seu partido, a Rede Sustentabilidade, a tempo de disputar as eleições, Marina filiou-se ao PSB e começou a fazer campanha com Campos.

Mas o apoio não surtiu efeito para o ex-ministro de Lula na fase preliminar da campanha. De fevereiro a junho, ele caiu de 9% para 7% e viu até o então candidato do PSC, Pastor Everaldo, encostar. O líder religioso, àquela altura, chegou a 6% da preferência, tecnicamente empatado com Campos. A eleição mudou drasticamente quando o candidato foi vítima de um acidente de avião e morreu, aos 49 anos. No dia 13 de agosto, Eduardo Campos estava em um jatinho que caiu em Santos, litoral sul de São Paulo. A viagem era parte das atividades de campanha.

Quase um mês após a morte do candidato, o PSB oficializou a escolha da vice para substituí-lo e o impacto foi imediato. Na primeira pesquisa que incluiu a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina largou já com 21% da preferência do eleitorado, à frente de Aécio, então com 20% das intenções de voto. Em pouco mais de 15 dias, ela saltou de 21% para 34%, momento em que chegou a empatar com a candidata petista. Ao mesmo tempo, Aécio desceu de 20% para 14%.

Mas, desde o primeiro instante, apesar do crescimento exponencial, Marina teve de lidar com “incêndios” e polêmicas na campanha e dentro do próprio partido. Assim que ela assumiu os rumos da campanha, o coordenador de campanha de Campos, Carlos Siqueira, rompeu com a candidata e abandonou os trabalhos. Aos gritos, Siqueira alegou divergências e fez duras críticas à recém-filiada ao partido. Depois foi a vez do pastor Malafaia atrapalhar a consolidação da imagem da ex-senadora. O líder religioso posicionou-se contra a candidata pelo fato de o programa de governo dela incluir propostas como casamento gay e criminalização da homofobia. Marina recuou e disse que as ideias entraram no texto por “erro de diagramação”. Foi o suficiente para que ela fosse tratada pelos adversários como a candidata que muda de opinião facilmente.

Essas polêmicas, combinadas aos ataques de PT e PSDB, desconstruíram a candidatura às vésperas do primeiro turno. Petistas acusavam Marina Silva de ser ligada aos banqueiros, por propor a independência do Banco Central e ter entre os membros da campanha a educadora e empresária Neca Setubal, filha do dono do Banco Itaú. Já o PSDB, que havia perdido boa parte de seus eleitores para a adversária, tentava atrelar Marina Silva ao PT e ao escândalo do “mensalão”, pois ela era filiada ao partido na época que o esquema veio a público.

Tudo isso fez com que Marina despencasse dos 34% para 21% um dia antes da realização das eleições. E confirmando o que as pesquisas já começavam a mostrar, Aécio recuperou o segundo lugar. Ao final da apuração em 5 de outubro, Dilma ficou com 41% contra 33% do tucano e apenas 21% da ex-ministra. Em meio ao resultado e o clima de euforia por partido dos tucanos, Dilma foi bombardeada pela denúncia de que o tesoureiro do PT, João Vaccari, havia recebido propina do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. O assunto se tornou o mote da campanha do tucano e ele apareceu na frente da petista na primeira pesquisa do segundo turno.

Em uma semana, como resposta, a campanha do PT trouxe indícios de má gestão do tucano à frente do governo de Minas Gerais e denúncias de nepotismo, já que a irmã de Aécio Neves teria sido contrato pelo próprio governador para gerenciar as verbas que eram destinadas às emissoras de rádio do estado, incluindo aquelas que estão em poder da família do tucano. Os ataques de ambos os lados culminaram ainda em um debate de baixo nível no SBT, na segunda semana de campanha do segundo turno. A situação fez até com que as campanhas aceitassem acordo, junto ao Tribunal Superior Eleitoral, de evitar ataques e privilegiar propostas nas propagandas eleitorais. Apesar da intervenção da Justiça Eleitoral, parece claro que uma das vitoriosas da eleição de 2014 é a campanha de desconstrução do adversário.

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